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Os dados de vendas no varejo de agosto, divulgados hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se apresentaram melhores que o esperado, com queda de 0,2% na base mensal e avanço de 2,3% na comparação com agosto de 2022. O consenso Refinitiv apontava queda de 0,7% na base mensal e avanço de 1,2% na comparação anual.
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças, material de construção e atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo, o volume de vendas recuou 1,3% frente a julho, após variação de -0,4% em julho de 2023.
A desaceleração econômica observada nos dados de varejo de hoje se conecta com a queda inesperada do setor de serviços, que apresentou recuo de 0,9% em agosto em comparação com o mês anterior. A projeção do consenso Refinitiv era de alta de 0,4% e o desempenho do setor inspira “cautela”, de acordo com analistas.
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Consumo perde força
Ainda que com redução menor que a esperada pela maioria, as vendas no varejo vieram “fracas”, de acordo com Goldman Sachs, principalmente impactadas pela queda nas vendas de móveis e eletrodomésticos, bens pessoais e livros e jornais. O banco destaca que mesmo com o aumento das vendas de automóveis e autopeças, houve queda nas vendas de materiais de construção.
Para o Itaú, a maior surpresa no varejo restrito foi o setor de hipermercados e mercados (que cresceu 5,6%, considerando a expectativa de 4,2% em comparação com o ano anterior), enquanto, no varejo ampliado, o destaque foi o atacado especializado em alimentos, que subiu 8,8% ante os 24% esperados na comparação anual.
A XP entende que “as vendas varejistas mostraram sinais mistos na abertura setorial”. A corretora destaca que o consumo das famílias, em especial com bens e serviços, vem “perdendo força” e corrobora com a projeção da corretora de estagnação do PIB neste semestre.
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“Embora venha se destacando positivamente na composição setorial, as vendas do ‘Atacarejo Especializado em Alimentos, Bebidas e Fumo’ responderam por grande parte da diferença entre o resultado efetivo e nossa estimativa para o índice de varejo ampliado – tal categoria subiu 8,8% em agosto de 2023 frente a agosto de 2022, significativamente abaixo da média de crescimento interanual ao redor de 20% observada entre maio e julho”, considera a XP.
Ainda que o número possa apontar variação negativa no PIB (na avaliação do Banco Inter, de -0,2% no terceiro trimestre), deve-se considerar que o dado é positivo para a manutenção do ciclo de queda da Selic.
“Por outro lado, a atividade mais fraca é uma boa notícia para a política monetária, e deve validar o cenário do Copom de cortes de 0,50 p.p. Nas próximas reuniões, apesar da deteriorização do cenário externo”, afirma Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter.
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Divergências sobre tendência
As análises consideram que o dado demonstra o enfraquecimento da atividade econômica e que os próximos deverão apresentar a mesma tendência, segundo Bradesco e XP.
“O desempenho do comércio varejista corrobora nossa leitura de desaceleração da atividade econômica, ainda que gradual e não homogêneo setorialmente. Projetamos crescimentos de 2,7% e 2,0% para o PIB de 2023 e 2024, respectivamente”, considera o Bradesco.
Para a XP, os gastos pessoais deverão crescer de forma mais modesta nos próximos tempos, considerando as condições atuais de crédito e o endividamento das famílias. A corretora entende que o comércio varejista seguirá fraco até o fim de 2023. As projeções de crescimento do índice de varejo ampliado e restrito são de 4,5% e 1,8% em 2023, respectivamente.
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A visão do Itaú é um pouco mais otimista e o banco tem expectativas de melhora nos dados para o próximo mês.
“As vendas no varejo ampliado recuaram em agosto, influenciadas pelo atacado especializado em alimentos. Depois da fraca performance em agosto, esperamos que tanto o varejo restrito quanto o ampliado subam em setembro”, destaca o Itaú.
“No futuro, esperamos que a atividade varejista continue a se beneficiar de um estímulo fiscal significativo (transferências fiscais federais para famílias de baixa renda com alta propensão a consumir), expansão sólida da renda disponível real das famílias e aumento da confiança do consumidor”, considera o Goldman Sachs.
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É a mesma visão de Ariane Benedito, economista e RI da Esh Capital, que considera que o resultado atual veio em linha com o consenso de desaceleração.
“Para as próximas medições, há probabilidade acentuada de continuidade de arrefecimento, impactado pela conjuntura de aperto monetário mais contracionista, mas a medição sem ajuste sazonal deve apresentar crescimento para o varejo mesmo que na margem”, entende a economista.
Para Leonardo Costa, economista da ASA Investments, a tendência é de “esfriamento dos principais segmentos para a segunda metade de 2023”.
“De modo geral, esse resultado segue a tendência observada no ano: números estáveis e com variações próximas de zero. Olhando à frente, nossa percepção é mais otimista, sobretudo para o varejo restrito”, avaliam Marco Antonio Caruso e Igor Cadilhac, economistas do PicPay.