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“Estado de emergência eleitoral” aprofunda tensão entre política e economia no governo

Se vantagem de Lula sobre Bolsonaro não cair nas próximas semanas, pressão sobre equipe econômica por saída para redução nos preços de combustíveis e energia elétrica deve aumentar
Por  Paulo Gama
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A marca de quatro meses para a eleição fez recrudescer a pressão da ala política do governo por alternativas que melhorem as chances de Jair Bolsonaro (PL) na disputa de outubro. Embora o discurso oficial seja o de que o presidente deve crescer até cinco pontos com as inserções partidárias que o PL começou a levar à TV nesta semana, a distância que o ex-presidente Lula mantém nas pesquisas às vésperas da campanha evidenciou, para esse grupo, que algo precisa ser feito.

Sintoma desse desconforto é que as inserções do PL precisaram escolher a temática dos costumes para tentar ganhar terreno – por óbvio, ainda não se viu espaço para uma defesa do momento da economia. “Está tentando disputar o coração porque está difícil ganhar o bolso”, resumiu um experiente estrategista eleitoral.

Na cabeça do time econômico, a flexibilização das regras fiscais defendidas por parte do governo e por aliados no Congresso – por meio da decretação do estado de calamidade ou de uma PEC para permitir créditos extraordinários para subsidiar o diesel – acabaria sendo usada para suprir a demanda por novas políticas eleitoreiras, avançando ainda mais em outros gastos com impacto eleitoral. “O ‘estado de calamidade’ não pode ser consequência de um ‘estado de emergência eleitoral’”, ironizou um auxiliar de Paulo Guedes, na batalha contra a edição do decreto.

Técnicos veem também dificuldades na implementação do subsídio ao diesel e alertam para efeitos colaterais da medida, que – ao sinalizar descontrole fiscal – poderia ter impacto no câmbio, com reflexos no preço interno dos combustíveis e na inflação. Por isso, o caminho defendido na equipe econômica é o de primeiro se observar impactos das políticas com discussão mais avançada, como é o caso do PLP 18, que reduz o ICMS sobre combustíveis e energia, antes de encarar a discussão sobre alguma dessas outras medidas.

Mas, sem que a distância entre Lula e Bolsonaro se feche nas próximas pesquisas, a disputa entre ala política de um lado e o time econômico de outro tende a se acentuar.

Mesmo se acertar na decisão, governo continuará tendo desafios para fechar ainda mais a diferença em relação a Lula, mas tem um caminho – a surpresa nos dados de desemprego divulgados no início da semana apontam nessa direção. Mas, errando a mão, pode ver uma reversão nessa tendência de estreitamento da distância entre as duas candidaturas.

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Paulo Gama Paulo Gama é analista político da XP desde 2017. Tem experiência de mais de dez anos na cobertura do cenário político nacional. Antes da XP, atuou entre 2009 e 2017 como repórter da Folha de S.Paulo, sediado em Brasília e em São Paulo. É formado em jornalismo pela USP com pós-graduação pela Universidade Lyon 2, na França.

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