Novatas da Bolsa amargam perdas nas ações, mas oferecem dividendos de até 15%; por quê?

Seis empresas que fizeram IPO desde 2020 registram dividend yield acima de 6% nos últimos 12 meses; faz sentido encará-las como oportunidade?

Katherine Rivas

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Enquanto a maioria das empresas que fizeram IPO (oferta pública inicial de ações) na B3 nos últimos três anos sofrem com a desvalorização das ações – que, em alguns casos, supera 50% – um movimento contrário chama a atenção: certos papéis de empresas recém-chegadas à Bolsa oferecem uma taxa de retorno com dividendos (dividend yield) elevada, superando o patamar de 6%, tido como uma barra mínima pelo mercado na seleção de bons pagadores de proventos.

É o que mostra levantamento exclusivo feito por Einar Rivero, head comercial da plataforma TradeMap, para o InfoMoney. Foi considerado um universo de 76 empresas que fizeram IPO na Bolsa em 2020 e 2021. Em 2022, nenhuma companhia abriu capital. Delas, 73 permanecem listadas.

O levantamento mostra que, nos últimos 12 meses, empresas como a CSN Mineração (CMIN3) e a construtora Lavvi (LAVV3) ofereceram dividend yield acima de 15%. A título de comparação, a Selic – taxa básica de juros da economia – está em 13,75% atualmente.

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Das empresas consideradas no levantamento, seis tiveram dividendos acima de 6% nos últimos 12 meses. Confira abaixo a lista de 20 maiores dividend yields entre as empresas que fizeram IPO desde 2020:

Empresa Ticker  Data do IPO Dividend yield  nos últimos 12 meses  Dividendos e JCP por ação nos últimos 12 meses Retorno acumulado desde o IPO  Prêmio vs Ibovespa desde o IPO 
CSN Mineração CMIN3 17/02/21 15,85% R$ 0,92 -27,64% -15,85%
Lavvi LAVV3 01/09/20 15,50% R$ 0,78 -27,47% -31,38%
Cury CURY3 18/09/20 9,71% R$ 0,72 54,36% 46,35%
Caixa Seguridade CXSE3 28/04/21 7,80% R$ 0,65 11,55% 23,85%
JSL JSLG3 09/09/20 6,33% R$ 0,45 -14,24% -19,05%
Allied ALLD3 09/04/21 6,22% R$ 0,92 -70,02% -60,24%
Plano e Plano PLPL3 16/09/20 5,60% R$ 0,16 -26,34% -32,85%
BR Partners BRBI11 18/06/21 5,27% R$ 0,29 -26,54% -9,22%
Melnick MELK3 25/09/20 5,19% R$ 0,21 -53,93% -63,38%
Mitre Realty MTRE3 04/02/20 4,88% R$ 0,31 -78,56% -70,43%
Priner PRNR3 14/02/20 4,29% R$ 0,30 -13,12% -5,94%
Boa Vista BOAS3 29/09/20 3,28% R$ 0,27 -34,37% -47,82%
Cruzeiro Edu CSED3 10/02/21 3,16% R$ 0,13 -82,84% -72,48%
PetroReconcavo RECV3 04/05/21 3,13% R$ 0,78 44,22% 54,03%
Vittia VITT3 01/09/21 3,02% R$ 0,37 33,98% 45,07%
Raizen RAIZ4 04/08/21 2,94% R$ 0,21 -53,64% -40,80%
Viveo VVEO3 06/08/21 2,73% R$ 0,43 -15,30% -1,74%
Armac ARML3 27/07/21 2,64% R$ 0,44 -23,23% -8,42%
Blau BLAU3 16/04/21 2,49% R$ 0,69 -41,89% -29,55%
Multilaser MLAS3 21/07/21 2,24% R$ 0,12 -82,10% -66,40%
Pague Menos PGMN3 01/09/20 2,23% R$ 0,19 -63,17% -67,08%

Fonte: TradeMap. Dados até 18 de abril de 2023.

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Empresa de IPO pagando dividendos: é normal?

Ver empresas que estrearam na Bolsa recentemente pagando dividendos elevados pode causar estranhamento. Afinal, as companhias vão ao pregão normalmente em busca de recursos para investir no seu crescimento e fortalecer a sua posição no mercado. Por que, então, começar a distribuir dividendos tão cedo?

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Rivero afirma que um dividend yield elevado pode refletir quedas bruscas no preço das ações de uma companhia, eventualmente “mascarando” um desempenho ruim. “Embora o dividend yield seja importante, o investidor precisa observar também a saúde financeira da empresa e seu potencial de crescimento antes de optar por investir”, aconselha.

Os motivos para o retorno com dividendos ser elevado nos IPOs recentes são diversos. Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, aponta que, diante de um cenário econômico adverso, as empresas que captaram recursos e chegaram à Bolsa encontraram uma certa dificuldade de alocar o capital. “Tornou-se mais difícil a empresa conseguir fazer os investimentos e obter retornos com taxas superiores à Selic”, diz.

Diante do custo de oportunidade, Paletta acredita que muitas companhias optaram por adiar os investimentos e distribuir dividendos. “Neste momento circunstancial, pode ser o motivo de a gente ver tantas empresas que fizeram IPO distribuindo proventos elevados”, avalia.

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Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research, pondera que a distribuição de proventos por empresas com pouco histórico na Bolsa e geração de caixa limitada pode ser explicada pela estratégia de negócios, natureza do setor e até a política de dividendos adotada.

Segundo Tahara, muitas empresas com forte geração de caixa e margens elevadas podem optar por distribuir dividendos mesmo em estágios iniciais como forma de atrair investidores e demonstrar solidez.

Ele também cita exemplos relacionados ao ciclo dos negócios, como CSN Mineração (CMIN3). Tahara destaca que a companhia teve um dividend yield elevado porque a empresa teve um bom desempenho dados os preços mais elevados do minério de ferro.

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Já no caso da Allied (ALLD3), Tahara cita que o dividend yield elevado não foi necessariamente por um bom motivo. “As ações sofreram fortes correções de preço, o que acabou contribuindo para o aumento da taxa de retorno”, explica.

A Allied, que atua no setor de eletrodomésticos e varejo digital, tem enfrentado uma concorrência maior e mudanças de mercado, afirma o analista da Benndorf Research. “A continuidade dos dividendos dependerá de sua capacidade de adaptação e crescimento, uma vez que o setor ainda vem sofrendo bastante”, reforça.

Há ainda outro fator que pode justificar o retorno em dividendos elevado. Paletta explica que nem todas as companhias que fazem IPO são necessariamente novatas nas suas áreas de atuação.

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Há exceções, como companhias que surgem de uma cisão de outra empresa. É o caso, por exemplo, da CSN Mineração (CMIN3), braço de mineração da CSN (CSNA3). A empresa foi à Bolsa separadamente para ajudar a reduzir o endividamento da empresa “mãe”. Contudo, já tinha um longo histórico de mercado.

Paletta cita também o exemplo da Caixa Seguridade (CXSE3), braço de seguros da Caixa Econômica Federal, que fez IPO em abril de 2021, mas já carregava consigo um histórico operacional forte, lucratividade e bom tempo de atuação no mercado.

Há ainda o caso da Cury (CURY3), companhia com 59 anos de mercado, mas que chegou à Bolsa apenas em setembro de 2022.

Paletta lembra ainda de IPOs que surgem como desinvestimento de empresas públicas forçadas a vender ativos. Ele cita como exemplo a Neoenergia, que estreou no mercado em 2019 após um desinvestimento do Banco do Brasil. “Muitas vezes, estas novas empresas na Bolsa já são lucrativas e têm capacidade de distribuir dividendos. Mas são exceções”, destaca.

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Vale a pena investir em IPOs para receber dividendos?

Comprar ações de empresas com pouco histórico na Bolsa é considerado quase um pecado capital entre os investidores “caça-dividendos”. Paletta aponta que, se o objetivo do investidor é buscar companhias que remuneram bem os acionistas, com saúde financeira, optar por empresas que fizeram IPO recentemente não é a melhor opção.

“Há casos particulares, mas a maioria dos IPOs são de empresas captando recursos para ter capacidade de gerar lucro e distribuir dividendos nos próximos anos”, afirma.

Entre as exceções, Paletta cita Caixa Seguridade (CXSE3) e CSN Mineração (CMIN3), que, na visão dele, já possuem características de empresas boas pagadoras de dividendos.

“São empresas com grande maturação, know-how e diferenciação do produto e qualidade operacional, o que reflete nos seus resultados financeiros e na capacidade de gerar caixa e remunerar os seus acionistas”, avalia.

Embora CSN Mineração seja um negócio mais cíclico, com exposição ao minério de ferro, Paletta defende que a empresa gera um fluxo de caixa forte atualmente e tem uma capacidade diferenciada.

“Essas duas companhias também passaram por forte depreciação das ações. Se os juros caírem, são papéis que também podem apresentar valorização”, pontua.

Para Tahara, da Benndorf, investidores que buscam dividendos podem considerar algumas empresas que fizeram IPO recentemente, embora não seja o mais recomendado para uma estratégia de renda passiva. Isso desde que analisem a sustentabilidade dos pagamentos e a política de dividendos da companhia. “É importante diversificar o portfólio e incluir empresas mais maduras e consolidadas também, é uma estratégia importante para minimizar riscos e garantir retornos mais consistentes”, recomenda.

Na visão de Tahara, uma companhia que pode ser considerada como a opção mais perene para uma alocação de longo prazo com foco em dividendos é a Caixa Seguridade (CXSE3).

Entre as empresas presentes na lista elaborada pelo TradeMap, o analista aponta que CSN Mineração (CMIN3), Cury (CURY3) e Plano e Plano (PLPL3) poderiam se beneficiar de momentos melhores nos mercados em que atuam, dado que são setores cíclicos. “Poderiam ser consideradas para uma alocação tática em dividendos”, destaca.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.