“O nominal é 4,6 e o real é 2,1!”: na feira do mercado, os juros americanos determinam o preço de tudo

Como funciona o “efeito gravidade” dos juros dos Estados Unidos e as consequências disso nos nossos investimentos

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

Chegamos ao final de mais uma semana agitada nos mercados, e como de praxe nos últimos dois anos, não muito positiva. Assistimos movimentos de “abertura da curva de juros”, tanto aqui no Brasil quanto nos EUA, o que significa que as expectativas do mercado para a taxa de juros no futuro aumentaram.

O valor justo de quase qualquer ativo depende da taxa de juros, especialmente dos “Fed Funds”, a taxa basal da economia americana. É o custo de oportunidade de qualquer investimento, a gravidade dos preços.

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Ao longo dessa semana, por um agregado de razões, os juros futuros nos EUA subiram. O título de 10 anos do tesouro americano está pagando 4,6% aos seus detentores, enquanto as “tips” (títulos de inflação do governo americano) pagam 2,1% ao ano acima da inflação para seus compradores.

Para nós brasileiros, o parágrafo acima pode soar estranho, afinal os títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação pagam o mesmo ou mais que os títulos nominais americanos. Porém, precisamos ajustar ao fato de ser a principal economia do mundo, que transmite muito menos risco aos seus credores do que o Brasil e que, historicamente, não costuma apresentar esse nível de juros em seus títulos.

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Logo, se o juro nominal nos Estados Unidos está em 4,6%, quanto um outro ativo precisa te remunerar ao ano para justificar a tomada de risco? Assim fica mais claro o motivo dessa “função gravidade” dos juros americanos.

O curioso é notar que nem sempre essa força consegue se estabelecer. Mesmo com a abertura nos juros, o S&P 500, principal índice de ações nos Estados Unidos, assistiu seus múltiplos se expandirem. Isso não faz sentido algum, pelo menos na minha cabeça.

O custo de oportunidade (juros) sobe e o retorno gerado pelos lucros de uma empresa em relação ao preço de suas ações (earnings yield) cai. O esperado era o risco de investir em Bolsa aumentar e não diminuir.

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Eu costumo brincar que, desde 2020, é difícil ter clareza de algo. Os preços seguem desprendidos, correlações históricas sendo quebradas, juros elevados nos Estados Unidos rompendo a sequência dos últimos 20 anos – definitivamente não estamos num ambiente comum e fácil de ser digerido.

Quando trazemos para o Brasil, mesmo que o cenário dos Estados Unidos seja muito mais importante para nós do que o nosso noticiário local, dinâmicas do mercado também estão diferentes. O fluxo de capital foi devastador, saindo de fundos de ações e multimercados, correndo para os braços da renda fixa bancária isenta.

Não tenho tanta certeza de que esse fluxo vá voltar no mesmo formato que sempre fez no Brasil. O investidor de hoje não é o mesmo do passado, a indústria de distribuição de produtos financeiros tão pouco.

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Embora não sejam farinha do mesmo saco, com o tesouro IPCA+ remunerando 5,9% acima da inflação e títulos de 10 anos do governo americano com taxas de 4,6% nominal, às vezes é melhor comprar esses papéis e se sentar no sofá. Difícil competir.

Dito isso, sigo convicto que alocações perenes num portfólio balanceado seja a melhor estratégia. Nos corredores dos escritórios do mercado, vejo todos afoitos em busca de modificações de carteiras e de “movimentos táticos”, num ambiente onde vejo pouca ou quase nenhuma visibilidade.

Eu prefiro ser o dono da carteira de investimentos “sem graça” e fazer o meu feijão com arroz. A certeza de estar balanceado me ajuda a esquecer a minha senha da conta da corretora.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney