Haddad diz que governo deve antecipar apresentação do novo arcabouço fiscal para março

Ideia é dar mais tempo para discussão da proposta e não "encavalar" com envio do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias

Marcos Mortari

Posse de Fernando Haddad (Reuters)

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou, nesta quarta-feira (15), que o governo federal deve antecipar para março a apresentação de um novo arcabouço fiscal para o país. O mecanismo deverá substituir o teto de gastos – regra fiscal implementada em 2016 que limita a evolução de despesas em um exercício ao desempenho da inflação no ano anterior.

O prazo indicado por Haddad é menor em cinco meses ao exigido pela PEC da Transição, que abriu espaço no Orçamento para o pagamento do Bolsa Família de R$ 600,00 mensais e outras promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A medida determinava, como contrapartida aos recursos adicionais, que o governo encaminhasse ao Congresso Nacional, até 31 de agosto, um projeto de lei complementar “com o objetivo de instituir regime fiscal sustentável para garantir a estabilidade macroeconômica do País e criar as condições adequadas ao crescimento socioeconômico”.

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Inicialmente, Haddad indicava que apresentaria a proposta em abril. Mas o ministro disse que, atendendo a pedidos da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que também atua como ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, decidiu antecipar o movimento em um mês.

A ideia é dar mais tempo para o debate aberto da proposta e conferir alguma distância no calendário em relação à apresentação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que precisa ser feita até 15 abril – e o Congresso tem, em tese, até 30 de junho para apreciá-la.

“Vamos, em março provavelmente, anunciar o que nós entendemos que seja a regra fiscal adequada para o país”, afirmou Haddad.

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“Simone ponderou, e o próprio Geraldo Alckmin também, que, para mandar para o Congresso em abril junto com a LDO, era bom termos um período de discussão”, continuou.

As falas de Haddad são vistas como um aceno ao mercado financeiro, em meio às tensões geradas pelo debate sobre a possibilidade de revisão das metas anuais de inflação.

Ontem (14), circulou no mercado a informação que Lula gostaria de um aumento de 1 ponto percentual na meta do IPCA de 2023, fixado em 3,25%, com uma banda de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

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A especulação foi desmentida por Haddad mais tarde, que disse que o assunto não estará na pauta da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) desta quinta-feira (16).

O ministro participou, nesta manhã, da CEO Conference, evento promovido pelo banco BTG Pactual em São Paulo. A moderação do painel “Perspectiva Econômica Brasileira” foi feita por Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional e que hoje é economista-chefe do BTG.

No evento, Haddad defendeu a definição de “metas exigentes”, mas que sejam exequíveis, sob risco de perda de credibilidade no futuro. Ele disse, ainda, que sua equipe tem analisado regras fiscais no mundo inteiro e voltou a criticar o teto de gastos.

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“Nenhum país do mundo adota teto de gasto. E não é que não adota porque são mais rígidos ou menos… Não adota porque você não consegue atingir”, afirmou.

“Eu sou a favor de metas exigentes, se não você não trabalha. Se você colocar meta de inflação, meta fiscal, não demandante, o Estado para de trabalhar. Então, tem que ser demandante, tem que ser rigoroso, tem que ser exigente. Mas o ser humano tem que conseguir fazer aquilo. Quando você começa a projetar cenários irrealistas, você vai perdendo credibilidade e interlocução, as pessoas não vão mais acreditar em você”, ressaltou o ministro.

Durante o painel, Haddad voltou a criticar a herança fiscal deixada pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), estimada por ele em cerca de R$ 300 bilhões. O ministro chamou especial atenção a medidas que ele considera eleitoreiras e que produziram custo expressivo às contas públicas.

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“Mas não vim aqui para ficar reclamando, porque, se não tivessem sido cometidos os erros que foram cometidos, nós não teríamos ganhado a eleição. Ganhamos sabendo do que estávamos herdando e vamos enfrentar”, disse.

O ministro disse que “entende a ansiedade do mercado”, mas pediu “sangue frio”. “Tem muita melancia fora do lugar no caminhão. Daqui a pouco as coisas vão normalizando e a gente vai anunciando as medidas e ficando mais claro”, prometeu.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.