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Riscos externos e juros altos: o que fazer?

Em momentos como este, a corrida dos investidores é por encontrar um estacionamento seguro para seus recursos e poder dormir tranquilo
Por  Fernando Camargo Luiz -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Com os juros ainda em patamar elevado, após a decisão do Copom em manter a taxa Selic em 13,75% ao ano e em meio a uma crise de crédito no Brasil e a incerteza do cenário externo que continua aquecido, o Ibovespa perdeu o suporte dos 100 mil pontos, demonstrando que a aversão ao risco tende a se intensificar. A corrida por segurança já era uma realidade desde o final do ano passado, mas agora, até os mais ousados resolveram reduzir suas exposições diante do temor de que o cenário para 2023 seja ainda pior do que tinha sido traçado.

Nós já vínhamos trabalhando com um cenário recessivo para 2023 desde o ano passado, mas fatores como a crise financeira internacional, que atingiu grandes instituições e o chamado inverno do varejo brasileiro, pioraram até as projeções mais pessimistas.

Pesquisa do Bank of America publicada pela Bloomberg mostra que os investidores estão pessimistas e acreditam que uma crise sistêmica de crédito é o principal risco atual. A fonte mais provável é o sistema bancário paralelo dos EUA, seguido por dívida corporativa americana e mercado imobiliário de países desenvolvidos. O levantamento ouviu 212 gestores com US$ 548 bilhões sob gestão e foi realizado na segunda semana de março.

Em momentos como este, a corrida dos investidores é por encontrar um estacionamento seguro para seus recursos e poder dormir tranquilo. Nossa expectativa é que veremos a corrida por alternativas para alocação de capital com baixo risco se ampliar. Há a dificuldade de encontrar lugares seguros para alocar capital e, por este motivo, a preferência é por liquidez. Como a oferta de dinheiro para este tipo de investimento está grande, os retornos marginais tendem a cair no tempo.

Além disso, o efeito manada acaba sendo cruel quando a porta de saída se estreita e, desavisadamente, investidores realizam os prejuízos quando poderiam esperar um momento melhor de tomar suas decisões. Vale sempre lembrar que o prejuízo nos investimentos depende não somente dos ativos que compramos, mas quando se aporta e pelo tempo que se faz isto. Olhar a cota diária do fundo se torna uma armadilha cognitiva que leva bons investidores potenciais e tomar decisões erradas.

Dados da Anbima mostram que, em fevereiro, pelo quarto mês consecutivo, a indústria de fundos de investimento registrou resgates líquidos, desta vez na ordem de R$ 28,6 bilhões. Os maiores volumes financeiros saíram das classes multimercados, renda fixa e ações, que, juntas, somaram resgates líquidos de R$ 28,7 bilhões. No ano, a captação acumulada mostra um saldo negativo de R$ 55,3 bilhões. A categoria renda fixa, por exemplo, reverteu o saldo positivo de janeiro, captação líquida de R$11,1 bilhões, para um resgate líquido de R$ 7,5 bilhões em fevereiro.

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Na contramão, os fundos de baixo risco, que não contam com exposição ao crédito privado e exibem baixa volatilidade, tem registrado crescimento. Até porque podem ser empregados como um estacionamento seguro para aqueles que estão buscando onde investir. Conhecidos no jargão do mercado como fundos de caixa, estes multimercados contam com zero nível de exposição ao risco de crédito privado corporativo e liquidez praticamente imediata. A rentabilidade buscada é acima do CDI e, por consequência, bem acima da poupança, o pior dos investimentos, mas conhecida equivocadamente como o “porto seguro do brasileiro”, apesar de não o ser.

Além do baixo risco, alta liquidez e retorno superior aos produtos oferecidos na rede bancária, que por si só atrai a atenção do mercado, muito do movimento dos fundos de caixa está relacionado às perdas recentes de produtos que estavam expostos ao risco de crédito privado, onde sabidamente o risco é tremendamente assimétrico ao retorno, ainda mais no ambiente de desaceleração em que o Brasil se encontra.

O movimento de busca por liquidez e segurança é acertado no momento. Mas o que o investidor deve estar atento é de onde ele está sacando. É hora realmente de sacar a aplicação realizando prejuízo? Muito provavelmente não. Recursos novos devem ser estacionados em produtos de baixo risco e elevada liquidez para que sejam aportados no momento certo. Já aqueles que já estão aplicados precisam de uma análise criteriosa para evitar o velho erro de entrar na alta e sair na baixa.

 

 

Fernando Camargo Luiz gestor da Trópico Investimentos

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