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Terceira via passa por momento determinante e tenta evitar “abraço de afogados”

Enquanto Bolsonaro avança, a “terceira via” derrapa nos próprios problemas. Não há sequer unidade interna nos partidos que hoje dizem buscar uma candidatura comum
Por  Paulo Gama
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A permanência da chamada terceira via no primeiro turno das eleições de outubro passa por um momento determinante. Se não encontrar uma estratégia para ampliar os 15% dispersos hoje nas suas principais candidaturas, o risco é o de que a continuidade do crescimento de Jair Bolsonaro e a aproximação entre ele e Lula nas pesquisas acabem por forçar uma antecipação da decisão desse eleitorado entre os dois líderes.

Não se trata de discutir competitividade da terceira via – já falamos sobre o espaço estreito que ela tem para ser viável –, mas sim da conservação de uma fatia dos votos na disputa de outubro que possa atuar na direção de um aceno dos dois líderes ao centro entre o primeiro e o segundo turno.

E essa fatia tem diminuído: entre dezembro de 2020 e abril de 2021, o grupo – heterogêneo – que hoje tem como principais representantes Ciro Gomes, João Doria e Simone Tebet viu uma tendência de encolhimento dos votos “nem nem” de 33% para 27%. E a redução não se tratou apenas da saída de Sergio Moro da disputa: um estudo conduzido por Victor Scalet, economista da equipe da XP, mostrou que Bolsonaro herdou apenas 1,5 ponto percentual do espólio do ex-juiz.

O restante desse encolhimento vem do crescimento de Bolsonaro por “mérito próprio”, ou seja, da recuperação da popularidade do próprio presidente, que terminou por converter parte do eleitorado que repousava entre os indecisos no final do ano passado.

Mas, enquanto Bolsonaro avança, a “terceira via” derrapa nos próprios problemas. Não há sequer unidade interna nos partidos que hoje dizem buscar uma candidatura comum. Na União Brasil, a indicação de Luciano Bivar é artifício apenas para tirar Sergio Moro das conversas. No MDB, segue a divisão histórica de outras campanhas em que as seções do Nordeste se mostram dispostas a apoiar Lula a despeito da posição central do partido.

E, no PSDB, não há decisão nem sobre respeitar o resultado das prévias que o partido organizou em 2021 e que asseguram a João Doria a condição de candidato do partido a partir de agosto.

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Para evitar um abraço de afogados, há na mesa a tentativa de balizar a escolha por algum critério objetivo. Fala-se na possibilidade de pesquisas para medir o potencial de votos – mas, sem fatos novos no próximo mês que ensejem alterações relevantes nos números atuais, não grande expectativa de mudança.

O lado positivo para a terceira via do fato de que Jair Bolsonaro cresceu por conta própria nesses últimos meses é a constatação de que há parte dos votos de Moro que ainda estão “disponíveis”. O mesmo estudo mostra que 3 dos 9 pontos do ex-juiz migraram para os indecisos e formam uma cesta disponível.

O risco é que esse grupo logo se disperse entre os líderes caso não haja clareza do caminho a ser trilhado por essa terceira via.

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Paulo Gama Paulo Gama é analista político da XP desde 2017. Tem experiência de mais de dez anos na cobertura do cenário político nacional. Antes da XP, atuou entre 2009 e 2017 como repórter da Folha de S.Paulo, sediado em Brasília e em São Paulo. É formado em jornalismo pela USP com pós-graduação pela Universidade Lyon 2, na França.

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