“Não vamos permitir que a democracia escape das nossas mãos”, diz Lula após atos golpistas em Brasília

Encontro reuniu representantes dos 26 Estados e o DF, além dos chefes do Poder Legislativo, do Supremo Tribunal Federal e outras autoridades

Marcos Mortari

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne com ministros e presidentes dos demais Poderes, no Palácio do Planalto (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Um dia após os atos golpistas que culminaram na invasão e na depredação da sede dos três Poderes em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou, na noite desta segunda-feira (9), uma reunião com os 27 governadores de Estados e do Distrito Federal, chefes do Poder Legislativo e do Poder Judiciário e outras autoridades no Palácio do Planalto.

Em sua fala, Lula disse que os episódios de ontem (8) estavam, em alguma medida, “previstos” e foram perpetrados por grupos que não tinham uma pauta de reivindicação ao novo governo, mas apenas não aceitavam o resultado das últimas eleições e pediam um golpe de Estado.

“As pessoas que estavam nas ruas, na frente dos quartéis, não tinham pauta de reivindicação. (…) A única negociação que essa gente poderia ter é que se entrou com recurso tentando negar o resultado do processo eleitoral, tentando mostrar que tinha havido falha na urna”, disse.

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“As pessoas não tinham pauta de reivindicação. Eles não tinham o que reivindicar ao governo, porque eles querem golpe. E golpe não vai ter”, frisou.

O presidente, que entra na sua segunda semana de mandato tendo uma crise de grandes proporções para enfrentar, também exaltou a atitude de todos os chefes do Poder Executivo local presentes, gesto que classificou como de “solidariedade ao país e à democracia”.

“Esse gesto de vocês é uma demonstração de que aqui neste país é possível tudo: é possível discordar, fazer passeata, fazer greve. A única coisa que não é possível é alguém querer acabar com a nossa incipiente democracia”, afirmou.

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“Nós não vamos permitir que a democracia escape das nossas mãos, porque ela é a única chance de a gente garantir [que] esse povo humilde que vive na periferia dormindo na rua consiga o direito de comer três vezes ao dia ou consiga o direito de trabalhar”, disse.

O mandatário também criticou a conduta do governo do Distrito Federal, os serviços de inteligência locais e a postura da polícia militar da unidade federativa. “A polícia de Brasília negligenciou. A inteligência de Brasília negligenciou”, pontuou.

E lembrou ainda de cenas de conivência de integrantes da corporação nas cenas de vandalismo observadas na capital federal em 12 de dezembro, quando ele e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), foram diplomados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

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“Havia uma conivência explícita da polícia apoiando os manifestantes. Mesmo aqui dentro do Palácio [do Planalto], soldados do Exército brasileiro conversando com as pessoas como se fossem aliadas. Até que nós resolvemos tomar uma atitude de fazer uma intervenção na polícia de Brasília, porque o responsável pela segurança estava muito sob suspeita há muito tempo”, afirmou.

Também houve criticas a integrantes das Forças Armadas, que, nas avaliação de Lula não agiram como deveriam diante dos acampamentos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que pediam uma intervenção militar.

“Todos nós sabemos que já teve gente neste país que foi presa e torturada, outros que morreram na cadeia, porque ousaram falar em derrubar o governo. Todo mundo aqui sabe quanta gente foi torturada por não concordar com o regime militar. E agora as pessoas estão livremente reivindicando golpe na frente dos quartéis”, afirmou.

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“E que não foi feito nada por nenhum quartel. Nenhum general se moveu para dizer ‘não pode acontecer isso’, ‘é proibido pedir isso’, ‘nós não vamos fazer isso’. Dava a impressão de que tinha gente que gostava quando o povo estava clamando golpe”, prosseguiu.

“E olha que nós não fizemos nada até que eles fizeram. Eles fizeram aquilo que a gente não esperava que fizessem. Depois do dia 1º de janeiro, o domingo mais democrático que essa capital colheu, com mais de milhares e milhares de pessoas participando da festa da posse em que o presidente não me esperou para passar a faixa, depois da grande festa democrática, todos nós fomos pegos de surpresa”, disse.

Lula afirmou, ainda, que as ações tomadas em resposta aos atos representam uma tentativa de “reparar um defeito que foi criado lá atrás quando se começou a negar tudo nesse país”. “Essa gente passou a reivindicar o negacionismo do resultado eleitoral. Começou a reivindicar a negação da urna eletrônica, que está provado que é a coisa mais evoluída, do ponto de vista eleitoral, que a gente tem conhecimento”.

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O presidente também disse que as primeiras 1.500 pessoas detidas pelas autoridades policiais nos atos “possivelmente são massa de manobra”, mas cobrou que sejam identificados os financiadores dos movimentos.

“Nós queremos saber quem custeou. Nós queremos saber quem pagou para as pessoas ficarem tanto tempo”, disse. “E vocês sabem que eu sou especialista em acampamento, em greve e em um monte de coisa. Não é possível um movimento durar o tempo que eles duraram na porta dos quartéis se não tivesse financiamento, se não tivesse gente garantindo o pão de cada dia, o café, o almoço e a janta”.

“Em nome de defender a democracia, nós não vamos ser autoritários com ninguém, mas nós não seremos mornos com ninguém. Nós vamos investigar e vamos chegar a quem financiou. Tenho certeza que vamos descobrir”, afirmou.

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“Essa quantidade de ônibus que estava aqui certamente não veio de graça, alguém pagou. E nós vamos descobrir, porque foi muito difícil para vocês e para mim conquistar a democracia nesse país. Foi muito difícil a gente fazer com que tivéssemos uma Constituição que fosse uma carta cidadã respeitada por todos nós. Foi muito difícil conquistarmos o direito de manifestação nesse país. E queremos continuar. Não precisamos gostar um do outro. A gente precisa apenas se respeitar, a conviver democraticamente na diversidade”, complementou.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.