Ações de 9 elétricas são consideradas “baratas”; quais as melhores para garantir dividendos no futuro?

Engie é uma das queridinhas dos analistas; veja as mais recomendadas e que podem entregar bons proventos no longo prazo

Katherine Rivas

A volatilidade na Bolsa brasileira e a fuga dos investidores para a renda fixa colocou em evidência as ações do setor elétrico – visto como um refúgio em tempos de incerteza político-macroeconômica. Desde fevereiro, papéis de elétricas dominam as carteiras de dividendos recomendadas por analistas.

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Agentes de mercado não cansam de reforçar “as elétricas estão baratas” – mas a avaliação se aplica a todas? Quais realmente valem a pena para quem busca ganhar com dividendos?

Um levantamento de Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Ivest Consultoria de Investimentos, feito a pedido do InfoMoney, indica que as ações de nove dentre 15 empresas do setor elétrico podem ser consideradas “baratas”. Foram consideradas apenas os papéis com volume médio diário de negociação de R$ 10 milhões ou mais.

Sobreira considerou o preço sobre o lucro – múltiplo conhecido como P/L – para identificar quais ações estão descontadas atualmente, comparando o indicador médio dos últimos cinco anos com o projetado para 2023. O papel foi considerado “barato” quando o P/L projetado era inferior à média histórica.

O analista calculou ainda o poder de lucro da empresa, que indica sua capacidade de pagar dividendos caso optasse por distribuir 100% do lucro neste ano. Para quem busca retornos com proventos acima da renda fixa, Sobreira apontou ainda preço máximo de compra para garantir um dividend yield (taxa de retorno com dividendos) acima de 13,75% ao ano, patamar atual da Selic.

Dados da plataforma TradeMap também mostram o dividend yield das empresa nos últimos 12 meses. Veja os detalhes na tabela abaixo:

Ação P/L médio dos últimos 5 anos P/L projetado para 2023 Situação Dividend yield nos últimos 12 meses Poder de lucro para 2023 Preço Máximo de compra para obter dividend yield de 13,75% ao ano
Taesa (TAEE11) 7,48          6,75 barato 13,96% 14,81%   R$ 36,57
Cemig (CMIG4) 6,92          5,71 barato 12,34% 17,51%   R$ 15,12
Copel  (CPLE6) 7,95        15,99 caro 11,90% 6,25%  R$ 3,26
EDP Brasil (ENBR3) 8,35        11,82 caro 5,23% 8,46% R$ 13,69
CPFL Energia (CPFE3) 10,16          6,86 barato 9,58% 14,59%  R$ 34,81
Neoenergia (NEOE3) 6,35          3,34 barato 5,38% 29,96%  R$32,78
Engie (EGIE3) 15,16        10,99 barato 5,02% 9,10%  R$ 26,36
Energisa (ENGI11) 13,17          7,00 barato 4,08% 14,28%  R$ 43,52
Isa Cteep (TRPL4) 6,27          5,60 barato 3,98% 17,86%  R$ 28,70
Alupar (ALUP11) 9,76          7,35 barato 4,47% 13,60%  R$ 27,33
Equatorial (EQTL3) 10,24        10,74 caro 2,48% 9,31%  R$ 18,81
Eletrobras (ELET3) 8,58        20,47 caro 1,72% 4,89%  R$ 11,83
AES Brasil (AESB3) 20,22        40,20 caro 0,93% 2,49%  R$ 1,82
Auren (AURE3) 67,56          5,60 barato 0,62% 17,85%  R$ 19,42
Eneva (ENEV3) 20,28        38,15 caro 0,00% 2,62% R$ 2,05

Fonte: Fábio Sobreira e TradeMap. O levantamento considera o preço dos ativos em 10/04/23.  P/L = Preço/Lucro

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Qual é o segmento vencedor?

Segundo analistas, quando o assunto é resiliência e proteção do patrimônio frente à inflação, transmissoras, geradoras e distribuidoras são boas alternativas. Contudo, o foco do investimento é no longo prazo, porque as ações podem levar um tempo para se recuperar. Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research, afirma que, no cenário atual, a estratégia deve se voltar aos dividendos, mais do que à valorização das ações.

Nelly Colnaghi, analista da Levante Investimentos, cita que as transmissoras são as mais previsíveis do segmento pela natureza da operação – fecham contratos de longo prazo e remuneração fixa reajustada pela inflação – e pelo histórico de pagar dividendos generosos.

Porém, a analista aponta que em 2023 ocorrerão três leilões de transmissão. Transmissoras como Alupar, Taesa e Isa Cteep vão precisar fazer fortes investimentos se quiserem vencê-los. “Caso sejam realizadas ofertas com deságios muito pronunciados, o resultado poderá ser uma menor distribuição de proventos das empresas vencedoras”, diz Nelly.

Na contramão, “companhias que não se comprometerem com investimentos avantajados poderão ser potenciais nomes para pagamentos significativos de dividendos”, completa.

Para Nigri, o segmento vencedor em 2023 será o de geração. Ele explica que predominaram valores baixos na venda de energia elétrica no chamado mercado spot em 2022. Neste ano, a abundância de chuvas deve reduzir, o que levaria a um aumento dos preços já no segundo semestre, beneficiando as geradoras.

No segmento de distribuição, também há boas oportunidades – mas é preciso cautela. Num cenário econômico adverso, a inadimplência pode afetar as empresas.

Entre os desafios das distribuidoras estão um reajuste menor nos preços, podendo ficar até abaixo da inflação, diz Nigri. Se de fato o preço da energia subir, a margem de distribuição pode ser reduzida, por se tratar de empresas com dívida alta.

Nelly cita ainda que o aumento da geração distribuída (produção próxima ou no próprio local de consumo, como no caso da energia fotovoltaica) provocou a migração de clientes cativos das distribuidoras.

 Há ainda empresas que enfrentam dificuldades específicas e devem ser evitadas, segundo os analistas. Uma delas é a Light (LIGT3) – que atua na geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia. Nesta quarta-feira (12), a empresa conseguiu na Justiça a suspensão do pagamento de parte de suas dívidas por 30 dias, prorrogáveis por mais 30. Apenas nesta semana, a companhia precisaria desembolsar R$ 435 milhões com juros e amortizações de debêntures.

Outro caso é o da Eneva (ENEV3), que atua na geração térmica e que vive um momento de baixa no negócio, porque não houve despacho das suas térmicas em 2022, deixando os contratos menos atrativos e contaminando o preço de longo prazo.

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Quais ações baratas realmente valem a pena?

Das 15 empresas do levantamento, os analistas enxergam Engie Brasil (EGIE3) e Neoenergia (NEOE3) como as melhores oportunidades.

Guilherme Tiglia, sócio da Nord Research, explica que a Engie se foca na geração de energia hídrica, mas está investindo em eólica e solar para mitigar o risco hidrológico. A companhia também está diversificando o seu portfólio no segmento de transmissão e atua na comercialização de energia no mercado livre com geração fotovoltaica, além do transporte de gás.

Entre os pontos fortes da empresa, Tiglia destaca a diversificação do negócio; o arremate de projetos de transmissão em leilões futuros, que devem proporcionar maior previsibilidade de caixa e até mudar a política de distribuição de dividendos; além de oportunidades na comercialização de energia.

Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest, cita a diretoria – confiável e focada em resultados – como um diferencial da empresa. Outro ponto positivo é a evolução dos dividendos na última década. “Houve uma tendência de crescimento na geração de valor ao acionista”, diz.

Nos últimos dez anos, a companhia adotou um payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) de 100% na maior parte das vezes. A política de dividendos da Engie prevê um payout mínimo obrigatório de 30%, mas a administração se comprometeu a pagar ao menos 55% do lucro quando houver condições financeiras. A empresa precisa fazer duas distribuições ao ano, mas chegou a três no passado.

Em relação aos riscos, Biz acredita que uma nova crise hidrológica poderia gerar volatilidade nos preços de energia, enquanto juros elevados por mais tempo poderiam afetar a empresa, que tem alavancagem elevada.

Já Tiglia enxerga como riscos a maior concorrência nos leilões de transmissão, dificultando o arremate de projetos com taxas atrativas de retorno, o investimento elevado na construção de projetos e os preços de energia de longo prazo abaixo do esperado.

O analista calcula um dividend yield de 8,4% em 2023 para Engie e sugere preço-teto de compra de R$ 45. Para Biz, o retorno em dividendos deve ser de 9,5% neste ano e 9% no próximo. Ele acredita que, para ter uma margem de segurança, é aconselhável comprar Engie até os R$ 40.

A Neoenergia (NEOE3), por outro lado, é principalmente uma distribuidora, mas conta com áreas de transmissão e geração.

A companhia chegou à Bolsa em 2019, após um desinvestimento do Banco do Brasil na empresa, e enfrentou dificuldades operacionais nos anos seguintes.

Segundo Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, o problema ocorreu porque a Neoenergia ultrapassou os limites regulatórios de duração e frequência de interrupção nas suas linhas de transmissão, sendo penalizada com a queda das receitas. Situação que vem se corrigindo nos últimos trimestres, destaca o analista.

Nigri, da Dica de Hoje Research, comenta que a Neoenergia ainda teve de lidar com a redução do consumo de energia no último ano, o que afetou o resultado final e elevou o endividamento.

“Se não fosse isso, não estaria tão barata. Mas acreditamos que continuará crescendo e se beneficiará com os reajustes nos preços de energia”, diz Nigri. “Esses eventos minaram a confiança na ação e muitos investidores preferem outras distribuidoras, mas o desconto é muito grande”, concorda Paletta.

Nigri afirma que a companhia está trabalhando para aumentar a eficiência, reduzindo perdas e melhorando a relação entre a energia distribuída e a injetada no sistema. Ele também elogia o crescimento das áreas de transmissão e geração, que vão fortalecer a receita.

Para Paletta, a companhia deve oferecer bons dividendos e tem potencial de valorização acima de 25% neste ano. A projeção de dividend yield é de 7%, com preço-teto de compra de R$ 17. Já Nigri calcula uma taxa de retorno de 5,5% a 7% neste ano, equivalente a dividendos por ação de R$ 0,85 a R$ 0,95.

Além de Engie e Neoenergia, os analistas ainda atentam para Alupar (ALUP11), Isa Cteep (TRPL4), Taesa (TAEE11) e AES Brasil (AESB3).

Ação Dividend yield projetado para 2023 Preço-teto Quem recomenda?
Engie (EGIE3) 8,4% a 9,5% R$ 40 a R$ 45 GuiaInvest e Nord Research
Neoenergia (NEOE3) 5,5% a 7% R$ 17 Dica de Hoje Research e Monett
Alupar (ALUP11) 6% R$ 30 Monett
Taesa (TAEE11) 8% a 11% R$ 32 GuiaInvest e Dica de Hoje Research
Isa Cteep (TRPL4) 8,4% R$  37 Nord Research
AES Brasil (AESB3) 7% a 8% Dica de Hoje Research

Taesa ainda vale a pena?

Investidores focados em dividendos tomaram um susto recentemente com a Taesa, uma das “queridinhas” para renda passiva. A notícia de que a empresa pretendia levantar entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões em uma oferta de ações entre abril e maio pegou alguns de surpresa.

A companhia chegou a afirmar que não tomou nenhuma decisão formal sobre uma oferta, mas avalia oportunidades de financiamento e otimização da estrutura de capital.

Para alguns agentes de mercado, a possível oferta causou estranhamento, já que veio à tona logo após o anúncio de uma distribuição de dividendos pela empresa. Quem questiona a operação viu uma incoerência entre a Taesa usar parte do caixa para pagar proventos, e na sequência realizar uma captação para reforçar o caixa novamente.

Biz acredita que seria razoável a Taesa captar recursos para participar de forma ativa nos leilões de linhas de transmissão, para não sentir a queda de receita com o vencimento de concessões previsto para 2030 a 2032.

Para ele, a companhia fez bem fixar um payout de 85% em resultados anteriores, principalmente pela questão fiscal. “Se de fato ela for captar recursos no mercado, não é interessante que o preço da ação caia muito. Se não pagasse 85% do lucro agora, o dividend yield ia cair, e o preço das ações também”, pondera.

Biz lembra que a companhia tem um payout mínimo de 50%, mas há possibilidade de redução dos dividendos nos próximos trimestres para desalavancar a empresa.

De toda forma, ele recomenda a compra da ação, com preço-teto de R$ 32, e projeta dividend yield próximo a 8%. Caso a companhia reduza o payout para 50%, o retorno com dividendos será de até 6%.

Para Nigri, se a oferta acontecer, o efeito seria a diluição do investidor em 15%. No longo prazo, no entanto, o movimento pode ser positivo porque permitiria investimento em projetos. “Ela pode até pagar menos dividendos, o que já era esperado dada a queda da inflação, mas nada muda no longo prazo”, diz.  Ele espera dividendos de R$ 3,80 a R$ 4 neste ano, equivalentes a 10,5% a 11%.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.