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Juros em stablecoins: a batalha entre DAI, USDT e USDC

Como a decisão do MakerDao e da Tether entrar no mercado de RWA está mudando as stablecoins
Por  Gustavo Cunha -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A MakerDao é um dos principais protocolos de DEFI, emissor da stablecoin DAI, e tem, desde abril de 2023, feito uma migração de suas reservas de stablecoins para um token representativo de títulos públicos americanos, ou se preferirem um token de RWA (real world asset). Isso tem impactado e muito o volume emitido de stablecoins, mais notadamente da USDC da Circle, sobre a qual, por sinal, tivemos várias indicações na semana passada de que eles planejam fazer um IPO no início de 2024. Mas como isso afeta o mercado de stablecoins? Rumaremos para o cenário que já descrevi aqui de só termos stablecoins que paguem juros implicitamente? Ou um cenário onde a relação entre stablecoins emitidas e transações delas só vá crescer?

Antes de entrarmos nessas questões, vamos aos fatos. Um dos grandes questionamentos dos mais libertários do mundo crypto sobre a atuação da MakerDao vem do fato dessa ter introduzido stablecoins às suas reservas, o que tornou o link entre um protocolo nativo de DEFI e o mercado financeiro tradicional muito grande. Com aproximadamente 40% das reservas de DAI em USDC esse link (e risco) estava presente e, apesar de todos saberem, eram justificados pela maior estabilidade que isso dava ao DAI e assegurava que o protocolo se manteria solvente, executável e funcionaria plenamente mesmo em momentos em que os tokens cripto variassem imensamente de valor.

Bem, em abril, com a quase quebra do Silicon Valley Bank, no qual a Circle detinha um percentual das reservas do USDC, esse último descolou bastante da sua paridade com o dólar durante o fim de semana e, pelo fato da MakerDao ter reservas significativas em USDC, fez com que o DAI também perdesse a paridade. Sinal amarelo acesso, a comunidade da MakerDao começou a se movimentar para tentar encontrar soluções para, ao mesmo tempo, conseguir ter um lastro que fosse menos volátil, mas que não dependesse de alguma outra entidade.

Nesse caminho, uma constatação óbvia foi a de que em vez de deter stablecoins. faria muito mais sentido deter títulos públicos diretamente, ainda mais em um ambiente no qual os juros americanos não estão mais próximos de zero e devem permanecer assim por um bom tempo.

O business de se criar stablecoins, que era um negócio até dois anos atras que tinha uma receita muito pequena e certa dificuldade de se manter em pé do ponto de vista financeiro, a partir do momento que o Fed começou a subir os juros virou um negócio da China. Veja por exemplo a Tether, que hoje tem perto de US$ 85 bilhões de USDT emitidos. O lastro desse USDT está aplicado em sua imensa maioria em títulos públicos americanos, que com juros atuais de 5% a.a., e que geram anualmente uma receita de aproximadamente US$ 4 bilhões. É dinheiro! Com o USDC acontece o mesmo.

Agora lhe pergunto, porque grandes “carregadores” de stablecoins deixariam esse dinheiro todo nas mãos dessas empresas ao invés de se apossar dele? É o que a MakerDao está fazendo.

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Desde abril, a Maker começou a migrar de USDC para RWAs de títulos públicos americanos e é hoje a maior proprietária de RWAs de títulos públicos americanos em cripto. De quanto estamos falando? A Maker hoje detém aproximadamente US$ 3 bilhões em títulos públicos americanos que lhe dão uma receita anual por volta de US$ 750 milhões, representando isso por volta de 80% da receita da Maker atualmente. Acredita? Essa mudança de USDC para RWA da Maker foi o principal fator para uma geração de receita para o protocolo incrível.

Se pegarmos o ranking da Defilhama, os dois maiores detentores de RWAs são o Makerdao e o StUSDT. Ambos muito perto de US$ 3 bilhões. A seguir, o gap é gigante, com a OndoFinance com algo como US$ 200 milhões. Essa possibilidade de se fazer staking de DAI e USDT e receber um pedaço desse lucro gerado pelos RWAs é um dos fatores que explica o aumento do marketcap dessas duas stablecoins. O crescimento dos dois tokens de staking (sDAI e SusdT) tem sido enorme nos últimos meses.

Na contramão, temos a USDC que, nos últimos meses, teve uma queda incrível no seu “marketcap”. Mas, mesmo assim, ela segue sendo a segunda principal stablecoin. Das três, o USDC é o único que não entrou na onda de devolver um pedaço do resultado gerado pelo seu lastro aos usuários por meio de staking da sua stablecoin. Será esse o fator da sua queda? Ou estaria mais atrelado à falta de confiança após o que ocorreu com o Silicon Valley Bank em abril?

Por fim, deixo algumas questões para as quais ainda não tenho resposta: será esse movimento de stablecoins rumo às staked stablecoins (sDai, StUSDT, …) é um estopim do movimento que já comentei aqui, de usarmos moedas com juros implícito e não mais moedas sem juros? Em quanto tempo o movimento desses “staked tokens” vai suplantar o movimento das stablecoins em si? Haverá aqui o mesmo efeito do Eth e StETH? Essas são perguntas que serão respondidas em breve e que acompanharemos por aqui.

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Gustavo Cunha Autor do livro A tokenização do Dinheiro, fundador da Fintrender.com, profissional com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro tradicional, tendo sido diretor do Rabobank no Brasil e mais de oito anos de atuação em inovação (majoritariamente cripto e blockchain)

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