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Na contramão das quatro rodas, mercado de motocicletas anda a mil

Neste ano, o principal veículo que será adquirido pelos consumidores brasileiros será uma motocicleta
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros leitores, digníssimas leitoras,

Acreditamos que os dois principais sonhos de consumo do brasileiro médio são a tão aclamada casa própria e o carro próprio.

No setor automotivo, temos uma indústria que movimenta algumas centenas de bilhões de reais e emprega mais algumas centenas de milhares de pessoas.

Tanto que existe uma grande quantidade de benesses que os governos (sejam federal, estaduais ou municipais) sempre dão para os fabricantes de veículos de quatro rodas, nem sempre com a obrigatoriedade de qualquer tipo de contrapartida.

Basta ver o último incentivo federal: quando ele mal começou, já acabou!

Pois bem. Apesar da importância que as montadoras de automóveis têm para o país, eis que, neste ano, o principal veículo que será adquirido pelos consumidores brasileiros será uma motocicleta!

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Sim, caros leitores. Assim como Vital, muitos brasileiros estão comprando sua motocicleta, se sentindo total e realizando o seu sonho de metal! (Se você é muito novo para entender a referência, veja aqui).

O que a gente analisou?

Pegamos as vendas de motocicletas e comparamos elas com as de automóveis. Mas aqui, só automóveis. A gente não considerou os comerciais leves, que são, como o nome diz, veículos comerciais e de cargas, como esses exemplos:

 

Feitas as devidas exclusões de todos os comerciais leves, o que encontramos?

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Já neste ano, as vendas de motocicletas estavam sendo bem superiores às de automóveis. Se a gente desconsiderar as vendas de junho, que foram infladas pelo subsídio do governo federal, as vendas de motocicletas estavam 7% acima das de automóveis.

Mesmo assim, com a ajuda do governo, neste primeiro semestre as vendas de motocicletas e automóveis ficaram “pau-a-pau”:

Mas o que vem acontecendo para termos essa reviravolta?

Vários fatores! Vamos elencá-los:

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O processo pandêmico de 2020, além das vidas ceifadas, veio para mudar todo o status quo dos processos produtivos, em todos os setores da economia.

Na questão dos automóveis, devido à grande quantidade de tecnologia embarcada, tivemos a “crise dos chips”, que afetou (e encareceu) as mais diversas indústrias.

O ponto aqui é que as vendas de automóveis, que estavam numa média de 180~185 mil carros/mês antes da pandemia, caíram para um volume de 130~135 mil carros/mês e assim ficou nos últimos três anos.

O ponto é que os preços dos carros dispararam, o crédito sumiu, a economia estagnou e o índice de confiança do consumidor vem caindo mais que o Vasco – a situação é “bem complexa” para os próximos anos. Existe um prognostico de evolução nas vendas, mas ainda demorará uns 2-3 anos para voltar a média de 180~185 mil automóveis/mês.

Já no mercado de motocicletas aconteceu o inverso.

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A pandemia também pegou o pessoal das motos. Mas, diferente do pessoal de quatro rodas, o mercado de duas rodas não estacionou no fundo do poço: ao contrário, as vendas explodiram!

Elas saíram de um volume médio de 90 mil motos/mês antes da pandemia, caíram para 70 mil/motos mês no ano pandêmico e agora estão com volume médio na ordem de 135 mil motos/mês.

Outro ponto que fez este “estagiário agoureiro” ficar mais otimista com o setor é que, diferente do mercado de autos, que vem andando de lado nos últimos 2-3 anos e andará por mais 1-2 anos, o de motocicletas se encontra em franca expansão.

O mercado de motos fechará o ano com quase 1,6 milhão de motos comercializadas. O pico de vendas foi em 2011, com 1,94 milhões de motos vendidas. A tendência é de chegar (e ultrapassar) o pico de vendas num período de 3-4 anos (salvo que aconteçam processos pandêmicos, hecatombes nucleares e afins).

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O lado “positivo” da pandemia é que muitos consumidores foram atrás do seu meio de transporte individual para fugir de ônibu,s, metrô ou trem, além da economia de tempo.

Além disso, da mesma forma que a economia vem se retraindo/andando de lado, novas fontes de trabalho (necessidade) surgiram, principalmente na parte de delivery.

E se o crédito é um problema para automóveis, nas motocicletas também! Mas a diferença é que mais de 1/3 dos clientes de motos optaram por adquirir a sua moto pelo Sistema de Consórcio (adorado por vários e odiado por muitos) que, independentemente da minha/sua opinião, funciona bem pra caramba para o setor!

Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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