Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4) ou BB (BBAS3): em qual “bancão” se posicionar para quando os juros caírem?

Algumas casas avaliaram outros ciclos de alívio monetário para basear escolhas e apostam em Bradesco, enquanto outras mantêm BB e Itaú como preferidas

Mitchel Diniz

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Não deve ser dessa vez que o Banco Central dará início ao esperado alívio nos juros. O primeiro corte da Selic, atualmente em 13,75%, é esperado para ocorrer entre as reuniões de agosto e setembro do Comitê de Política Monetária (Copom). Mas, à medida em que o afrouxamento se aproxima, esquenta também o debate sobre em qual ação de banco estar posicionado quando a taxa, finalmente, começar a cair.

Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) ainda são as preferidas da maioria das casas de análise, mas Bradesco (BBDC4) também começa a despontar em algumas carteiras de analistas. O banco, aliás, é o favorito do Morgan Stanley entre os grandes, por seu histórico em um ambiente de queda da Selic. Os analistas observaram que, nos últimos seis períodos de afrouxo monetário, o Bradesco performou acima da média e entregou retorno sobre patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) mais estável quando as taxas caíram.

Já Itaú sofreu mais que os seus pares nesse mesmo período, levando o Morgan Stanley a rebaixar os ADRs, recibos de ações do banco negociados nos Estados Unidos, de overweight (desempenho acima do mercado) para equalweight (similar ao mercado). “É difícil ignorar os resultados menos favoráveis do banco como reação à queda das taxas no passado (pelo menos frente os seus pares)”, avaliaram os analistas.

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A avaliação do Morgan Stanley sobre o Bradesco é de que seus ativos estão com o valuation deprimido, diante de um sentimento atual “excessivamente negativo”.

A Levante Ideia de Investimentos salienta que a carteira do banco é mais rentável, por concentrar crédito de maior risco. Porém, a maior alavancagem do banco em relação aos seus pares deve retornar a média histórica, “quando amenizados os impactos de inadimplência e a sensibilidade negativa a juros”.

Os analistas do JPMorgan, por sua vez, lembraram que o lucro do Bradesco superou o do Itaú quando os juros caíram para 2% em 2020. “Não houve grande mudança no tamanho de ambos os bancos: o total de ativos do Itaú representa cerca de 1,35 vez o do Bradesco”, apontam os analistas. A casa, hoje, tem recomendação overweight para ambos os papéis.

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O Credit Suisse também se baseou no histórico do Bradesco em ciclos de afrouxamento monetário para melhorar sua avaliação sobre o banco, ainda que o Itaú continue sendo o favorito da casa. Os analistas avaliaram oito ciclos de flexibilização desde 2020 e decidiram elevar a recomendação da ação para neutra e o preço-alvo de R$ 15 para R$ 18, próximo do patamar em que os papéis oscilam hoje.

“Certamente o Bradesco tem tudo para ter um 2024 com crescimento de lucro muito acima dos pares”, afirmou Marcelo Mizrahi, analista de equity na Norte Asset, durante o “Super Clássicos da Bolsa 2023”, evento remoto da XP, sobre ações de bancos. Porém, no curto prazo, Mizrahi observa que a a instituição financeira tem o desafio de ampliar sua carteira de crédito, ao mesmo tempo em que lida com uma piora da inadimplência.

“A diretoria tem que mostrar, nos próximos trimestres, que está entregando execução, para confirmar projeções mais firmes no ano que vem”, disse Alessandro Arlant, responsável pela análise de bancos na Dahlia Capital.

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Na visão do Itaú BBA, o Bradesco ainda vai ter um período difícil de recuperação, enfrentando questões cíclicas e estruturais. “Os ganhos do banco ainda estão sendo revisados para baixo e as ações podem cair mais se o humor do mercado azedar por alguma razão”, escreveram os analistas.

A Norte Asset, no momento, não tem ações do Bradesco em seu portfólio, justamente pelo risco de execução. Para Mizrahi, o mercado já precificou que o banco vai entregar retornos acima do custo de capital. Tesouraria e seguros reforçam essa percepção, mas a concessão de crédito, que é o core da instituição financeira, ainda deixa dúvidas.

“Mesmo em um cenário otimista, de crescimento de carteira, o Bradesco vai continuar com provisões elevadas nos próximos dois, três, quatro trimestres. E como desde o ano passado o banco freou a originação de empréstimos de maior risco, vemos um desafio para o crescimento de receitas”, explicou o analista.

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“É possível que o banco entre em 2024 com uma inadimplência em patamar ainda elevado, com uma receita mais fraca, colocando em risco as projeções de crescimento enorme de lucro do Bradesco no ano que vem”, complementa.

Já o Itaú, segundo Mizrahi, não teria grandes desafios para obter um crescimento de lucro de 15% este ano e no próximo.

“Acho muito possível que o Itaú saia na frente nesse movimento de crescimento de carteira em relação aos pares. O banco não está digerindo uma carteira problemática de pequenas e médias, ele já digeriu uma carteira problemática em cartão de crédito, não está digerindo nenhuma carteira problemática em crédito pessoal”, diz o analista.

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“Um banco sem problema de gestão de carteira inadimplente tende a crescer mais rápido”, avalia.

Exageros nas perspectivas para o Banco do Brasil

Arlant é defensor da tese do Banco do Brasil, apesar do banco ser considerado mais sensível à queda de juros pelo seu perfil de carteira. A instituição financeira é forte em crédito rural e empréstimos consignados, que são concedidos a juros mais baixos. Por outro lado, isso ajuda no controle da inadimplência.

“O banco já errou na concessão de crédito a não correntistas, mas corrigiu essa rota no ano passado”, diz o analista. “Pode haver mais casos como o das Americanas (AMER3) e um maior endividamento das famílias no ano que vem, mas hoje, a inadimplência do banco é razoável frente às avenidas de crescimento”.

Mesmo sendo uma instituição financeira de capital misto, o BB tem entregado ROE no mesmo patamar do Itaú, motivo pelo qual BBAS3 é uma das maiores posições da Dahlia Capital hoje. “Se a conjuntura andar e o macro ajudar, o lucro do banco vai continuar crescendo nos próximos trimestres”. A casa acredita que o banco consegue entregar crescimento de lucro de dois dígitos no ano que vem.

Essa também é a avaliação do Itaú BBA, que elevou estimativas para o BB e o preço-alvo da ação (para R$ 56). Nos cálculos dos analistas, o ROE da instituição financeira deve se manter em torno de 20% este ano e no próximo.

“Consideramos que os receios sobre o efeito de uma taxa Selic mais baixa em sua receita líquida de juros [NII, na sigla em inglês] e, consequentemente, nos lucros de 2024, são exagerados”, escreveram os analistas.

Para o BBA, o Banco do Brasil pode mais do que compensar o impacto negativo da Selic mais baixa nos resultados de tesouraria ao transferir parte de seus R$ 430 bilhões em títulos públicos e outros instrumentos para ativos de crédito.

“Ressaltamos que, atualmente, apenas 47% dos ativos rentáveis  do BB são de crédito, gerando um spread em relação ao CDI e bem abaixo da média histórica de 50%-55%”, diz a equipe de análise.

“O ROE consistentemente acima do setor, juntamente com a redução do prêmio de risco-país e uma governança aprimorada, provavelmente, justificarão uma reavaliação”.

Recentemente, o Bank of America também destacou visão positiva para o papel BBAS3, destacando sólidos lucros, níveis de valuation deprimidos e processo de transição mais suave do que o esperado do novo governo.

Alessandro Arlant, da Dahlia, diz que o mercado ainda não compreende as transformações pelas quais o banco passou na última década, com uma gestão focada na manutenção dos atuais níveis de retorno. Segundo ele, o acionista ainda atribui um valor baixo ao BB por risco político.

“O setor bancário é o que tem menos risco de ingerência e viés político”, diz o analista, citando a regulamentação da Basileia 3, que ajudou a “corrigir erros de rota cometidos no passado”.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados