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Treasuries em alta: vale a pena comprar títulos dos EUA com rendimento na casa dos 5%?

Remuneração do papel de 10 anos dos EUA, referência para o mercado global, atingiu 4,99% na tarde desta quinta-feira (19)

Paulo Alves

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A renda fixa está mais forte do que nunca nos Estados Unidos – ou pelo menos mais atrativa do que nos últimos 16 anos.

O rendimento dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) de 10 anos avançou a 4,99% ao ano no início da tarde desta quinta-feira (19), o maior nível desde 2007, pouco depois que Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), reforçou que os juros do país devem ficar altos por mais tempo, e ressaltou que novos aumentos não estão descartados.

Desde então, a taxa recuou, mas ainda segue próxima do nível psicológico de 5%, a 4,97%. O mercado acompanha esse número com atenção: os retornos dos Treasuries de 10 anos são considerados referência global para precificação de ativos, então cada movimento – especialmente em um patamar tão alto – gera um efeito cascata no resto do mundo.

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No Brasil, por exemplo, os juros dos títulos do Tesouro Direto também avançaram pela manhã, acompanhando alta que já ocorria nos rendimentos dos papéis americanos. Já a Bolsa sai perdendo, com investidores estimulados a aplicar nos ativos considerados os mais seguros do mundo, e que estão prometendo ganho recorde em moeda forte.

Mas, a estratégia também vale para brasileiros? Segundo especialistas, por mais que por aqui os juros reais (descontados da inflação) ainda sejam bem mais altos, é difícil deixar de lado uma oportunidade de renda em dólar que apareceu pela última vez em 2007, pouco antes da crise do sub-prime.

“Quem entrar agora, tem acesso a taxas mais atrativas do que lá atrás”, afirma Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank, que destaca também os benefícios da diversificação geográfica dos investimentos.

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Quanto é possível ganhar?

Grandes fundos estão carregando as carteiras de Treasuries há um tempo, mas pode não ser tarde demais para entrar. Na verdade, o melhor momento pode estar chegando agora.

Para o Morgan Stanley Investment Management, se os rendimentos do Tesouro dos EUA de 10 anos atingirem 5% ou mais, será um bom ponto de entrada para os investidores. “Esses serão ótimos níveis para alongar seu portfólio do ponto de vista da duration (prazo médio de recebimento de pagamentos)”, disse Vishal Khanduja, gestor e diretor da equipe de renda fixa da casa, em relatório.

O ponto de entrada tem a ver com a expectativa de que os rendimentos não devem subir muito mais do que esse patamar. Isso quer dizer que, se o investidor comprar o papel com essa remuneração, poderá vendê-lo mais caro antes do vencimento, aproveitando a demanda maior no mercado por um título como esse quando os juros dos EUA começarem a cair.

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A avaliação é predominante entre analistas.

“Com as taxas de 10 anos chegando a quase 5%, estamos perto de um certo teto e vemos como oportunidade de aumentar a exposição em renda fixa, especialmente americana, para capturar essas taxas. E eventualmente, ter ganhos quando elas normalizarem um pouco mais”, detalhou Gabriela Santos, estrategista do JP Morgan, em entrevista recente ao InfoMoney.

Ela espera que os rendimentos dos Treasuries de 10 anos se ajustem para próximo de 3,75% ao ano.

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Já para quem não quiser depender do cenário futuro, títulos com vencimento curto também estão pagando alto. O papel com vencimento em 2 anos, por exemplo, está oferecendo remuneração de 5,17% ao ano.

É mesmo sem riscos?

Os títulos de renda fixa do Tesouro americano são vistos como de baixíssimo risco, mas eles existem. Eles podem ter natureza:

Fiscal

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Existe a possibilidade, ainda que remota, de os EUA não honrarem com a dívida. Algo assim poderia ser impensável há alguns anos, mas voltou a ser discutido diante dos desafios fiscais do governo.

De volatilidade

Outro ponto de atenção é com a volatilidade das taxas, algo que também não costuma acontecer, mas virou corriqueiro.

Para a gestora Pimco, uma saída é dar preferência a títulos com vencimento mais long0.

“Acreditamos que os títulos de maior duration proporcionam maior resiliência nas carteiras, oferecendo rendimentos atrativos e que podem ser ‘travados’ ao longo de um horizonte mais amplo, além do que podem se beneficiar da valorização dos preços com uma eventual recessão”, afirmou a casa em relatório.

Cambial

Além disso, para brasileiros, há o perigo de ser pego desprevenido com a variação do câmbio: se o real se valorizar frente ao dólar entre o momento da aplicação e do resgate, o investidor pode perder dinheiro. Mas, se o inverso acontecer, o ganho será maior.

Ainda assim, quem entende do assunto defende que, para se expor ao dólar, hoje não há nada melhor do que comprar títulos de renda fixa. “Com o nível de juros hoje, em vez de ganhar só a variação do dólar, é possível comprar bonds de empresas ou do Tesouro americano e garantir a variação do dólar mais uma rentabilidade”, destaca a especialista em alocação Catherine Cruz.

Como investir?

Considerados os riscos e feita a decisão pelo investimento em Treasuries, o investidor brasileiro tem algumas opções para adquiri-los.

Uma das formas é por meio de contas internacionais oferecidas por diversas instituições financeiras, tanto brasileiras quanto do exterior.

Com uma conta ativa e abastecida de dólares, é possível comprar Treasuries diretamente, assim como no Tesouro Direto no Brasil. Mas, não é possível adquirir frações, o que torna o investimento mínimo mais alto nessa modalidade – em geral, a partir de US$ 1 mil.

Outra forma é por meio de ETFs (fundos de índice), oferecidos por algumas corretoras brasileiras, que oferecem cotas que partem de US$ 1, e aplicam o patrimônio nos Treasuries lá fora.

Mas, qual papel comprar? 

Enquanto a Pimco recomenda papéis mais longos, Cruz recomenda ter uma carteira mais diversificada.

“O ideal é um mix de títulos curtos, para pegar a taxa mais alta [dos papéis de 2 anos], e de longos, para garantir a taxa atual e ter ganho de capital quando a curva fechar” – jargão do mercado financeiro para queda de juros futuros.

Paulo Alves

Editor de Criptomoedas