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Até pouco tempo, investir no exterior não era algo acessível para os brasileiros não milionários. Ações e fundos com exposição internacional eram restritos. Não havia corretoras com ofertas de contas internacionais. O próprio mercado de investimentos global não era tão difundido.
Este cenário mudou. Diversificação virou palavra de ordem – e ter aplicações em outras moedas é uma forma de conquistá-la, protegendo o patrimônio dos ruídos da economia e da política brasileiras. Mas, qual a melhor moeda para focar na hora de montar uma reserva internacional: dólar? Euro? Libra? Yuan?
O primeiro ponto a analisar para tomar essa decisão, segundo os especialistas consultados por InfoMoney, é a correlação entre as moedas, e não a correlação delas com o real.
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No caso de dólar e euro, o par de moedas mais óbvio, ambas são mais fortes que o real. Então, o importante é entender qual apresenta uma relação de força maior entre elas.
No ano passado, pela primeira vez na história, o euro perdeu a paridade de um para um com o dólar e chegou a valer menos de US$ 1. A moeda desvalorizou em meio à crise na Europa, devido às altas inflações nos países e à guerra entre Rússia e Ucrânia.
Em setembro, a Zona do Euro atingiu 10% de inflação acumulada em 12 meses, o que também foi inédito. O principal impulso foi o aumento dos preços de energia, que atingiu 40,8% naquele mês. Devido à guerra, a Rússia cortou o abastecimento de gás para os países europeus, o que instaurou uma crise energética no bloco econômico.
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O ritmo do aumento de preços na Zona do Euro arrefeceu para 7% em maio, considerando o acumulado em 12 meses. Os juros já passaram por seis aumentos consecutivos e chegam a 3,75% ao ano – durante a pandemia, as taxas estavam em patamares negativos.
O dólar, por sua vez, também enfrenta algumas dificuldades. Os Estados Unidos lutam contra a inflação e elevaram os juros dez vezes consecutivas nos últimos meses, para a faixa entre 5% e 5,25% ao ano – um patamar alto para os padrões do país.
As altas taxas desencadearam uma crise bancária que levou quatro bancos americanos à falência (First Republic, Silicon Valley Bank, Signature Bank e Silvergate Capital). Segundo os economistas, ainda em 2023, os Estados Unidos devem ter recessão – todos fatores de instabilidade que minam uma valorização do dólar.
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Leia também:
- Como investir em dólar em 2023? Cinco formas de atrelar a carteira à moeda estrangeira – e um alerta
Entre dólar e euro, qual a melhor moeda?
Carlos Honorato, professor da FIA Business School, vê dificuldades para ambas as moedas. “Definir uma escolha de moeda neste ambiente é arriscado. Há muitos ruídos na economia internacional que devem perdurar por meses ou anos”, diz.
Porém, o professor considera o cenário da Europa pior. Por se tratar de um bloco econômico, é necessário que todos os países melhorem para alcançar uma estabilidade – o que é difícil. Além disso, a guerra entre Rússia e Ucrânia influencia a região de forma mais direta.
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A economia europeia está mais frágil. Os países ainda lidam com inflações muito altas e o custo energético continua caro para a região
Carlos Honorato, professor da FIA Business School
Sobre os Estados Unidos, o professor destaca o problema do endividamento com o teto da dívida e os avanços da China. “Esses acontecimentos enfraquecem a economia, mesmo que o país continue geopoliticamente forte”, diz. “A ideia de que o dólar eternamente se valorizará é cada vez menos certa.”
Ainda assim, Honorato vê mais chances de recuperação do dólar e dos Estados Unidos no médio prazo do que do euro e da Europa.
Para quem tem interesse na exposição a essas moedas, o professor da FIA aconselha ter cuidado e estar disposto a enfrentar as oscilações que o câmbio pode sofrer, ainda mais em um ambiente de conflitos e crises internacionais.
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Como iniciar uma reserva internacional
Iniciar uma reserva internacional não é trocar reais por dólar, euro, libra ou yuan como quando se planeja uma viagem ou um período de trabalho no exterior. Em situações como essas, a moeda que circula no país de destino é o fator mais importante na escolha.
No caso da formação de uma reserva internacional como investimento de longo prazo, é preciso considerar as opções de investimento disponíveis na moeda escolhida. Assim como a reserva de emergência em reais deve ser aplicada em ativos acessíveis com bom retorno, a ideia é que a reserva internacional também esteja em uma aplicação com essas características
Uma opção é investir diretamente em títulos de renda fixa do exterior, por meio de contas internacionais.
A segurança dos títulos de renda fixa está atreladas ao seu emissor. Títulos públicos são emitidos pelo próprio governo. Se consideramos a moeda segura devido à segurança da economia do país, os títulos desse mesmo país também são seguros
André Galhardo, economista da Remessa Online
Os Treasuries são títulos de renda fixa dos EUA, em sua maioria com juros prefixados. Assim como os títulos do Tesouro Nacional, os papéis variam de acordo com os vencimentos, tendo opções de duração curta (meses) e longa (décadas).
Em maio, os juros dos títulos de dez anos dos EUA – chamados T-notes – variou entre 3,76% e 3,29% ao ano. Comparado com os mais de 11% do Tesouro Prefixado, disponível no Tesouro Direto, é uma remuneração baixa. Entretanto, o diferencial dos títulos americanos está atrelado à sua moeda forte, o dólar.
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Os títulos de dez anos dos países europeus apresentam características similares às dos americanos em termos de vencimento e juros. O Reino Unido, por exemplo, oferecia taxa de 4,25% no fim de maio; a Alemanha, de 2,30%; e a Espanha, de 3,15%. Entretanto, mesmo para quem tem conta internacional no Brasil, há menos desses papéis disponíveis.
Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos, afirma que a aplicação em fundos cambiais ou fundos de renda fixa internacionais são as opções mais simples.
“Com fundos, os investidores têm a segurança de ter gestores cuidando daquela carteira de investimentos”, diz Lopes. “É importante ter em mente que moeda é um investimento volátil, de renda variável. Não é simples acompanhar sua oscilação, ainda mais uma moeda internacional, sujeita à economia de outros países.”
Os fundos cambiais podem alocar pelo menos 80% do patrimônio em ativos ligados a moedas estrangeiras. Já os fundos de renda fixa internacional investem predominantemente em títulos governamentais ou privados de outros países. Ambas as opções requerem um perfil de investimento entre moderado e agressivo, devido à volatilidade dos ativos.
Custos e tributos
A opção por dólar, euro, libra, franco suíço ou yuan (moeda da China) depende do perfil de risco do investidor e das opções de investimentos a que ele tem acesso, segundo os especialistas.
Há fundos cambiais com exposição a muitas moedas, como há fundos com exposição a somente uma moeda. O mesmo se aplica aos fundos de renda fixa.
Há contas internacionais para acesso ao mercado dos Estados Unidos e da Europa. É importante verificar os requisitos para abertura e a documentação solicitada pela corretora, assim como sua procedência e qualidade do serviço.
A grande vantagem de investir por meio de uma conta internacional é o acesso a mais opções de investimentos. As desvantagens incluem gastos com IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e câmbio, além da tributação.
Para quem investe em fundos, há despesas com taxas de administração e, em alguns casos, taxa de performance. Ambas variam de acordo com o fundo. Já a tributação que incide sobre os fundos são o Imposto de Renda e o IOF.
O IR incide sobre a rentabilidade dos fundos, e não sobre o patrimônio. Para efeito de tributação, os fundos são classificados de acordo com o prazo de permanência, com as alíquotas variando entre 15% e 22,5%. Quanto mais tempo permanecer, menor o imposto.
O IOF, por sua vez, é cobrado apenas se o resgate do investimento for realizado em um período inferior a 30 dias, a partir da aplicação.
Já os investimentos feitos diretamente no exterior são tributados atualmente como ganhos de capital. Quando o investidor obtém lucro com a venda do título ou por meio do recebimento de juros semestrais, ganhos inferiores a R$ 35 mil mensais tem isenção de imposto, acima disso, a incidência no resgate do lucro é a seguinte:
- Alíquota de 15% acima de R$ 5 milhões,
- 15,5% para ganhos entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões,
- 20% entre R$ 10 milhões e R$ 30 milhões, e
- 2,5% para ganhos acima de R$ 30 milhões.
Com a Medida Provisória 1171/2023, que está atualmente em discussão no Congresso Nacional, os ganhos obtidos a partir de 2024 poderão ser tributados anualmente, da seguinte forma: rendimento menor que R$ 6.000 não tem cobrança de imposto. Ganhos acima de R$ 6.000 e abaixo de R$ 50.000, a alíquota cobrada será de 15%. Ganhos acima de R$ 50.000 serão tributados em 22,5%.