Número de penny stocks salta em 2023 e grupamentos vão ao maior nível desde 2016

Juros altos impactam companhias e fazem ações serem negociadas a menos de R$ 1, levando a aumento das operações

Vitor Azevedo

Moedas de um real e centavos

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As altas taxas de juros, que apesar do início do ciclo de queda ainda estão presentes, além de impactar negativamente o balanço das empresas e a Bolsa de valores, traz consigo alguns impactos diferentes: o aumento do número das chamadas penny stocks, ações negociadas a menos de R$ 1, e dos grupamentos de ações.

De acordo com dados da Economatica compilados a pedido do InfoMoney, atualmente a Bolsa brasileira conta com nove penny stocks, sendo que no pico do ano, por volta de março, 15 ações chegaram a ser negociadas a menos de R$ 1.

Fonte: Economatica

Já os grupamentos somam 18, no maior nível desde 2016 – quando 69 empresas fizeram uma movimentação do tipo -, sendo que ainda faltam três meses para o fim do ano.

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Entre os nomes que já realizaram uma movimentação do tipo em 2023 estão companhias como a Marisa (AMAR3), o Méliuz (CASH3) e a Oi (OIBR3). Outras, como o Grupo Casas Bahia ([ativo=BHIAA3]), provavelmente terão de realizar uma operação do tipo em breve, uma vez que operam abaixo do R$ 1.

Confira a lista completa:

Empresa Ticker Empresa Ticker
BR Properties BRPR3 Oi OIBR3 e OIBR4
Inepar INEP3 e INEP4 PDG PDGR3
IRB IRBR3 Recrosul RCSL3 e RCSL4
João Fortes Engenharia JFEN3 Triunfo TPIS3
Méliuz CASH3 Veste VSTE3
Mercantil do Brasil MERC3 e MERC4 Viver VIVR3
Nexpe NEXP3

Malek Zein, analista do TC, explica que os grupamentos são impostos pela B3, que tem uma regra que aponta que as ações não podem negociar por um valor nominal abaixo de R$ 1. Caso isso ocorra, um grupamento tem de ser realizado em até 30 dias.

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Entre 2014 e 2016, o Brasil passou pela maior recessão de sua história seguida de uma alta da taxa de juros, imposta para tentar controlar a inflação. Entre 2021 e 2023, o ciclo de alta das taxas também ocorreu.

Companhias de alguns setores são bastante impactadas pela alta dos juros. Agora em 2023, varejistas, construtoras e companhias de crescimento foram maioria ao se avaliar os nomes que realizaram grupamentos – justamente os mais impactados pela Selic em patamares elevados.

Cuidados com as penny stocks

Boa parte dos nomes que viraram penny stocks também já foram ou ainda são queridinhos dos investidores pessoas físicas. Grupo Casas Bahia, Méliuz e Oi, provavelmente, são os exemplos mais fáceis de se lembrar nesta frente.

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Só que há riscos ao ficar posicionado nessas empresas.

“Normalmente, empresas que negociam abaixo de R$ 1 estão enfrentando dificuldades financeiras que podem levá-las à falência”, diz Gabriel Duarte, analista da Ticker Research.

“Muitos investidores pensam que isso é uma oportunidade de compra, já que aquela empresa valia mais no passado, ela deve voltar a valer o mesmo no futuro. O problema é que nem sempre isso é verdade. Existem razões que levaram estas empresas a desvalorizar tanto. Em alguns casos, mais de 90% de queda. O investidor precisa estar ciente de tais problemas”, completa.

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No caso do Grupos Casas Bahia, por exemplo, há uma sucessão de resultados negativos e uma tentativa de reestruturação. Já na Oi, a companhia já passou por diversas recuperações judiciais e luta há anos para tentar sair do chão.

“Não existe nada ‘de graça’ no mercado sem uma razão. Aquela ação que caiu de R$ 20 pra R$ 0,80 não ficou mais barata, e sim enfrenta problemas que podem fechar suas portas”, explica.

Ele ainda pontua que empresas nessas situações veem a liquidez das negociações das suas ações caindo. Por estarem em maus lençóis, gestores de fundos grandes, por exemplo, deixam de negociá-las.

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“Se a empresa fizer um grupamento na proporção de 10 pra 1, cada dez ações que o acionista tinha se transformam em uma. Em termos de valor investido, não muda nada, mas a liquidez dessas ações pode ser afetada, caindo ainda mais. Por ser penny stock, muitos fundos de investimento nem olham para elas. Dependendo do tamanho do investidor, ficará difícil sair sem tomar prejuízos”, fala o especialista da Ticker.

Diego Faust, líder de renda variável da Manchester Investimentos, pontua ainda que algumas das empresas sofreram por não alcançarem cenários projetados no passado.

“Tem muita gente que comprou os papéis em 2020, 2021, quando os juros estavam baixo e perspectivas positivas foram traçadas. Essas pessoas acabam se perguntando se as ações vão voltar a valer o que já valera”, conta, lembrando que muitas das atuais penny stocks tiveram quedas de 80% ou 90%.

“Acho que é uma questão impossível de responder, mas a primeira pergunta que tem ser feita é se esses cenários, que foram imaginados lá atrás, estão se tomando realidade ou vão em algum momento se tomar realidade da forma como foi pensado. Se a resposta for não, aí, de fato, acho que a resposta é que também esses papéis não voltam para o preço que estavam”.

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