Eletrobras (ELET3) cai 18% em um ano, mas fundos para investir FGTS recuam de 16% a 20%; por quê?

Discrepância de desempenho pode estar relacionada à taxa de administração, ao percentual de alocação nas ações da empresa e até ao tamanho do fundo

Mariana Segala

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Quando a Eletrobras (ELET3) foi privatizada, em junho do ano passado, cerca de 370 mil trabalhadores usaram recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para comprar ações da companhia. O resultado, por enquanto, não foi lá dos melhores: os papéis têm uma desvalorização acumulada de -18% nos últimos 12 meses.

Mas há quedas e quedas. O investimento do saldo do FGTS na Eletrobras foi feito, na época, por meio de fundos mútuos de privatização, os chamados FMPs. E entre os 15 fundos do tipo há exemplares que desvalorizaram menos do que a própria ação – e outros que caíram bem mais. Os resultados variam de -16% a -20% em 12 meses até terça-feira (26).

Se o objetivo de todos os FMPs de Eletrobras é o mesmo – comprar as ações ordinárias da empresa – por que tamanha discrepância de rentabilidade?

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Confira na tabela o desempenho dos 15 fundos:

Fundo Taxa de administração (ao ano) Patrimônio líquido mais recente (R$ mil) Rendimento em 12 meses (até 26/09/23)
BNB FMP FGTS Eletrobras 0,20% 11.983 -16,77%
Guide FMP do FGTS Eletrobras 0,15% 9.486 -17,30%
Daycoval FMP do FGTS Eletrobras 0,00% 89.980 -18,18%
Caixa FMP FGTS Eletrobras 0,20% 1.060.134 -18,22%
Genial FMP – FGTS Eletrobras 0,20% 55.619 -18,25%
Safra FMP FGTS Eletrobras 0,15% 91.662 -18,26%
BB FMP FGTS Eletrobras 0,20% 527.079 -18,28%
BTG Pactual FMP FGTS Eletrobras 0,20% 168.155 -18,30%
XP FMP – FGTS Eletrobras 0,20% 832.308 -18,31%
Santander FMP – FGTS Eletrobras 0,20% 250.973 -18,37%
BB FMP FGTS Eletrobras – Migração 0,20% 6.204 -18,42%
Itaú FMP FGTS Eletrobras 0,20% 663.297 -18,46%
Bradesco FMP – FGTS Eletrobras 0,40% 211.343 -18,47%
Caixa FMP FGTS de Migração Eletrobras 0,20% 2.636 -18,77%
Bradesco Migração FMP – FGTS Eletrobras 0,40% 225 -20,87%

Fonte: Economatica

Especialistas ouvido pelo InfoMoney têm suas suspeitas. Algumas são bem óbvias: fundos com taxas de administração maiores naturalmente tendem a render menos, já que esse é um custo que incide sobre o patrimônio da carteira.

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Entre os 15 FMPs de Eletrobras, as taxas variam entre zero (caso de um fundo do banco Daycoval) e 0,40% ao ano (no caso de dois fundos do Bradesco).

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Esse fator apenas, no entanto, não é suficiente para explicar a diferença de desempenho, que chega a 4 pontos percentuais entre o melhor e o pior fundo em 12 meses.

Uma outra hipótese está na evolução do percentual mantido em caixa pelos fundos ao longo do período analisado, avalia Luiz Felippo, sócio e analista de Fundos da Nord Research.

Explique-se: embora os FMPs tenham o objetivo de investir nas ações da Eletrobras, muitos deles não mantêm todo o patrimônio integralmente aplicado nos papéis o tempo todo.

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Para fazer frente aos saques solicitados pelos investidores ou em função de receitas recebidas pelas carteiras (dividendos pagos pela empresa, por exemplo), em alguns momentos eles podem ter um valor maior em caixa – normalmente, alocado em títulos de alta liquidez.

Os fundos podem, inclusive, optar por manter uma alocação menor do que 100% em ações da Eletrobras como política de investimento o tempo todo. Os regulamentos deles estabelecem que no mínimo 90% do patrimônio esteja investido nos papéis – mas é possível deixar os 10% restantes alocados em títulos de renda fixa públicos e privados.

“Os fundos que ficam menos alocados nas ações terão uma performance melhor se ELET3 cair”, como foi o caso nos últimos 12 meses, explica Danilo Gabriel, sócio e gestor da XP Asset Management. “E pior quando a ação subir”.

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Isso pode ajudar a entender o desempenho do FMP do BNB (Banco do Nordeste), o menos negativo entre os 15 considerados. A última carteira aberta do fundo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), de agosto, mostra que 95% do seu patrimônio estava alocado em ELET3 – e praticamente todo o restante em títulos públicos federais com vencimento em 2026.

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Dos 15 FMPs de Eletrobras, 11 tinham 99% ou mais do patrimônio investido nas ações da empresa. Quanto maior é essa exposição, menor tende a ser o chamado tracking error da carteira, que representa a dispersão entre o seu desempenho e o da ação de referência.

Em fundos indexados, como é o caso dos FMPs de Eletrobras, a aderência à performance da ação é um indicativo de que o objetivo da carteira foi alcançado. Cálculos obtidos pelo InfoMoney indicam que o menor tracking error entre os 15 fica com o fundo da XP.

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Tamanho é documento, ao menos nos fundos

Mas à composição da carteira também podem se somar outros fatores, e bem técnicos. O fundo Bradesco Migração, por exemplo, também tem aproximadamente 95% do patrimônio efetivamente aplicado em ações da Eletrobras – o que poderia ter operado a seu favor nos últimos meses. No entanto, acumula retorno pior do que o do papel em si.

O banco não retornou aos pedidos de entrevista do InfoMoney sobre o assunto.

Um aspecto que também influencia o desempenho dos fundos é o seu tamanho. Alguns custos fixos não cobertos pela taxa de administração – como taxas devidas à CVM e à Anbima (Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), desembolso com auditoria, entre outros – pesam muito mais sobre fundos pequenos do que sobre os maiores.

“O tamanho do fundo é sempre um item importante para levar em conta na hora de investir”, diz Gabriel, da XP – o que vale para os fundos de privatização, para os indexados e também para os fundos ativos.

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Mariana Segala

Editora de Investimentos do InfoMoney