Viver de renda com títulos públicos: confira uma carteira que rende juros (quase) todos os meses

Com uma "arquitetura financeira" que mescla papéis de diferentes tipos e vencimentos, é possível obter juros periódicos caindo na conta; veja simulação

Neide Martingo

(Getty Images)
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Viver de renda, sem precisar trabalhar, é o sonho de muita gente e o objetivo de vários investidores. Estratégias de renda passiva são elaboradas para fazer o dinheiro “trabalhar sozinho”. No mercado financeiro, há quem conquiste isso com uma carteira de ações que pagam dividendos periodicamente. Ou com fundos imobiliários, que distribuem rendimentos todos os meses.

Mas há formas de obter renda passiva e recorrente na segurança da renda fixa? A resposta é sim. E para quem é fã de títulos públicos, fica a dica: é possível montar uma carteira só com esses ativos e ver pingar os rendimentos na conta quase todos os meses.

Os títulos públicos, papéis emitidos pelo governo para captar recursos, com o objetivo de pagar dívidas e financiar projetos, sempre estiveram no radar de quem tem perfil mais conservador. Mas, com as taxas de juros nas alturas, investidores de todos os perfis têm olhado com ainda mais atenção para eles.

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Dentre os títulos públicos negociados no Tesouro Direto ou disponíveis nas mesas das corretoras, alguns depositam os rendimentos acertados na hora da compra apenas no vencimento do papel. Outros, no entanto, fazem pagamentos semestrais de cupons ao longo da existência do papel. É uma vantagem para quem quer ter um fluxo de caixa sem precisar vender o título antes do vencimento. Esses ativos podem agradar quem tem necessidade de renda extra ao longo da aplicação ou para completar a aposentadoria, por exemplo.

É o caso das NTN-Bs, que no Tesouro Direto são apelidadas de Tesouro IPCA+ Com Juros Semestrais. Trata-se de títulos públicos indexados à inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Investindo nesses papéis, a pessoa torna-se credora do governo e, por isso, essas alternativas são consideradas seguras.

As NTN-Bs garantem cupons de juros anuais de 6%, pagos semestralmente, calculados sobre o valor principal, atualizado pelo IPCA. Elas são tributadas de acordo com a tabela regressiva de Imposto de Renda para renda fixa, de acordo com o prazo da aplicação. A alíquota varia de 22,50% (para investimentos mantidos por até seis meses) a 15% (para investimentos mantidos por mais de dois anos).

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Outros títulos públicos que fazem pagamentos periódicos são as NTN-Fs, chamadas no Tesouro Direto de Tesouro Prefixado Com Juros Semestrais. São papéis prefixados, que têm rentabilidade definida no momento da compra – e diferentemente das NTN-Bs, não são corrigidas pela taxa de inflação. Neste caso, o investidor sabe exatamente o valor que irá receber, se ficar com o título até a data de vencimento. O cupom de juros anual é de 10%, também pago semestralmente e calculado sobre o valor principal.

De acordo com Leonardo Fontanezi, coordenador da mesa da renda fixa da XP, é possível montar carteiras mesclando esses dois tipos de títulos públicos – NTN-Bs e NTN-Fs – para receber juros seis vezes por ano.

Fontanezi explica que para fazer essa operação, é importante ficar atento aos vencimentos dos papéis escolhidos. Entre as NTN-Bs emitidas pelo governo, há as que têm vencimento em anos pares (sempre no mês de agosto) e há também as que vencem em anos ímpares (sempre no mês de maio).

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Nas emissões com vencimento em anos pares, os juros semestrais são pagos sempre nos meses de fevereiro e agosto. Já nas emissões que vencem em anos ímpares, os cupons são depositados sempre em maio e novembro.

As NTN-Fs, por sua vez, são sempre emitidas com vencimento em anos ímpares. Os cupons desses papéis são pagos sempre em janeiro e julho.

Assim, mesclando duas NTN-Bs (uma com vencimento em ano par e outra em ano ímpar) com uma NTN-F (com vencimento em ano ímpar) seria possível receber juros em janeiro, fevereiro, maio, julho, agosto e novembro.

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Um caminho pode ser optar por uma NTN-B com vencimento em agosto de 2030, por exemplo, outra para maio de 2035 e uma NTN-F com vencimento em janeiro de 2031.

É importante lembrar que nem todos os papéis estão disponíveis no Tesouro Direto, que oferece uma gama limitada de títulos. Mas nas corretoras e plataformas de investimento é possível comprar títulos públicos negociados fora do Tesouro Direto, com os mais diversos vencimentos.

Se uma pessoa investir R$ 50 mil na NTN-B com vencimento em agosto de 2030 e mais R$ 50 mil na NTN-B com vencimento em maio de 2035, receberia juros de R$ 1.478,15 em fevereiro, maio, agosto e novembro. Com mais R$ 50 mil aplicados na NTN-F com vencimento em janeiro de 2031, seriam outros R$ 2.440,44 em janeiro e julho, mostra simulação feita pela XP.

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“É indicado ao investidor pessoa física começar a aplicar com os títulos públicos, porque há transparência de preço e em como são feitos os cálculos. No próprio Youtube tem vídeos explicando como ganhar dinheiro com esses ativos emitidos pelo governo”, diz Leonardo. Os investidores mais arrojados podem optar pelas NTN-Fs e NTN-Bs, que protegem o investidor da inflação.

@infomoney

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Ganho mensal

O pagamento de juros dos títulos públicos pode ser semestral, mas com uma boa “arquitetura financeira” é possível ter dinheiro na conta quase todo mês. Basta procurar ativos com vencimentos diferentes e se organizar. O indicado é pesquisar no mercado e fazer uma programação própria. Assim, o investidor faz o mercado trabalhar a favor dele, recebendo periodicamente.

“O investidor pode dimensionar a necessidade de investimentos de acordo com o que o título oferece”, ressalta Patricia Palomo, economista e planejadora financeira CFP. “O título público é interessante porque o emissor é considerado o de menor risco de crédito do mercado, que é o Tesouro Nacional, respaldado pelo governo e pode eventualmente se diferenciar pelo indexador, que é a taxa que corrige o título”, completa Patricia.

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Planejamento

Há ainda outra maneira de fazer o rendimento durar o ano inteiro. Planejamento é a palavra de ordem. O investidor recebe a cada seis meses, mas faz um cálculo para usar os recursos de acordo com suas necessidades mensais.

“É possível criar um calendário de juros com títulos que pagam a cada seis meses. O caminho pode ser montar uma carteira e ficar de olho no pagamento. E ser equilibrado na hora de utilizar os recursos”, explica Vinicius Romano, especialista de renda fixa na Suno Research. Ou seja, se a pessoa recebe R$ 12 mil de juros no ano, precisa dividir esse montante por doze para ter dinheiro todo mês. Sendo assim, o rendimento a cada trinta dias será de R$ 1 mil.

Sem bola de neve

Marilia Fontes, economista e sócia-fundadora da Nord Research, lembra que não são todos os títulos públicos pagam juros. Por isso, o investidor que pretende ter essa reserva precisa ficar atento na hora de escolher o ativo.

Mesmo com “direito” ao montante, Marilia indica que o melhor é não mexer nos juros. “O título que oferece juro semestral rende menos do que o ativo que não paga. Com o cálculo de juros compostos, o ganho se acumula, ou seja, são juros sobre juros. Se o investidor ficar resgatando, não terá esse efeito cumulativo, de bola de neve”, detalha a especialista.

Além disso, o Imposto de Renda incide em cada pagamento de juros. E a alíquota descontada é a máxima, de 22,5%.

Desta forma, o dinheiro que não foi desembolsado para pagar imposto ficaria rendendo. Mas, se o investidor precisar dos recursos, não tem jeito.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney