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Faltam apenas dez pregões para que a Bolsa encerre as negociações de 2022. Embora ninguém tenha bola de cristal, boa parte dos agentes de mercado acreditam que, dessa vez, não haverá o tradicional (e esperado) rali de fim de ano, com as cotações em alta no apagar das luzes do ano velho.
O motivo principal, segundo analistas e especialistas consultados pelo InfoMoney, é a incerteza sobre os rumos do próximo governo e o temor quanto ao risco fiscal e econômico, que deve se traduzir em juros elevados, volatilidade e pressão sobre a renda variável.
Na visão de Anderson Meneses, fundador e CEO da Alkin Research, dado o cenário atual, é possível que a Bolsa faça o movimento inverso, com as ações recuando ainda mais. Um rali nas últimas semanas de dezembro dependeria da entrada do investidor estrangeiro, beneficiando blue chips (grandes empresas da Bolsa), como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4).
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Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, acredita que apesar de muitas ações estarem com preços atrativos, o cenário doméstico ainda não inspira confiança para os investidores – principalmente institucionais e estrangeiros. “Por enquanto, o risco implícito dos ativos locais ainda não está compensando o potencial retorno, o que pode sair bem caro para o investidor desavisado”, adverte.
Para Alves, a Bolsa precifica as expectativas, e as de 2023 não são nada animadoras – o que o faz acreditar que um rali de fim de ano seja improvável. Só aconteceria se grandes gestores de fundos fizessem ajustes nas carteiras ou se a Bolsa ficasse ainda mais descontada no curto prazo, compensando o risco de novos investimentos. “O famoso prêmio de risco, sem dúvida, não pode ser descartado”, completa.
Na visão dele, empresas como Vale (VALE3), CSN Mineração (CMIN3), Suzano (SUZB3), Gerdau (GGBR4), JBS (JBSS3), BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3) e bancos como Itaú (ITUB3), Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC3) surfariam em um movimento de alta puxado pelo fluxo estrangeiro – se ocorresse ainda nesse ano.
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Na contramão dos outros analistas, Felipe Paletta, sócio-fundador da Monett, acredita que ainda há esperança. Para ele, o mercado exagera na precificação de risco e, embora existam incertezas econômicas e fiscais, grande parte delas já foram incorporadas nas cotações. “Se observado o múltiplo preço sobre lucro [P/L] do Ibovespa, ele negocia a cerca de 6,5 vezes, mas seu patamar histórico é próximo de 12 vezes”, aponta. “Dá para ver que há um descompasso muito grande entre o preço das ações e a visibilidade de quanto essas empresas podem gerar de lucro”.
O que o investidor focado em dividendos tem a ver com isso?
Para quem busca receber dividendos, as estratégias de investimento em ações focam no longo prazo. Em consequência, movimentos como o rali de fim de ano não trazem muitos benefícios ao investidor – pelo contrário. O avanço repentino das cotações pode ser até uma desvantagem, explica João Daronco, analista da Suno Research.
“O investidor de dividendos deve focar em acumular ações de boas empresas, aumentando o seu patrimônio. Quanto mais cara a ação, pior para o investidor, porque a mesma quantidade de ações necessárias acaba custando mais e ele acumula menos”, destaca.
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Daronco reforça que o dividend yield (taxa de retorno com dividendos) nada mais é do que os dividendos pagos divididos pelo preço da ação. “Quanto menor o preço da ação, maior o retorno em dividendos”, afirma.
Por isso, os especialistas consultados pelo InfoMoney destacam alguns pontos que até mesmo os investidores focados em dividendos devem se atentar diante de situações como os ralis de fim de ano.
O primeiro é a antecipação de aportes, destaca Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Ivest Consultoria de Investimentos. Se o esperado é que o preço de uma ação suba num período específico, por que não aproveitar para comprá-las quando ainda estão mais baratas? “É sempre importante para o investidor de longo prazo comprar ações de boas empresas com o menor preço possível. Desta forma, ele maximiza a quantidade de ações que consegue comprar com o mesmo dinheiro e recebe mais dividendos no futuro”, afirma.
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Para Daronco, a Bolsa está convidativa atualmente, o que justificaria a antecipação de aportes. Por outro lado, embora algumas ações possam valorizar no caso de haver um rali, Alves destaca que algumas empresas conhecidas por pagar bons dividendos costumam ser mais estáveis e não oscilam tanto em momentos como esse.
“Isso abre oportunidade para entradas pontuais, exceto em ações mais negociadas, como Petrobras, Vale ou bancos, que ficam mais expostas ao movimento de rali”, explica. Desta forma, Alves acredita que utilities, como empresas de energia e saneamento, são boas opções para dividendos em momentos de euforia do mercado, por não acompanharem o movimento de alta com o mesmo ímpeto.
Luiz Barsi Neto, economista e assessor do MMBarsi Investimentos, destaca que bancos, elétricas, empresas de saneamento, de seguros ou de telecomunicações costumam ter valorização mais modesta em períodos de rali. Para ele, um movimento pontual de alta não afeta estratégias de longo prazo, mas pode ser um momento de analisar pares do mesmo setor.
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Nos ralis da Bolsa, Barsi explica que investidores de longo prazo aproveitam também para se desfazer de papéis na carteira em que não têm mais interesse ou que serviam apenas para uma estratégia de valorização, em vez de dividendos. “Essa análise é interessante para avaliar se é necessário dar um retoque na carteira”, diz.
Sobreira esclarece que a valorização de um ativo, desde que tenha fundamentos sólidos, não deveria ser vista como um problema. Para ele, se o cenário econômico em 2023 estiver mais favorável, com possível queda na taxa de juros, a expectativa é de crescimento das empresas. “O valuation [preço] muda e a expectativa de rendimentos futuros [dividendos] aumenta”, diz.
Como se comportar durante um possível rali
Para quem busca receber dividendos em 2023, os especialistas recomendam atenção para algumas pechinchas da Bolsa. Reforçam, contudo, que é preciso ter cautela. Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, lembra que após os ralis sempre há um período de correção, geralmente em janeiro. Para ele, dadas as incertezas elevadas, o ideal seria manter uma parte do recurso em caixa, em aplicações de renda fixa, enquanto o investidor divide os aportes em ações que pagam dividendos em duas ou três tranches, em momentos diferentes.
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“Uma tranche de aportes poderia ser antes de um eventual rali de fim de ano e o restante em janeiro, quando ocorre a correção de preços”, destaca.
Alves, da Ação Brasil, acredita que o momento é de vigilância, pois o que está barato agora, “pode ainda ficar mais barato em 2023”. Ele recomenda paciência. “O setor elétrico, bancos e seguradoras são um tiro certo, em especial para o momento atual de incerteza. São empresas longevas, que já sobreviveram a vários tipos de crises e sobreviverão novamente”, destaca.
Lista de pechinchas
Para Paletta, da Monett, há boas oportunidades no momento no setor de utilities e bancos, com destaque para o setor elétrico. Ele cita companhias como Alupar (ALUP11), Neoenergia (NEOE3) e Eletrobras (ELET3), com potencial de entregar valorização e dividendos ao acionista. Para Alupar, a projeção da Monett é de um dividend yield (retorno em dividendos) de 7,5% em 2023. E para Neoenergia, a estimativa do analista é de um dividend yield de 6,5%.
Paletta elogia a alteração na política de dividendos da Alupar. Na visão dele, a proposta de distribuir proventos com base no lucro caixa vai permitir que a companhia faça mais pagamentos enquanto se encontra em uma fase de consolidação.
Já em relação a bancos, a preferência da Monett é o Itaú (ITUB4) – contudo, com exposição por meio da holding Itaúsa (ITSA4), que detém participação no banco. “A Itaúsa está pagando menos dividendos no momento pela sua nova política de investimentos, mas ainda assim deve entregar mais de 5% de dividend yield em 2023”, afirma. O Banco do Brasil (BBAS3), embora descontado e com capacidade fazer distribuições de 10% em 2023, é mais arriscado.
Komura, da Ouro Preto, tem no radar Alupar (ALUP11), Suzano (SUZB3), Tim (TIMS3) e Santos Brasil (STBP3). Para a transmissora de energia Alupar, a projeção de dividendos é de 10% em 2023. Já em Suzano, Komura cita a reabertura da China, que pode ajudar a manter o preço da celulose elevado, beneficiando a geração de caixa da companhia. “O dividendo projetado é baixo, de 5% para 2023, por causa do projeto Cerrado, mas tende a aumentar no longo prazo”, destaca.
No caso da Tim, a expectativa é de um dividend yield de 6% para 2023. Komura cita que embora não seja uma empresa “redonda”, como a Telefônica, ela está no processo de consolidação. “Precisamos monitorar os incentivos que o novo governo deve trazer para o setor”, diz.
Para Fábio Sobreira, da Ivest Consultoria, se houver um rali ligado a commodities, Vale (VALE3) se beneficiaria com uma possível valorização do minério de ferro ainda este ano. Ele projeta dividendos de 15% para a mineradora em 2023, com preço justo de compra até R$ 90.
Outra oportunidade na visão do analista é a corretora de seguros Wiz (WIZS3). Embora seja conhecida pelos bons fundamentos e esteja diversificando receitas, a recente saída do CEO, Heverton Peixoto, acabou penalizando o papel. Sobreira projeta dividend yield de 11% em 2023, com preço de compra de até R$ 12.
A lista de preferidas de Sobreira inclui ainda a Movida (MOVI3), com dividend yield de 12% em 2023 e preço justo de compra de até R$ 15. E a empresa JHSF (JHSF3), do segmento de construção de alta renda, com um dividend yield de 11% e preço de entrada de até R$ 10.
O setor agro é outro destaque para o próximo ano, na visão dele, que cita a SLC Agrícola (SLCE3), com retorno em dividendos projetado de 10% em 2023 e preço justo de R$ 55. “A companhia tem lucros crescentes desde 2019”, aponta.
Anderson Meneses, da Alkin Research, destaca que uma antecipação de aportes poderia ser feita em Klabin (KLBN11), com dividend yield de 7,8% para 2023; em B3 (B3SA3), com dividend yield de 6,3%; em Copel (CPLE6), com retorno em dividendos de 5,2%; em Suzano (SUZB3), com dividend yield de 3,4%; e em Ambev (ABEV3), com retorno em proventos de 5,3%.
“Klabin e Suzano devem se beneficiar da reabertura da China e o preço da celulose em patamares elevados. São excelentes empresas, que reportaram resultados recordes recentemente, e suas ações ainda não apresentaram uma valorização expressiva”, avalia. Já para a Copel, Meneses destaca a resiliência do setor de energia, além dos recursos que serão captados na possível privatização da companhia, deixando a empresa bem capitalizada. “Isso vai diminuir o endividamento e impulsionar o pagamento de dividendos”, diz.
O analista destaca que o caixa da B3 é bastante sólido e deve ter um crescimento no número de investidores no longo prazo. Segundo Meneses, a ação da Bolsa é uma alternativa que oferece proteção de carteira em ciclos de juros elevados e bons dividendos.