IPCA-15 tem leitura positiva dos economistas, mesmo com surpresa nas passagens aéreas

Medidas de núcleos, serviços subjacentes e preços industriais reforçam desaceleração e trazem tranquilidade para decisões do BC

Roberto de Lira

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Apesar da surpresa com a magnitude da alta dos preços das passagens aéreas em outubro, que trouxe impacto nos preços dos serviços, o dado do IPCA-15 do mês divulgado nesta quinta-feira (26) pelo IBGE foi considerado benigno pelos economistas e uma fonte de alívio para as próximas tomadas de decisão do Banco Central. Os especialistas destacaram a continuidade da desaceleração dos núcleos do indicador, dos serviços subjacentes e do índice de difusão no mês.

A prévia da inflação oficial do país subiu 0,21% no mês, pouco acima do consenso Refinitiv, que previa alta de 0,20%.

Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, comenta que o banco estava com uma projeção até mais baixa que a mediana do mercado (de 0,18%), mas que a inesperada variação de quase 24% nas passagens aéreas – o tem, considerado muito volátil, veio praticamente o dobro da estimativa – trouxe impacto direto no grupo de Transportes.

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Mas ela ponderou que, de maneira geral, o IPCA-15 pode ser considerado muito bom, não só pela composição em si, mas por causa das medidas de núcleo. A média dessas medidas ficou em 0,23%, ante expectativa do mercado de 0,30%. “E, apesar do número de serviços ter vindo mais alto, por causa das passagens aéreas, os subjacentes vieram em 0,14%, abaixo do que a gente estava esperando”, avalia.

A tendência de desaceleração da inflação continua e isso é uma boas notícia para o BC, mesmo com o cenário de bastante volatilidade e incerteza global, destaca Laiz. “Não deve mudar o caminho do BC para 2023. A gente continua esperando uma redução de 50 pontos-base na reunião da semana que vem, para 12,25%. E no final do ano mais uma redução de 50 pontos, com a Selic fechando em 11,75%”, prevê.

Além desses destaques, Claudia Moreno, economista do C6 Bank, cita os preços da alimentação em domicílio, que continuam em queda, com recuo de 0,52% em outubro. “Foi a quinta deflação seguida desse grupo, que tem um peso importante no cálculo da inflação. Um dos destaques do grupo é a deflação de leites e derivados (-2,8%), que acumula queda de 6,3% em 12 meses. Vale lembrar que o preço de leites e derivados em geral subiu 22% no ano passado”, compara

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Claudia também observa que, no acumulado de 12 meses, a inflação de já mostra uma pequena desaceleração na margem, recuando de 5,6% para 5,4% até outubro. “Os núcleos do Banco Central também desaceleram nessa métrica, acumulando até outubro alta de 4,8%, abaixo dos 5,1% medidos até setembro”, observa.

Mesmo com esse comportamento, a economista do C6 Bank segue acreditando que a inflação de serviços continuará resiliente, em função de um mercado de trabalho aquecido. “Mantemos nossa projeção de que inflação deverá fechar o ano em 5,2% e subirá para 5,5% em 2024”, estima.

André Nunes de Nunes, economista chefe do Sicred, também atribuiu às passagens aéreas o desvio em relação às projeções, mas lembra que isso foi parcialmente compensado por uma leitura mais fraca em bens industriais, de -0,01%, ante uma expectativa de +0,08%. Ela foi puxada pela queda nos itens duráveis (-0,16%), com destaque para veículos usados (-0,87%) e aparelhos telefônicos (-1,7%).

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Na inflação de serviços, ele destaca os preços dos subjacentes, que ficaram em 0,14%, ante projeção de 0,32%, especialmente os preços de seguro voluntário de veículos (-2,19%) e de conserto de automóvel (-0,39%).

“Com isso, a inflação desse grupo importante para o Copom continuou desacelerando nos últimos 12 meses, de 5,2% para 4,9%. É um movimento expressivo de desaceleração, de forma que tende a trazer segurança para que o Copom continue flexibilizando o aperto monetário no ritmo atual”, comenta.

Inflação na meta

Rafaela Vitória, economista chefe do Inter, afirma que a desaceleração do IPCA-15 para 0,21% no mês indica que inflação oficial ficará dentro da meta este ano. “A abertura dos dados mostra um qualitativo bastante benigno, com queda na média dos núcleos e também em serviços subjacentes. “A difusão também permanece baixa, em 47%, mostrando que a queda da inflação é mais disseminada”, afirma.

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A economista comenta ainda que os dados indicam que atividade deve seguir mais fraca nesse início do 4º trimestre, um cenário que deve permitir a continuidade da redução da Selic.

“De fato, o cenário é compatível com uma aceleração dos cortes da taxa de juros, mas o cenário externo com maior volatilidade e os juros maiores dos títulos do tesouro americano aumentam a incerteza e devem indicar a manutenção da cautela por aqui no afrouxamento monetário. Mantemos nossa expectativa de cortes de 50 nas próximas 3 reuniões e Selic terminal de 9% em 2024.”

Alex Agostini, economista chefe da Austin Rating, atribuiu a redução da inflação na margem – de 0,35% em setembro para 0,21% em outubro – à queda da gasolina, lembrando que o indicador anunciado hoje nem considerou o recente reajuste para baixo nos preços anunciado pela Petrobras.” Ou seja, o indicador pode novamente ter um resultado bastante moderado em novembro”, estima.

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Sobre o índice de difusão, Agostini aponta que a média em 2023 está 54,9%, muito abaixo da média de 70,115 observada entre janeiro e outubro de 2022. “Reforça o cenário de que a inflação está, de fato, desacelerando de forma muito consistente, respondendo a medidas de elevação da taxa de juros. Permite ao BC continuar reduzindo a taxa Selic em pelo menos 0,50 ponto percentual na reunião de 1º de novembro”, prevê.

A Austin reviu sua projeção para o IPCA cheio do mês, de 0,25% para 0,17%. “Com isso, também revisamos a projeção para o ano, saiu de 4,70 para 4,50. Portanto o BC vai cumprir a meta de inflação neste ano, algo que há três meses atrás era praticamente impensável”, diz Agostini.

Andrea Damico, economista chefe da Armor Capital, também cita como destaques no mês, os serviços subjacentes – que excluem a variação da passagem aérea –, a redução dos núcleos e a continuidade da desaceleração de bens industriais. “Do ponto de vista da abertura, da desagregação, o dado foi bem favorável e benigno para a inflação”, confirma.

Ela também acredita que o dado de hoje reforça a continuidade do ciclo de queda imposto pelo BC, apesar do cenário externo mais desafiador, com mais vetores de risco. Para Andrea, o Copom vai continuar reduzindo os juros no ritmo de 50 pontos-base devido a essa tendência benigna da inflação corrente. “E isso está acontecendo nos núcleos, nos bens industriais e nos serviços subjacentes”, reforça.

Essa trajetória benigna também é destacada por Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research. “De forma geral, esse IPCA-15 não altera o nosso cenário. Os últimos dados vêm mostrando que a inflação brasileira segue mais controlada. Além disso, o Boletim Focus continua mostrando estabilidade das expectativas de inflação”, lembra.

Ele cita ainda que, para 2023, o mercado já começou a projetar uma inflação terminal dentro do intervalo da meta, embora para períodos mais longos siga estável há algumas semanas – levemente acima da meta de 3,0% – por conta das incertezas que há no cenário como, por exemplo, o risco fiscal.

“O Banco Central enxerga uma melhora no cenário, mas é preciso que a inflação continue dando sinais claros de convergência para meta, principalmente as medidas subjacentes, para continuar a trajetória de cortes na taxa de juros”, analisa.

Rafael Costa, analista do time de estratégia macro da BGC Liquidez, por sua vez, comenta que há uma visão de um cenário de desinflação consistente, reforçada pelos bons resultados de hoje na inflação serviços subjacentes e na média dos núcleos.

A opinião de Ariane Benedito, economista da Esh Capital, o qualitativo do indicador não deixa dúvidas da desaceleração gradual da inflação brasileira, embora ela deva ganhar um pouco de tração na medição nos últimos meses do ano. “No entanto, esse fator já está inserido em nossas projeções finais de 4,6% de inflação para 2023.”

Na análise do Itaú, a inflação subjacente, tanto nos serviços como na indústria, foi melhor do que o esperado, reforçando uma sequência de dados de inflação com uma quebra benigna.

“Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, a leitura do IPCA-EX3, subjacente a serviços e bens, desacelerou para 2,8%, ante 3,3% em setembro e 6,3% em junho deste ano. A métrica de difusão, tanto para o índice cheio quanto para o núcleo IPCA-EX3, continuou apresentando queda adicional, sinalizando maior desinflação à frente”, diz a análise do banco.