Tokenização e RWA: onde cripto e mercado tradicional se unem

As narrativas e direcionamento de DEFI e de TradFi nunca foram tão próximas
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Duas dinâmicas, no mercado cripto e no mercado financeiro tradicional (TradFi), estão ocorrendo e levam ao mesmo destino: uma maior integração entre o mercado cripto e o TradFi. As dinâmicas e movimentos de ativos e tecnologias são muito influenciados pelas narrativas que se constroem em torno de algumas teses e hoje vejo narrativas nos dois mercados, cripto e TradFi, muito similares. Explicarei.

Uma buzzword, ou palavra mais falada hoje no TradFi em relação à tecnologia, logo após “inteligência artificial”, é “tokenização”. Seja nas discussões do Real Digital, onde temos o real tokenizado e títulos públicos tokenizados, ou nas discussões sobre fundos, recebíveis ou até ativos imobiliários, o tema da tokenização está sempre presente. Não há discussão sobre inovação nesse setor que não aborde esse tema pelo menos superficialmente.

Esse movimento não começou agora. Para aqueles que me acompanham na Fintrender, isso vem sendo discutido e trazido há mais de três anos. O mercado financeiro tradicional claramente viu na Blockchain uma forma de ser mais eficiente e está começando a implementar projetos. O movimento está em andamento. E para isso, é importante construir uma infraestrutura de mercado que suporte esse tipo de inovação. E é aqui que podemos nos orgulhar de sermos brasileiros e estarmos impulsionando essa inovação no mundo. O piloto do Real Digital é exatamente para isso, criando uma infraestrutura onde esses tokens possam ser negociados.

Os experimentos com tokenização hoje estão dispersos em relação às redes (infraestruturas), o que dificulta a interoperabilidade e padronização. Um desenvolvimento na rede da Avalanche, por exemplo, tem dificuldades de se comunicar com outro ativo que esteja na rede da Ethereum. Isso é apenas um exemplo de duas redes de Blockchain não-permissionárias que são compatíveis EVM. Agora, imagine quando adicionarmos a isso as redes/infraestruturas do mercado financeiro tradicional. A complexidade aumenta ainda mais. Quando tivermos uma rede única de TradFi que suporte tokens, imagine o que acontecerá. Esse é um dos objetivos do Real Digital.

Bem, se a tokenização no TradFi será a forma de trazer essa tecnologia “cripto” para dentro do mercado financeiro tradicional, do lado cripto há outra narrativa no DEFI que vai no sentido contrário, trazendo o TradFi para o mundo cripto. Essa narrativa é conhecida como RWA (Real World Asset).

O principal expoente dessa narrativa é uma plataforma chamada Ondo.Finance. Ela está trazendo investimentos do TradFi para o mercado cripto. Seu principal produto é um token que representa um ETF de títulos públicos americanos de curtíssimo prazo (iShares Short Treasury Bond ETF – NASDAQ: SHV). O volume desse token ainda é mínimo, cerca de US$ 100 milhões, e o total de RWA registrados pela DefiLlama não passa de US$ 400 milhões. O segundo expoente desse setor é a RealT, que traz para o mercado cripto tokens de imóveis.

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No caso de iniciativas como a Ondo, ela vem para corrigir distorções existentes na ponte entre o DEFI e o TradFi, ou seja, arbitrar as taxas desses dois mercados. Até 2021, havia uma “taxa de juros” para investimentos em stablecoins (USDC e USDT) muito mais alta no cripto do que se conseguia em USD no TradFi. Com o aumento dos juros americanos e a diminuição do volume e das iniciativas em DEFI nos últimos semestres, essa situação se inverteu. Hoje, é possível investir em títulos públicos americanos de curtíssimo prazo com taxas próximas a 4,5% ao ano, enquanto as aplicações em stablecoins via AAVE, Compound, etc., estão rendendo algo entre 2,5% e 3% ao ano. É claro que essa arbitragem não é exata e os dois mercados têm riscos diferentes, mas o que a Ondo faz é permitir que isso seja feito, e cabe a cada agente decidir qual diferencial de risco entre os dois mercados deve ser considerado, seja de 5%, 2% ou 0% ao ano.

Enquanto esses dois mercados funcionarem como dois lagos que não se comunicam, as taxas podem ser muito diferentes entre eles. À medida que encontramos formas de comunicação entre os dois, temos mais liquidez e melhores maneiras de entender as diferenças de risco de cada lado e precificá-las de maneira mais adequada.

Ao observar as discussões que estão ocorrendo em ambos os lados, cripto e TradFi, é incrível como a narrativa e a dinâmica, embora não sejam as mesmas, têm uma meta em comum: tokenizar tudo. Chame isso de tokenização de ativos no TradFi ou RWA no cripto, o objetivo é exatamente o mesmo.

Isso me dá a certeza de que esse é um caminho realmente irreversível. A discussão pode ser relativa ao prazo desse processo, sobre o qual não me arrisco a opinar, mas não em relação à direção que estamos tomando.

A pergunta que surge é qual é o nosso papel nisso tudo. De que lado da ponte estamos? Do lado do TradFi ou do cripto? Participaremos ativamente da construção dessa ponte ou simplesmente esperaremos até que ela esteja pronta para colhermos seus frutos?

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Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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