Raquel Lyra assume Pernambuco prometendo diálogo e com desafios no orçamento

Após 16 anos de governos do PSB, estado tem mudança de partido no poder e primeira chapa formada por mulheres do Brasil

Rodrigo Tolotti

(Reprodução/Twitter)

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2023 marca uma importante mudança para Pernambuco. Desde 1987, o estado tem sido predominantemente governado por nomes do PSB, mas, a partir deste dia 1º de janeiro, quem assume é Raquel Lyra, do PSDB e a primeira mulher a ocupar o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo pernambucano.

Desde 2006 que Pernambuco não tinha uma transição entre governos de partidos diferentes. A última vez que isso ocorreu foi quando Mendonça Filho (então no PFL, atual União Brasil) passou o governo para Eduardo Campos (PSB). A sigla passou a comandar o estado desde então.

Raquel, que até março era prefeita de Caruaru – deixando o cargo para concorrer ao governo – tem como vice Priscila Krause (Cidadania), uma chapa inédita no estado, com duas mulheres disputando as eleições ao comando do estado.

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A tucana ainda foi deputada estadual por dois mandatos, entre 2011 e 2017. Ela é filha de João Lyra Neto, que, além de deputado estadual e prefeito de Caruaru, também foi governador de Pernambuco entre 2014 e 2015.

Raquel tem falado em “construir pontes” desde que venceu a eleição, defendendo um grande diálogo com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assim como com os prefeitos das cidades de Pernambuco.

Em sua diplomação, ela ressaltou que o estado “precisa criar um novo caminho, iniciar um novo ciclo de desenvolvimento e resgatar a sua esperança”.

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“Sei do tamanho da nossa responsabilidade nesse momento atual marcado pela polarização de um país dividido”, disse ela na ocasião, criticando a disseminação de “mentiras e fake news”. “A verdade venceu”, afirmou a governadora que assume o cargo neste domingo (1).

(Reprodução/Twitter)

Diálogo com oposição e governo federal

Desde que venceu a eleição, Raquel tem focado no diálogo tanto com integrantes do governo que se encerra e com quem está assumindo agora.

Nas primeiras semanas após o segundo turno, a tucana se reuniu com os deputados federais de Pernambuco para buscar recursos por meio das emendas parlamentares.

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Além disso, ela já teve conversas com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) e com o futuro ministro da Defesa José Múcio (PTB).

Raquel é próxima do ex-governador de São Paulo já há alguns anos, desde quando ele era seu colega de partido no PSDB. A governadora eleita de Pernambuco foi responsável por ajudar a montar o plano de segurança da campanha de Alckmin à presidência, em 2018.

Apesar da relação estreita com o agora vice-presidente eleito, Raquel defende que o PSDB tenha uma postura de independência em relação ao governo Lula.

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Em entrevista à CBN de São Paulo, em dezembro, a governadora disse que quer ter um forte diálogo com o governo federal para garantir investimentos para Pernambuco.

“Temos feito diálogo com alguns membros que estão abrindo as portas do novo governo e espaço para que a gente possa fazer pontes. É disso que o povo precisa”, disse.

Preocupação com o orçamento

No início de dezembro, Raquel se reuniu com os prefeitos da região e reforçou sua preocupação com o planejamento orçamentário do governo estadual.

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A futura governadora afirmou que o valor contratado para obras e ações era maior do que o que estava disponível no orçamento para 2023.

“Isso já começa a nos apresentar um governo que vai ter desafios e dificuldades na entrega do que está contratado e que nos traz preocupação de que o governo continue fazendo novas licitações”, disse Raquel.

Alguns dias depois, o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de Pernambuco para 2023 foi aprovado pela Assembleia Legislativa, mas a tucana falou em cortes de orçamento para áreas como ciência e tecnologia.

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Pelo projeto, a estimativa da receita para o governo do estado em 2023 é de R$ 43,8 bilhões, sendo R$ 2 bilhões para investimentos.

O texto inicial do PLOA ainda previa uma reserva de R$ 742 milhões para uso do Legislativo. Porém, após uma série de emendas do deputado estadual Alberto Feitosa (PL), a receita para a Alepe subiu para R$ 832 milhões, sendo que a maior parte dos recursos redirecionados saíram da Assessoria Especial ao Governador, da Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur) e da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia (Facepe).

A vice-governadora eleita Priscila Krause afirmou que existe risco de o governo não cumprir um artigo da Constituição estadual que obriga a destinação de 0,5% da receita de impostos para o fomento de atividades científicas e tecnológicas no âmbito da Facepe.

“Ressalto a possibilidade de buscarmos soluções. Estou integralmente disposta a garantir por parte do novo governo o cumprimento das determinações constitucionais em defesa do fomento à ciência e tecnologia no nosso estado”, disse Priscila após a aprovação do orçamento.

Prioridades e futura equipe

Em suas primeiras reuniões com parlamentares pernambucanos no Congresso, Raquel definiu quatro áreas prioritárias para o início de sua gestão: requalificação de estradas, recursos hídricos, obras de contenção de encostas e investimentos nas áreas de saúde e educação.

Segundo ela, dentro desses quatro temas, se destacam questões como a conclusão da obra da Adutora do Agreste, a requalificação das rodovias, em especial a BR-232.

Além disso, Raquel diz estar preocupada com o custeio da saúde, “para que possamos fazer uma força tarefa nas filas de exames e cirurgias, que passam de mais de 50 mil pessoas em Pernambuco”

Após seu primeiro encontro com parlamentares, a governadora eleita afirmou que tem lutado para garantir “obras e ações importantes para dar mais qualidade de vida ao nosso povo nesse primeiro momento”.

Nas últimas semanas, a tucana também destacou o combate à fome como outra prioridade de seu governo.

“Vamos criar um programa de transferência de renda direta para colocar comida na mesa, ao mesmo tempo em que nós vamos estruturar o estado para a construção das 60 mil vagas de creches”, afirmou.

Outro ponto destacado foi o combate à violência no estado: “Voltar a gerar emprego e renda e combater a violência são temas que serão alvo já no primeiro dia de governo, da nossa preocupação, e, sobretudo, da nossa ocupação”.

“No estado, que hoje é vice-líder de desemprego e campeão de miséria no Brasil, que possamos ter os investimentos necessários do governo federal em Pernambuco, destravando áreas prioritárias para que o estado volte a crescer sem deixar ninguém para trás”, disse ela à CBN.

Raquel ainda não anunciou oficialmente os nomes que irão integrar seu governo. Espera-se que a Secretaria da Fazenda seja comandada por uma mulher, com Simone Benevides, ex-secretária da Fazenda de Caruaru, sendo o nome mais cotado para a pasta.

Recentemente também houve rumores de que Mozart Neves Ramos, ex-secretário da Educação no estado e ex-diretor do Instituto Ayrton Senna, poderia assumir a Secretaria de Educação, mas ele desmentiu dizendo que não recebeu convite.

Durante a diplomação, a vice-governadora eleita ressaltou, sem dar nenhum nome, que o governo busca nomes técnicos, mas que não irá deixar de lado a articulação política.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.