Senado pode ter “renovação” de até 50% mesmo com só 1/3 dos assentos em disputa, mas analistas são céticos; veja quem lidera em cada Estado

Embora apenas 1/3 das vagas do Senado Federal (ou seja, 27 dos 81 assentos) esteja em disputa nas eleições de 2022, a Casa poderia passar por uma mudança muito maior de quadros a partir da próxima legislatura. Isso porque muitos senadores com mandato até 2027 usam da posição para disputar eleições para cargos no Poder Executivo sem o risco de perderem o emprego a partir do ano que vem.

A depender da combinação dos resultados das urnas para o Congresso Nacional e para os cargos de Presidente da República, vice-presidente e governadores, é possível que até metade do Senado Federal seja ocupada por rostos novos, sejam eles eleitos no dia 2 outubro ou suplentes de parlamentares que conseguirem alçar novos voos.

Analistas políticos, porém, são céticos quanto às chances de um elevado índice de “renovação” na câmara alta, seja pelo favoritismo regular de candidatos à reeleição na Casa (13 candidatos neste pleito), seja pela possibilidade reduzida de êxito da maioria dos parlamentares que disputam o governo em seus estados, de acordo com as pesquisas de intenção de voto.

A expectativa de especialistas é que o Senado volte à sua “normalidade” em 2022, com uma taxa de renovação muito mais baixa do que aquela observada na última eleição – considerada um ponto fora da curva, com 46 de 54 assentos disputados sendo ocupados por novos nomes (renovação de 85% sobre os cargos disponíveis e de 61% sobre a composição geral da Casa).

Um levantamento feito pelo InfoMoney mostra que, entre os 54 senadores com mandato até 2027, 20 estão disputando algum cargo no Poder Executivo nessas eleições. Em caso de vitória nas urnas, o titular deve renunciar à posição no Poder Legislativo e ceder assento aos suplentes.

Veja a lista completa dos parlamentares nesta situação, os cargos que disputam nessas eleições e seus respectivos suplentes (em destaque os que já exerceram o mandato nesta legislatura):

Fontes: Senado Federal e Tribunal Superior Eleitoral | Levantamento: InfoMoney

* O senador Carlos Portinho substitui Arolde de Oliveira, que morreu de Covid-19 em outubro de 2020. O senador Giordano substitui Major Olimpio, que morreu de Covid-19 em março de 2021.

** Os nomes com dois asteriscos não foram localizados no registro mais recente disponibilizado pelo TSE. Por isso, somente nestes casos, foi utilizada a base de dados das últimas eleições – o que indica risco de alguns dados estarem desatualizados.

Dados oferecidos pela assessoria do Senado Federal mostram que 15 desses parlamentares jamais foram substituídos pelos suplentes ao longo de todo o mandato. Ou seja, a renúncia dos titulares representaria a primeira oportunidade de exercício parlamentar para seus suplentes nesta legislatura.

Os registros também mostram que, nos últimos quatro anos, na maioria dos casos em que houve licença, as trocas ocorreram no ano de 2022, durante o período de campanha ou pré-campanha (momento em que a atividade legislativa é menos intensa), e até o momento não superaram 5 meses.

Como o mandato de senador tem duração de 8 anos (e não 4, como outros cargos eletivos) é comum que ocupantes deste cargo decidam participar de outras disputas em anos em que não necessitem renovar o mandato.

A garantia do cargo funciona como um incentivo no meio político para que estes parlamentares busquem novas posições ou que apenas trabalhem na construção de suas imagens para disputas futuras, com o aproveitamento de recursos como do fundo eleitoral e sem riscos de perda de posição.

“Como há muitos senadores em meio de mandato, eles tendem a usar a eleição para pleitear um cargo de governo de estado ou então para projetar seu nome visando a reeleição daqui a quatro anos ou algum outro cargo futuro”, explica Carlos Eduardo Borenstein, analista político da consultoria Arko Advice.

O cálculo também é interessante para os partidos, que buscam ampliar sua participação no jogo político, negociar alianças e até construir palanques para candidatos que disputam outros cargos naquelas eleições. Fazer uma mensagem chegar ao maior número possível de eleitores é um dos principais desafios de uma campanha.

O cargo mais cobiçado pelos senadores que decidem disputar uma eleição no meio do mandato é o de governador em seus estados, embora não seja rara a participação em outras disputas, como a pela Presidência da República.

No pleito de 2022, três senadoras participam da corrida pelo Palácio do Planalto: Simone Tebet (MDB-MS) e Soraya Thronicke (União Brasil-MS), como titulares de chapa, e Mara Gabrilli (PSDB-SP), como vice na chapa da primeira candidata.

Nos casos de Soraya Thronicke e Mara Gabrilli, como foram eleitas em 2018, elas têm mandato até 2027 – ou seja, poderão seguir como senadoras na próxima legislatura caso sejam derrotadas na corrida presidencial. E com uma vantagem: terão se tornado mais conhecidas nacionalmente pelo eleitorado ao final do processo, um ativo sempre buscado pelos políticos.

Já Simone Tebet tem mandato até janeiro do ano que vem – o que significa que, se não vencer a eleição presidencial, ficará sem mandato.

Dos 27 senadores cujos mandatos se encerram nesta legislatura, 20 disputam algum cargo nessas eleições. A maioria (13) tenta a reeleição para permanecer na casa legislativa por mais 8 anos.

Há ainda 3 parlamentares que tentam migrar para a Câmara dos Deputados, 1 que disputa um governo estadual e outro que é suplente de um candidato ao Senado Federal.

Veja a lista completa dos parlamentares cujos mandatos se encerram nesta legislatura e informações sobre a participação ou não de cada um deles nestas eleições:

Fontes: Senado Federal e Tribunal Superior Eleitoral | Levantamento: InfoMoney

* A senadora Mailza Gomes substitui Gladson Cameli, eleito governador do Acre em 2018. O senador Luiz Carlos do Carmo substitui Ronaldo Caiado, eleito governador de Goiás em 2018. O senador Alexandre Silveira substitui Antonio Anastasia, que renunciou em 2022 para assumir como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). A senadora Nilda Gondim substitui José Maranhão, que morreu de complicações da Covid-19 em fevereiro de 2021. O senador Jean Paul Prates substitui Fátima Bezerra, eleita governadora do Rio Grande do Norte em 2018.

** Os suplentes considerados neste levantamento são somente aqueles que ocupam assento de forma definitiva, em razão de falecimento ou renúncia do titular do cargo.

Dos 13 senadores que tentam a reeleição, ao menos 8 têm candidaturas altamente competitivas, considerando os dados das pesquisas de intenção de voto: Omar Aziz (PSD-AM), Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Otto Alencar (PSD-BA), Rose de Freitas (MDB-ES), Alexandre Silveira (PSD-MG), Wellington Fagundes (PL-MT), Alvaro Dias (Podemos-PR) e Romário (PL-RJ).

Já os senadores Acir Gurgacz (PDT-RO), Dario Berger (PSB-SC), Telmário Mota (Pros-RR) e Kátia Abreu (PP-TO) enfrentam as situações mais desafiadoras em seus estados.

Mas o elevado índice de eleitores que desejam votar em branco, anular o voto ou ainda não decidiram seus candidatos mostra que o quadro geral ainda é marcado por profunda incerteza e volatilidade – o que indica chances de mudanças bruscas até o dia da eleição.

As pesquisas utilizadas para este levantamento mostram que, em média, mais de 25% dos eleitores nos estados, não indicam um candidato para votar mesmo em cenário estimulado e a 18 dias do primeiro turno. Em 10 das 27 UFs os “não votos” somam 30% ou mais.

O quadro é o oposto ao da eleição presidencial, em que os levantamentos indicam elevado nível de cristalização da preferência do eleitorado.

“Pesquisas sobre a disputa no Senado são complicadas. É a eleição majoritária que mais tem surpresa, porque as pessoas escolhem o candidato na última hora. Sempre há grandes surpresas”, avalia o cientista político Ricardo Ribeiro, sócio da consultoria Ponteio Política.

A disputa por assentos no Senado Federal também tem diversos ex-governadores no páreo – o que pode inflar os dados de “renovação”, mas não entregar a ideia de rostos efetivamente novos para a casa legislativa em 2023.

As pesquisas de intenção de voto apontam para chances elevadas de êxito para as candidaturas de Camilo Santana (PT-CE), Renan Filho (MDB-AL), Flávio Dino (PSB-MA) e Wellington Dias (PT-PI), que deixaram neste ano o Poder Executivo em seus estados e agora tentam uma vaga no Congresso Nacional.

Veja o que indicam algumas das pesquisas mais recentes para o Senado:

Apesar de 19 senadores estarem em disputa pelo comando do governo em seus estados, as expectativas dos especialistas são de baixas chances de vitória para a maioria deles.

“A maior parte dos senadores que está saindo para se candidatar a governos tem poucas chances de ser vencedora. Mas isso não significa que estejam usando uma estratégia ruim. Pelo contrário, vários deles fazem isso para consolidar seus nomes para as eleições seguintes”, avalia o cientista político Vitor Oliveira, sócio-diretor da consultoria Pulso Público.

“É uma velha tática que existe na política brasileira lançar-se candidato na [eleição] majoritária, sabendo que não tem condição de ganhar, mas para reforçar o recall, a posição no conhecimento do eleitor”, pontua. Desta forma, a eleição de meio de mandato funciona como uma espécie de “treino” para boa parte dos parlamentares, que aproveitam a oportunidade para construir uma imagem junto ao eleitor.

Os dados de pesquisas de intenções de voto reforçam tal percepção (em destaque estão os candidatos com mandato no Senado Federal):

Apesar das múltiplas candidaturas de senadores a governos, a aposta de analistas é que a maioria deles continue na casa legislativa a partir de janeiro de 2023 − o que, somado à expectativa de alta taxa de reeleição daqueles cujo mandato se encerra em 2022, deve oferecer uma taxa modesta de renovação.

“Há uma correlação muito forte entre eleição majoritária e a reeleição do incumbente. Há exemplos mundo afora. E a tendência é ter uma taxa de renovação de, no máximo, 25%/30% dos cargos em disputa [no Senado Federal]“, projeta Oliveira.

Leitura similar tem Carlos Eduardo Borenstein. Para ele, há pelo menos dois fatores que contribuem para uma diminuição da taxa de renovação no Senado Federal na eleição de 2022 em comparação com os últimos dois pleitos: 1) a perda de força do sentimento antissistema e do lavajatismo e; 2) a tendência de “continuismo” expressa nas pesquisas de opinião e na disputa para os governos estaduais.

“Comparando com 2018, temos uma eleição mais próxima da normalidade. Não é aquela eleição disruptiva, antissistema, e com o movimento do lavajatismo, que pressionava o sistema de fora para dentro”, projeta.