‘Só sei que nada sei’ e o paradigma do Federal Reserve que olha para o passado

Dados confundem sobre o rumo da economia americana e esse é o principal risco para todos nós; porém, existe uma forma de ganhar dinheiro com isso

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

O mercado sempre me lembra da necessidade de exercitar a humildade. A nossa visibilidade é finita, aquilo que não sabemos é infinito – essas duas últimas semanas escancararam essas afirmações.

Você talvez esteja com dificuldade de entender o que acontece com mundo nesse momento, especialmente para os mercados. Isso não te torna especial, eu também sinto essa mesma dor.

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Ao longo desses últimos dias, recebi uma dezena de chamadas e alguns “vamos tomar um café” no escritório, todos os convites com um único objetivo: “Collazo, o que está acontecendo com o mercado?”. Não existe pergunta mais difícil que essa nos dias de hoje, mas como notei que é uma necessidade consensual, resolvi dedicar essa coluna para discorrer sobre o tema.

Bom, vamos dividir essa conversa em duas partes. Aquilo que eu sei e aquilo que eu não tenho a menor ideia.

Eu sei que…

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O risco fiscal não é uma novidade no Brasil, foi inspiração para incertezas ontem, é hoje e será amanhã. Dito isso, eu não consigo entender por que esse assunto se senta à mesa e assusta os brasileiros(as).

Claro que absolutamente tudo pode ficar pior, mas o nosso país é conhecido por andar em volta da boca do vulcão e nunca pular dentro. Me parece que essa história deve continuar daqui para frente.

“O Brasil é um tradable” é uma frase que ecoa nos corredores da Faria Lima e Leblon. O que essa turma quer dizer é que não é possível ficar otimista estruturalmente com o nosso país, os investimentos que se direcionem para uma visão mais construtiva devem ser tratados como táticos e não perenes.

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Na minha opinião, depende da estratégia e dos ativos em questão, mas de maneira geral, não discordo diametralmente dessa leitura. Aliás, essa discussão é redundante, ao menos para mim.

O Brasil é um vagão, os Estados Unidos (EUA) são a locomotiva. Esse sim é o grande risco, essa sim é a grande questão: o que acontecerá com a economia americana daqui em diante?

Os títulos públicos americanos tiveram movimentos consideráveis nessas duas últimas semanas. Aqueles que possuem vencimento em 10 anos, chegaram nas máximas de suas taxas – passaram da barreira dos 4,7% ao ano.

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As bolsas afundaram, o dólar se fortaleceu, esse é o desenho real do jogo. Os juros nos EUA regem os ativos financeiros e seus preços, falamos sobre na última coluna, não gastarei linhas com esse tema aqui.

Isso posto, precisamos nos atentar aos caminhos da economia americana e, como consequência, a condução de política monetária por lá. Aliás, a questão fiscal nos EUA preocupa muito mais do que a nossa, mas essa discussão não está em voga nos dias de hoje, também deixaria esse tema fixado no seu bloco de notas.

Não tenho menor ideia sobre…

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O futuro de curto prazo da economia americana. “Collazo, você não acabou de falar que esse é o principal ponto?” – sim, justamente eu utilizei o termo “dor” para essa dúvida, não é mole essa vida.

Eu não lembro de ter visto ou lido sobre o FED, Banco Central dos EUA, tomar decisões com base em dados passados e não em futuros. É isso que eles querem dizer quando falam que estão “data dependent”, cada reunião vai determinar o próximo passo dos juros por lá – Jerome Powell, presidente do BC americano, e sua equipe, certamente não irão cravar os próximos movimentos com antecedência.

O mercado, por sua vez, começa a discutir como será o pouso da economia americana, que vive um regime de inflação anormal quando comparado com o que foi vivido nos últimos 20 anos. Hard landing, soft landing ou no landing – pouso duro, suave ou sem pouso, é nesse momento que as opiniões se dividem.

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O principal Banco Central do mundo olha para dados passados ao invés de previsões do futuro, uma economia que claramente segue muito forte, tudo isso após o evento “bíblico” que foi a pandemia e suas derivadas econômicas. Na boa, eu não tenho a menor ideia do que vai acontecer.

Tivemos dois dados de CPI, uma das principais medidas de inflação nos EUA, abaixo do esperado. Porém, o Payroll, relatório americano de empregos, veio o dobro do que era esperado pelo mercado.

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Depender desses dados é duro, muito duro. Ditos isso, não acho que você precise vender todos os seus investimentos e se esconder no quarto até essa tempestade passar, até porque sempre teremos neblinas e tempestades.

Mais do que nunca é bom lembrar que não devemos ser heróis, perseguir as provas mais fáceis do mercado são as melhores alternativas. Toda tese de investimento que for complexa demais, nesses momentos é bom ficar de fora e passar bem longe.

Juros reais de 5,9%, encontrados em títulos públicos com vencimentos intermediários, parecem ser interessantes. Empresas de qualidade, com modelos de negócio sólidos, rentabilidades elevadas, eventualmente mais domésticas e menos expostas ao mundo, parecem ser uma boa alternativa.

Fundos imobiliários descontados, com bons imóveis e de portfólios conservadores. Estratégias de investimento alternativas, como fundos de situações especiais, que justamente caminham de forma inerente ao cenário, também merecem o seu tempo de atenção.

Boas empresas estrangeiras, títulos de crédito privado que ainda estão com taxas mais “gordinhas” do que deveriam, e o bom e velho CDI para o seu caixa. São exemplos de provas razoavelmente mais fáceis, que nas devidas proporções conforme seu apetite a risco, fazem muito sentido.

Só sei que nada sei, mas isso não é motivo para deixar de ganhar dinheiro investindo.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney