Investir no Brasil agora é decisão mais “tática” do que “estrutural”, diz Rodrigo Azevedo, da Ibiuna

Para ex-diretor do BC, incerteza do mercado quanto ao Orçamento de 2024 é "justificada"; principal aposta da casa é posição que ganha com a queda dos juros

Bruna Furlani

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O “malabarismo” proposto pelo governo para conseguir zerar o déficit primário em 2024 – igualando receitas e despesas primárias – trouxe incerteza aos mercados e levou a uma reprecificação dos ativos de Bolsa, câmbio e juros nos últimos dias. É um movimento “justificado”, na visão de Rodrigo Azevedo, sócio-fundador e CIO da área macro da Ibiuna Investimentos.

“Vemos uma dificuldade grande de extrair o montante que está proposto no Orçamento de 2024, com mais de 1,5% do PIB [Produto Interno Bruto] em receitas adicionais”, avaliou Azevedo, ex-diretor do Banco Central, em entrevista exclusiva ao InfoMoney na última sexta-feira (1).

“As informações vistas na semana passada não parecem suficientes para dirimir essa incerteza”, acrescentou, referindo-se ao texto da proposta orçamentária enviada pelo governo ao Congresso Nacional na quinta-feira (31).

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Azevedo lembrou que, segundo a literatura econômica, os ajustes mais “críveis” são ancorados no controle de gastos. O fato é que o governo definiu a trajetória para os gastos – e agora corre atrás da receita, disse.

É muito difícil aprovar no Congresso um aumento de impostos. Temos vários governos que tentaram

Rodrigo Azevedo, sócio-fundador da Ibiuna Investimentos

Num ciclo que se retroalimenta, a incerteza gerada nos mercados eleva o prêmio de risco, o que resulta em taxas de juros mais altas. “Vimos uma reprecificação das taxas de juros reais com impacto em todos os ativos. Taxas de juros reais maiores no longo prazo estão associadas a um menor crescimento”, alertou.

Investir no Brasil: mais tático do que estrutural

Azevedo avalia que investir no Brasil, no atual momento, representa mais uma posição tática do que uma alocação estrutural – ainda que os ativos ofereçam prêmios depois do ajuste dos últimos dias.

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Não é um trade do tipo ‘quero ter Brasil porque acho que o País vai dar certo’

Embora esteja cauteloso, o executivo destacou que a proximidade do fim do ciclo de alta dos juros nas economias desenvolvidas favorece fluxos para economias emergentes ou para ativos de risco, o que poderia beneficiar o Brasil.

A desaceleração nas economias desenvolvidas também favorece uma alocação aplicada em juros (que se beneficia da queda das taxas), na avaliação da Ibiuna – e essa é uma das principais apostas da gestora no momento.

“O mercado de juros parece atrativo. A dúvida é quando o aperto [monetário] vai bater [na economia] e em qual intensidade. Se tiver uma recessão [nos EUA], o juro é um bom ativo, porque vai cair mais rapidamente”, lembrou Azevedo.

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O Ibiuna Hedge, fundo macro da casa, rende 3,57% no acumulado deste ano, segundo o site da gestora, enquanto o Ibiuna Hedge STH avança 1,62%.

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Cadê a recessão?

Para o ex-diretor do Banco Central, a demora do impacto da política monetária nas economias desenvolvidas é uma surpresa. “Estamos em setembro e a recessão [nos EUA] ficou para 2024, se ela ocorrer”, disse. “Nos próximos três a seis meses, teremos uma visão mais clara sobre o fim do ciclo [de alta dos juros]”

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Considerando os dados econômicos mais recentes dos Estados Unidos, o executivo defende que “está em curso uma desaceleração”, mas não espera – por enquanto – uma recessão.

“Vemos um ambiente prolongado em que a economia cresce abaixo do seu potencial. O nosso viés é achar se não for o soft landing [pouso suave da economia], é possível que a gente descubra que está indo rapidamente para o hard landing [pouso agressivo]”, acrescenta.

Com uma desaceleração começando a se materializar, o executivo avalia que o momento de ter posições maiores em juros nos Estados Unidos “está chegando”.

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Selic: BC pode acelerar ritmo de corte

Na visão de Azevedo, o Banco Central brasileiro não precisará mudar o plano de voo dos cortes de juros, apesar do cenário mais delicado nos EUA, em função da expansão fiscal dos últimos anos, e da fraqueza da economia chinesa.

Não acho que os eventos sejam suficientes para mudar essa rota. O principal elemento de transmissão é a taxa de câmbio. Vimos a reprecificação da taxa de câmbio, mas não é uma magnitude suficiente para mudar a taxa de juros, dado que a Selic ainda é elevada

Na visão do executivo, o BC já deixou claro que deve realizar mais duas reduções de 0,50 ponto percentual. O primeiro corte na Selic, de 0,50 pp, aconteceu na reunião de agosto do Comitê de Política Monetária (Copom), levando a taxa básica para 13,25% ao ano.

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A dúvida está nas últimas reuniões deste ano e nas primeiras de 2024. Para essas, a expectativa do ex-diretor do Banco Central é de inflação mais positiva, o que abre espaço para a taxa terminal ficar entre 8% e 9% no ano que vem.