Petrobras (PETR4): recomendação elevada, anúncios do PAC e necessidade de “reajuste iminente” do diesel estão no radar da estatal

Noticiário entre o fim da última sexta e do início da semana seguem repercutindo no mercado sobre a estatal

Lara Rizério

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Desde a última sexta-feira (11), o noticiário sobre Petrobras (PETR3;PETR4) tem sido bastante movimentado, com possíveis repercussões também neste início de semana. Mudanças de recomendação, anúncio do PAC envolvendo a companhia e visão de que terá que haver um reajuste iminente nos preços dos combustíveis estão no radar da companhia.

Sobre recomendações, enquanto os antes otimistas com a Petrobras passaram a mostrar maior ceticismo com a estatal – nas últimas semanas, Citi, HSBC e JPMorgan rebaixaram a recomendação das ações para neutra – um pessimista de “longa data”, o UBS BB, passou a ficar otimista (ou menos pessimista) com as ações.

Os analistas do banco, que tinham recomendação de venda para a estatal, elevaram a recomendação, mas também passando para neutra. O preço-alvo tanto para os ativos PETR3 quanto para os PETR4 foi elevado de R$ 22 para R$ 31.

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O banco lembra que havia rebaixado a visão para os papéis no fim de 2022 com as indicações de que os principais pilares da companhia seriam alterados sob a nova administração. Desde então, a ação foi no sentido contrário e subiu forte, com as mudanças chegando mais lentamente e sendo menos severas do que o esperado.

A governança corporativa se mostrou mais forte e a gestão atual tem se mostrado mais pragmática do que inicialmente imaginado, apontam os analistas.

Assim, como resultado: 1) a política de preços dos combustíveis manteve alguma referência aos preços internacionais; 2) capex (investimentos) deve aumentar em 5-15% e 3) a política de dividendo foi mantida, ainda que tenha cortado de 60% do fluxo de caixa livre para 45%, o que é muito acima do mínimo que a companhia poderia pagar.

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Com isso, os analistas do banco atualizaram sua estimativa para a companhia.

Mas por que não comprar? E por que não vender? Os analistas apontam que, sem gatilhos de curto prazo, há riscos para ambos os casos extremos.

“A tese de investimento da Petrobras está longe de ser um consenso. O histórico negativo de interferência, baixos retornos em ativos non-core, falta de alinhamento com os preços internacionais estão entre os argumentos para uma visão mais pessimista. Do outro lado da moeda, o baixo custo de extração da Petrobras, ativos upstream (de exploração e produção) de classe mundial, aparente racionalidade de capex, política de preços de combustível com alguma referência internacional e um dividend yield, ou dividendo sobre o preço da ação, saudável esperado para 2024 de 12% (que pode chegar a 17%), pode ser um caso otimista”, ponderam os analistas.

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Olhando para a frente, eles não veem gatilhos claros para o papel, com visão de que o valuation seguirá descontado em relação aos seus pares.

Atualmente, os analistas do UBS BB preveem US$ 10 bilhões em dividendos para 2024 (cerca de  3% de rendimento por trimestre). No entanto, a Petrobras poderia distribuir US$ 4 bilhões adicionais, levando a um rendimento total de 17%.

O cenário base do banco é de investimentos de US$ 85 bilhões entre 2024 e 2028, embora investimentos mais altos, incluindo fusões e aquisições em potencial, possam levar a dividendos mais baixos.

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Sobre os preços dos combustíveis, a política atual permite mais flexibilidade (a faixa que os analistas estimam para o diesel pode representar cerca de 10% do Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações). Como os preços domésticos parecem estar significativamente abaixo das referências internacionais, os analistas levantam preocupações sobre governança e como isso pode impactar os resultados.

“No entanto, sinalizamos que, mesmo que os preços sejam mantidos estáveis, o Ebitda da Petrobras é ganhador líquido com a alta do Brent, ainda que numa extensão muito menor do que Juniors/companhias internacionais”, apontam.

Reajuste iminente? As sinalizações do CFO

Sobre a política de preços de combustíveis, na última semana, postos de gasolina do país começaram a reclamar de dificuldades para encontrar diesel, diante da queda de importações privadas nas últimas semanas. O problema, segundo o setor, reflete as elevadas defasagens em relação às cotações internacionais, que desestimulam importações privadas do produto.

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Tal desaceleração é atribuída ao atual nível de desconto entre o preço do diesel e a referência internacional (atualmente estimado em cerca de 26% a 27%). O petróleo atingiu na última sessão sua sétima semana de alta seguida, acima dos US$ 85 o barril e com projeções de que deve evoluir neste segundo semestre para US$ 90 ou mesmo ultrapassar essa marca.

Para o Goldman Sachs, contudo, a Petrobras pode estar prestes a aumentar o preço do combustível no Brasil, especialmente para manter o mercado equilibrado e evitar a escassez de combustível no Brasil, principalmente no lado do diesel, dado que cerca de 25% da oferta vêm de importações.

O tema, por sinal, foi destaque na reunião de analistas de mercado com o CFO da companhia, Sergio Caetano Leite.

Caetano confirmou que, se o preço do petróleo continuar em tendência de alta, a Petrobras ajustará os preços dos combustíveis. No entanto, a decisão não será baseada apenas na paridade de importação (IPP).

“O nível de lucratividade que a Petrobras almeja em seu negócio de refino permanece um tanto obscuro para nós”, aponta o BTG Pactual.

Segundo Caetano, a Petrobras maximiza valor via as taxas de utilização de suas refinarias, sugerindo que o objetivo final é capturar o máximo de participação de mercado possível.

De acordo com as estimativas do BTG, o desconto atual do diesel está em 27%, ou R$ 1,10 por litro. “Acreditamos que a maior utilização da capacidade não compensa o fato de que as margens de refino da Petrobras estão possivelmente próximas de zero agora, ou mesmo negativas se considerarmos o custo de oportunidade do refino de combustível. Portanto, a menos que seja significativo, acreditamos que qualquer ajuste de preço deve ter um impacto limitado sobre como os investidores percebem o valor do preço das ações hoje”, avaliam os analistas do banco.

Já o Bradesco BBI aponta que Leite reiterou que a gestão da estatal tem a liberdade de aumentar os preços. No entanto, o comitê de precificação da empresa ainda vê um ambiente volátil para as commodities e tem pouca convicção de que um aumento de preço seja necessário neste momento.

Outros três pontos foram destaque, segundo o banco: plano de investimentos, política de dividendos e fusões e aquisições.

O novo plano de capex da Petrobras deve saltar dos atuais US$ 78 bilhões para algo próximo a US$ 86 bilhões (incluindo fusões e aquisições, ou M&A). A alta para US$ 82 bilhões pode ser explicado principalmente pela inflação, com os outros US$ 4 bilhões sendo explicados por fusões e aquisições e novos projetos de transição. Os projetos com maior probabilidade de inclusão são os eólicos e solares onshore. Leite disse que todos esses projetos devem fazer sentido econômico.

Leite disse ainda que o argumento para um bom pagamento de dividendos extraordinários após os resultados do 4T23 permanece sólido. Parte do governo (da equipe econômica) não parece disposta a criar uma reserva estatutária para reter caixa na empresa.

Por fim, sobre fusões e aquisições, o CFO disse que a Petrobras não está tentando comprar a distribuidora Vibra (VBBR3). Já sobre a Braskem (BRKM5), quer seguir na companhia, mas não torná-la estatal, o que inclusive fez com que a ação disparasse na última quinta. 

Em relação ao tema, a companhia informou na manhã desta segunda-feira (14) que não houve decisão da Diretoria Executiva ou do Conselho de Administração em relação ao desinvestimento ou aumento de participação na Braskem.

Segundo a estatal, o processo de due diligence – que está sendo realizado – é apenas uma etapa necessária para análise e eventual exercício de tag along ou direito de preferência, na hipótese de alienação das ações detidas pela Novonor na companhia, conforme regras previstas no acordo de acionistas assinado entre Petrobras e Novonor.

PAC e plano de negócios

Enquanto isso, os investidores devem repercutir ainda os anúncios de sexta-feira sobre os projetos da Petrobras no novo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC).

A petroleira estatal terá 47 projetos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) de 2023. A maior parte dos projetos está relacionada à exploração e produção de petróleo e gás, mas a lista também inclui aumento da capacidade de processamento da Refinaria Abreu e Lima (RNEST) e iniciativas para melhorar o escoamento do gás produzido na Bacia de Santos.

Dentre os projetos, 90% dos investimentos previstos será voltado ao desenvolvimento de 19 novos sistemas de produção de petróleo e gás natural, com a maior parte dos projetos nas bacias de Campos e Santos e dois voltados para o Sergipe.

Conforme destaca o Itaú BBA, o atual Plano Estratégico 2023-2027 da Petrobras já inclui a maioria dos projetos abrangidos pelo PAC. No entanto, os detalhes divulgados sobre os projetos indicam que o novo Plano Estratégico 2024-2028 da empresa, que será divulgado em novembro, poderá incluir, pelo menos, novos investimentos brownfield (com produção já em andamento) em refino e a expansão do montante dedicado ao Fundo de Descarbonização da empresa.

O PAC também inclui alguns estudos a serem desenvolvidos pela Petrobras em diversas áreas, como petroquímica, fertilizantes e frota da Transpetro, que podem se transformar em novos projetos.

“O anúncio reafirma nossa visão de que não devemos esperar grandes mudanças no plano de capex da empresa no Plano Estratégico 2024-2028 a ser anunciado em novembro. Nossas estimativas preliminares para o novo plano, ainda sem considerar projetos de fertilizantes, petroquímicos ou renováveis, são de cerca de US$ 84 bilhões (um aumento de 8% em relação ao plano atual)”, avalia o BBA, que também possui recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) com preço-alvo de R$ 27 para os ativos PETR4.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.