Ibovespa cai mais de 0,50%, a despeito de inflação mais fraca nos EUA e no Brasil; dólar sobe

CPI não foi suficiente para fazer investidores acreditarem que Fed pode cortar juros em março nem para melhorar sentimento quanto à demanda

Vitor Azevedo

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Os movimentos dos mercados têm sido de difícil interpretação nos últimos dias. Após o temor de juros altos por mais tempo se esvair durante o novembro, os índices vêm se comportando de maneira diferente daquilo visto em boa parte do ano.

O Ibovespa hoje cai 0,66%, por volta das 15h00, aos 126.166 pontos, mesmo com um recuo dos treasuries yields, da curva de juros brasileira e de uma alta dos índices norte-americanos.

Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq sobem, respectivamente, 0,34%, 0,15% e 0,25%. Já o treasury yield para dez anos perde 2,5 pontos-base, a 4,214% – apesar do o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) ter subido 0,1% em novembro, acima das projeções, que previam estabilidade.

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“Apesar da ligeira divergência entre as projeções para o headline e o dado realizado (do CPI), nenhum dos grupos apresentou comportamento que motivasse uma leitura mais negativa da inflação no decorrer do período. No caso dos preços mais voláteis, o grupo de alimentação registrou alta de 0,2% MoM, desacelerando frente ao mês imediatamente anterior (+0,3% MoM) e mantendo a média observada nos últimos 6 meses”, fala Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

O fato de o núcleo da inflação, que exclui alimentos e combustíveis do cálculo, ter ficado dentro do esperado, segundo especialistas, ajuda a explicar o motivo de os treasuries estarem sob controle.

E mesmo com o dado vindo acima do esperado, o número ainda acendeu o temor de problemas quanto à demanda de petróleo e outras commodities. O barril Brent cai mais de 3%, negociado abaixo de US$ 73,60, sendo que o recuo se acentuou após a publicação do CPI.

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Fora isso, nos últimos pregões, o mercado americano já tem recebido de forma diferente dados macroeconômicos que mostram que a economia ainda está minimamente aquecida.

“Agora o mercado já precificou o fim do aumento das taxas de juros. O que passa a ser monitorado é se o esfriamento econômico será suave ou se intensificará para uma recessão”, diz André Luiz Rocha, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Ibovespa sob cautela

Na Bolsa brasileira, porém, a cautela vista é maior. Isso provavelmente se dá pelo fato de o Ibovespa ter forte participação das companhias exportadoras de commodities, produtos cujo as demandas são dependentes da economia mundial, e também pelo índice sofrer mais quando o sentimento de cautela se fortalece nos Estados Unidos.

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“Acho que estamos vendo uma cautela maior, talvez em relação à velocidade que se dará o corte do juros americano. Isso pode ter efeito sobre o fluxo vindo dos estrangeiros, que estão aportando fielmente na Bolsa brasileira desde o final de outubro. Eles podem ter repensado o movimento”, comenta Anderson Meneses, CEO da Alkin Research.

“Ontem, o investidor americano apostava em mais ou menos 56% de chance de um corte do Federal Reserve na taxa em março. Hoje, depois dos dados, esse número já caiu para 40%”, acrescenta. “Nossa Bolsa já contava, em parte, com o corte mais imediato”.

Enquanto os índices americanos se beneficiam da sinalização de uma economia levemente aquecida, o que deve levar a um lucro maior das empresas (e apesar de o dado afastar a crença de um corte de juros em março pelo Fed), países emergentes tendem a sofrer mais por conta dos juros elevados por mais tempo nos Estados Unidos.

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Taxas mais altas por lá levam a um fluxo de saída das Bolsas desses países, com investidores optando por assumir menos riscos.

Há aparentemente, então, um limbo no que se diz respeito à Bolsa brasileira. O dado da inflação americana não foi suficiente para fazer investidores acreditarem que o Fed possa cortar os juros em março, o que traria fluxo, nem para melhorar o sentimento com a economia e, sucessivamente, com a demanda de commodities.

Dentro desse cenário, as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) caem 1,31%, seguindo o preço do petróleo.

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Por fim, a curva de juros brasileira também recua. As taxas dos DIs para 2024 perdem 2,4 pontos-base, a 11,72%, e as dos DIs para 2025, 3,5 pontos, a 10,28%. Os contratos para 2027 perdem 10,5 pontos, a 12,66%, e os para 2029, 10 pontos, a 10,44%. Os rendimentos dos DIs para 2031 caem 10 pontos, a 10,72%.

As taxas de juros brasileiras caem acompanhando os treasuries e, além disso, repercutem a publicação do IPCA de novembro. O principal índice de inflação do país teve leitura de alta de 0,28%, aquém do consenso de 0,30%.

Na opinião de Carla Argenta, economista chefe da CM Capital, alguns movimentos de preços pavimentam o caminho para a continuidade da condução da política monetária por parte do Banco Central.

O primeiro é que, mesmo com aceleração impulsionada do grupo de alimentação e bebidas, que representa quase metade do indicador em termos de itens, o índice de difusão recuou, de 52,5% para 51,7%, na margem.

A perspectiva de que o Fed pode demorar mais para iniciar seu ciclo de queda de juros, enquanto o Banco Central brasileiro pode dar continuidade aos seus cortes, porém, ajuda a enfraquecer o real, com o dólar subindo 0,56% frente à divisa brasileira, a R$ 4,964 na compra e a R$ 4,965 na venda.

Fora isso, o recuo das commodities, que impactam a balança comercial, também é parte dessa justificativa sobre o dólar.

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