Eleição para o comando da Câmara e do Senado será primeiro grande desafio político do governo Lula, dizem analistas

Após aceno do comandante da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e sem nomes viáveis à esquerda, presidente eleito pode ensaiar composição pela governabilidade

Fábio Matos Marcos Mortari

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O principal desafio político do futuro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a partir de janeiro de 2023, será a eleição para o comando das duas casas do Congresso Nacional – a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. É o que projetam analistas políticos que participaram edição especial desta segunda-feira (31) do InfoMorning, programa exibido pelo canal do InfoMoney no YouTube.

Buscando a recondução ao cargo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez acenos importantes a Lula pouco depois da confirmação oficial do resultado do pleito, ainda na noite de domingo (30). O deputado foi a primeira grande liderança política a se manifestar sobre a vitória do candidato do PT, em pronunciamento na residência oficial da presidência da casa legislativa.

Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), Lira conta hoje com amplo apoio na Câmara. Minutos após o anúncio da vitória de Lula, ele telefonou ao petista o cumprimentando pelo resultado.

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“O fato de ele ter telefonado para o presidente eleito, a maneira como se portou durante a coletiva, se unindo às forças que hoje comandam a distribuição orçamentária para fazer uma sinalização relevante… Foi um movimento forte e bastante assertivo dizendo que não se contestaria o resultado, seguramente pensando na eleição [da Câmara] de 2023”, avalia Paulo Gama, analista político da XP durante painel.

Segundo Gama, as forças que apoiaram a candidatura de Lula não teriam, neste momento, condições para fazer frente a Lira em uma disputa pelo comando da Câmara. “Me parece difícil que a esquerda consiga patrocinar um nome”, afirma.

Na avaliação do analista político Rafael Cortez, sócio da Tendências Consultoria Integrada, as eleições para as presidências das duas casas legislativas são “a variável política mais importante para entendermos a construção do orçamento em 2023” e como serão “pelo menos os dois primeiros anos do mandato” de Lula.

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Para Cortez, se Lula decidir bancar uma candidatura de esquerda para enfrentar Lira, correrá grandes riscos logo no início do governo – e pode comprometer as discussões sobre a questão fiscal, que depende da Câmara dos Deputados.

“Se ele chegar com esse olhar, me parece que é um cenário ruim para a questão fiscal no Brasil. O Arthur Lira vai buscar a reeleição, e a construção orçamentária de 2023 vai transparecer toda essa disputa”, afirma. “Um outro cenário é que o Lula faça pontes com o Arthur Lira. Acho que é um cenário melhor para a política fiscal. Caminharíamos para um cenário de maior acomodação.”

Calibrando o discurso

Segundo os analistas que participaram do painel no InfoMorning, Lula sabe que terá de calibrar o discurso do PT em seu novo governo, pois depende da ampliação do atual arco de apoio para viabilizar projetos cruciais de sua agenda.

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“O resultado muito apertado mostrou que o espaço que Lula tem é diminuto. Ele não tem muito grau de liberdade para tomar decisões. Não há um risco de esquerdismo para esse mandato, mas um risco de a coalizão não parar de pé, não ir para lugar nenhum”, alerta Cortez.

Segundo Paulo Gama, a nova composição do Congresso, mais alinhada à centro-direita, pode servir como uma “barreira” a rompantes mais dogmáticos ou heterodoxos do governo petista em relação à economia. “O Congresso tem uma cara um pouco mais de centro-direita. Ele impede abusos, de certa maneira”, avalia. “O Congresso tende a funcionar como uma espécie de freio ou barreira a uma agenda mais intervencionista, mas deve dançar a música do governo nas questões fiscais.”

Rafael Cortez, por sua vez, afirma que o terceiro mandato de Lula na Presidência “não será mais um governo de afirmação ao PT, mas que foi construído por uma ideia de se opor ao governo Bolsonaro”.

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“Deve ser muito plural, ter uma ampliação importante de ministérios, pensando em formar uma coalizão majoritária e para fazer essa tarefa de reconstrução. Não é fácil fazer toda essa reconstrução e manter e aprimorar a política econômica”, aponta.

“Não devemos menosprezar o quão dividida é a sociedade brasileira neste momento. Uma divisão não só numérica, mas também uma divisão cujos polos estão razoavelmente distintos. A tarefa e o grande lema do novo governo é fazer uma reconstrução política. A gente está quase passando por uma segunda etapa de redemocratização, para buscar um mundo em que a alternância de poder era vista com menos apreensão.”

Segundo Gama, o novo governo Lula tentará conciliar o avanço de projetos focados na área social, por um lado, e certa dose de pragmatismo econômico, de outro.

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“Não vejo o governo fazendo simplesmente uma agenda reformista. É uma agenda que tem como norte a retomada das políticas sociais já anunciadas pelo PT durante a campanha. Como fazer isso? Me parece que com pragmatismo do outro lado”, afirma. “Eventuais movimentos só em uma direção não seriam bem recebidos.”

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