Publicidade
A quantidade de grupamentos de ações na Bolsa brasileira não para de crescer diante do momento delicado que ainda persiste para a renda variável. Até aqui, a medida vem sendo acompanhada de mais perdas para investidores: em quase 70% das vezes, os eventos registrados em 2023 precederam desvalorização adicional de até 65%.
Os grupamentos já somam 19 este ano, o maior número desde 2016, quando 69 empresas fizeram uma movimentação do tipo.
Segundo dados apurados pela plataforma Economatica a pedido do InfoMoney, 13 dessas empresas (68,4%) viram as cotações recuarem nos 30 dias seguintes. O número ainda não considera o desempenho de Lojas Marisa (AMAR3), que diminuiu a circulação de papéis no dia 24 de outubro. Desde então, porém, o papel já caiu mais de 3%.
Newsletter
Liga de FIIs
Receba em primeira mão notícias exclusivas sobre fundos imobiliários
Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.
O grupamento de ações, também conhecido como inplit, é a redução da quantidade de papéis em circulação sem alteração do capital social, refletindo em um preço mais alto para a unidade do papel. Se uma ação é grupada na razão de duas para uma, por exemplo, 500 ações no pós-grupamento vão valer o mesmo que 1.000 antes. Cada uma, no entanto, valerá o dobro.
Casas Bahia (BHIA3), que passa por forte crise, pode ser a próxima a passar por esse processo. O conselho administrativo da companhia aprovou uma proposta de grupamento de ações de 25 para 1. Já a Americanas (AMER3) disse na semana passada que ainda tenta alternativas para elevar o patamar da ação, mas já admite grupamento.
Grupamento é causa de queda?
Em 2023, o pior desempenho depois de um grupamento foi da plataforma de curadoria imobiliária Nexpe (NEXP3). Após concentrar o preço de 50 ações em uma, investidores viram a cotação desabar 65% em um mês. Mas, o que isso significa?
Continua depois da publicidade
Segundo Gustavo Spinola, estrategista-chefe da RB Investimentos, o grupamento não tem necessariamente relação causal com a derrocada do papel. Na verdade, conta, a medida costuma ser um sintoma de que as coisas já iam mal para a empresa.
“O fator em comum é que muitas delas estavam em um momento delicado, com alguma crise. Então há uma tendência negativa depois do grupamento, mais por conta de problemas [da companhia]”, explica.
Leia mais:
Continua depois da publicidade
No caso da Nexpe, antiga BR Brokers, a crise já estava instalada, e um pedido de recuperação judicial foi protocolado dias após o grupamento, realizado em janeiro, dando ensejo para a desvalorização que se seguiu.
Uma crise no negócio costuma ser inclusive o gatilho para a medida de grupamento. Ao reduzir a circulação dos papéis, a empresa tenta capturar mais interesse o investidor e, ao mesmo tempo, criar uma blindagem contra quedas – afinal, com um preço baixo demais, qualquer centavo de queda chama atenção negativa.
Há ainda um componente ligado às regras da B3: para permanecer no índice Ibovespa, que garante maior liquidez para negociações, uma ação não pode ser negociada abaixo de R$ 1 por muito tempo, e por isso é obrigada a realizar um grupamento.
Continua depois da publicidade
“Sair dos índices é ruim porque muitas casas os replicam, então precisam comprar muitos desses papéis”, conta Spinola.
A medida, como mostram os números deste ano, nem sempre dá certo. A incorporadora PDG Realty (PDGR3), por exemplo, vinha de recuperação judicial em 2021 e realizou grupamento em março deste ano. Nos 30 dias seguintes, cedeu mais de 50% na esteira de resultados financeiros ruins.
Confira o desempenho das ações 30 dias após grupamento realizado em 2023:
Continua depois da publicidade
Ação | Data do grupamento | Desempenho 30 dias seguintes |
Lojas Marisa (AMAR3) | 24 de outubro | – |
BR Properties (BRPR3) | 30 de agosto | 88.25% |
Recrusul (RCSL3) | 07 de julho | -23.65% |
Recrusul (RCSL4) | 07 de julho | 52.25% |
Inepar (INEP3) | 14 de junho | -12.75% |
Inepar (INEP4) | 14 de junho | -15.71% |
Viver (VIVR3) | 09 de junho | -12.22% |
Creditaqui (MERC4) | 07 de junho | 5.30% |
Oi (OIBR3) | 06 de junho | -0.63% |
Oi (OIBR4) | 06 de junho | -31.13% |
Meliuz (CASH3) | 31 de maio | -12.25% |
Triunfo (TPIS3) | 27 de abril | 4.52% |
PDG Realty (PDGR3) | 03 de março | -52.56% |
BR Properties (BRPR3) | 23 de fevereiro | -2.10% |
Joao Fortes (JFEN3) | 17 de fevereiro | -10.88% |
Veste (VSTE3) | 08 de fevereiro | -15.46% |
Nexpe (NEXP3) | 26 de janeiro | -65.29% |
IRB (IRBR3)Re | 24 de janeiro | -22.94% |
Fonte: Economatica
Além de Americanas e Casas Bahia, outra que começou a ficar no radar dos investidores como próxima a tentar medida para não virar penny stock é Magazine Luiza (MGLU3), que passa por longo período de baixa e já tem ação negociada a R$ 1,35 nesta terça-feira (31).
No entanto, a avaliação das empresas nessa situação tende a variar caso a caso. O estrategista da RB Investimentos enxerga Magazine Luiza e Casas Bahia, por exemplo, com trajetórias bem diferentes, apesar de serem do mesmo setor.
Continua depois da publicidade
“Casas Bahia já está com um plano de fechar lojas, de demitir pessoas, de encolher. [O grupamento] é mais um elemento que chama a atenção para os problemas da empresa. Já Magazine Luiza diz que ainda está abrindo loja física, que entende que vai dar a volta por cima com a queda de juros, que vai dar um alívio financeiro relevante”.
Para o especialista, o investidor deve ainda ficar atento se uma queda após redução da circulação de papéis está ligada a fatores internos na empresa, ou se é a classe de ativos que está sofrendo como um todo – como é o caso do cenário visto em 2023.
“A bolsa como um todo está em um momento ruim. A renda variável no Brasil vai fechar o ano provavelmente em patamar bem abaixo do CDI. Então o volume da bolsa cai muito também”, detalha. “Isso prejudica os papéis como um todo, dá a sensação de que as coisas estão piores do que realmente estão”.