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O Banco Central destacou na ata do Copom (Comitê de Política Monetária) divulgada nesta terça-feira (10) o peso da alta da gasolina na inflação, “com impacto maior e mais rápido do que era previsto”, e que os diretores da instituição debateram na reunião porque as projeções do mercado para a alta de preços são mais pessimistas do que as da autoridade monetária.
A avaliação do BC é que a alta da Selic cria um risco de desaceleração mais intensa da atividade econômica à frente, mas “diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”.
O Copom decidiu na última quarta-feira (4) elevar a Selic pela décima vez consecutiva, de 11,75% para 12,75% ao ano, e já havia sinalizado no comunicado divulgado logo após a reunião que continuaria a subir a taxa básica de juros da economia brasileira, mas em menor intensidade. O comitê manteve essa sinalização na ata de hoje, ao dizer que “antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude”.
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O documento destaca que “o aperto das condições financeiras cria um risco de desaceleração mais forte que o antecipado nos trimestres à frente, quando seus impactos tendem a ficar mais evidentes”, e ressalta que grande parte do efeito contracionista da política monetária ainda não foi observada, assim como seu efeito sobre a inflação corrente.
A ata diz que a inflação ao consumidor segue elevada e disseminada, “se mostrando mais persistente que o antecipado”, e que a inflação de serviços e de bens industriais se mantém alta com “um forte aumento nos componentes ligados a alimentos e combustíveis”. Diz também que os últimos dados “vieram acima do esperado”, tanto nos componentes mais voláteis quanto nos associados à inflação subjacente, e que “nos itens mais voláteis, continua se destacando o aumento do preço da gasolina, com impacto maior e mais rápido do que era previsto”.
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Desancoragem de expectativas
O comitê voltou a dizer que vai continuar a elevar os juros não só até controlar a inflação, mas também até alinhar as expectativas do mercado em torno das suas metas: “O comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
Essa questão foi inclusive debatida pelos diretores do BC e destacada na ata, pois as projeções do mercado estão significativamente acima das do BC: enquanto a autoridade monetária estima um IPCA de 7,3% em 2022 e de 3,4% em 2023, o último Relatório Focus aponta uma projeção do mercado de 7,9% e 4,1%, respectivamente (0,6 e 0,7 ponto percentual a mais do que a instituição).
A expectativa das mais de 100 instituições financeiras consultadas pelo BC no Focus está acima da meta para o IPCA não só para 2023, mas também para 2024. Enquanto as projeções do mercado para a inflação do próximo ano e do seguinte são de 4,1% e 3,2%, respectivamente, o centro da meta a ser perseguida pela autoridade monetária é de 3,25% e 3,00%.
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“O comitê iniciou seu debate sobre os riscos em torno de suas projeções discutindo algumas das possíveis razões para a diferença entre as projeções no cenário de referência e as projeções de analistas. Alguns membros enfatizaram que a inflação corrente alta tem contaminado as expectativas de maior prazo além do esperado”, afirma a ata do Copom.
O documento diz que “outras potenciais explicações foram debatidas por meio da análise de cenários alternativos”, entre elas: o impacto de uma reversão mais lenta da inflação de bens industriais, devido aos sucessivos choques sobre as cadeias globais de produção; que diferentes hipóteses sobre a taxa de juros neutra da economia brasileira têm impactos sobre as projeções ; e que os impactos inflacionários do preço do petróleo (e as diferentes hipóteses sobre a convergência com o preço dos derivados) “também se mostraram relevantes”.
Alta menor da Selic
O Banco Central disse na ata ser provável uma extensão do ciclo de alta dos juros, com um ajuste de menor magnitude na próxima reunião (sem especificar o tamanho da alta nem se esse seria o fim do ciclo). Disse também que a sinalização futura da política monetária foi discutida e que a opção por estender o ciclo com um ajuste menor foi considerada a mais adequada para garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos.
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O documento diz que a decisão reflete o aperto monetário já empreendido, reforça a postura de cautela da política monetária e ressalta a incerteza do cenário, mantendo a posição adotada pelo BC na semana passada de não deixar claro se o ajuste na Selic na reunião de junho encerrará o ciclo de aperto monetário para conter a inflação ou se é possível que ocorram novos aumentos à frente.
O comitê também deixa a porta aberta para rever esse cenário até a próxima reunião, que será em junho. “O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”.
Pressões inflacionárias globais
Em meio aos efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia e da política de “Covid zero” da China, o BC destacou que o ambiente global seguiu se deteriorando, com choques que podem prolongar ainda mais o processo de normalização do suprimento de insumos industriais.
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“A reorganização das cadeias de produção globais, já impulsionada pela guerra na Ucrânia, deve se intensificar, com a busca por uma maior regionalização na cadeia de suprimentos. Na visão do Comitê, esses desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões inflacionárias mais prolongadas na produção global de bens”, afirma a ata do Copom.
Segundo o BC, as pressões sobre os preços globais decorrem tanto dos choques de oferta ligados ao conflito no Leste Europeu e ao fechamento de cidades chinesas para conter a Covid-19 quanto por uma demanda por bens persistentemente elevada, puxada pela recuperação de algumas economias, como a dos Estados Unidos.
“Esses fatores têm potencial para gerar pressões inflacionárias persistentes em diversas economias, particularmente nas que estão mais defasadas no processo de normalização de suas políticas fiscais e monetárias”, ressaltou a ata – o que não seria o caso do Brasil, pois a Selic já saiu de 2% para 12,75% em pouco mais de um ano e deve continuar subindo. A alta de 10,75 pontos porcentuais até o momento já é o ciclo de alta mais intenso desde 1999.
O Copom citou ainda a incerteza sobre o comportamento futuro dos preços de commodities em reais, como reflexo da guerra na Ucrânia e da retomada das economias no pós-pandemia. Ainda assim, o colegiado manteve a avaliação de que há a possibilidade de reversão, ainda que parcial, do aumento desses custos em moeda local.
* Com informações da Agência Estado e da Reuters
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