Tesouro Direto: juros mantêm queda; prefixados vão 12,24%, com debate sobre juros no Senado

Tesouro IPCA+2045 tinha retorno de 6,02%, abaixo dos 6,04% de ontem

Neide Martingo

(Getty Images)

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Os três principais personagens da economia se reuniram no Senado nesta quinta-feira (27) para debater sobre juros e inflação, temas prioritários neste momento.  Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Em meio às críticas do governo sobre o nível alto dos juros básicos do Brasil e seu efeito sobre a atividade econômica, o presidente do Banco Central reforçou que a principal contribuição da autoridade monetária é cumprir sua missão de controlar a inflação. “O BC tem preocupação enorme com agenda social. Não se consegue estabilidade social com inflação descontrolada”, disse.

Outro destaque é a notícia de que o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) caiu 0,95% em abril, após alta de 0,05% em março, segundo dados divulgados pelo FGV/Ibre. Com o resultado, o índice acumula retração de 0,75% no ano e queda de  2,17% em 12 meses. O consenso Refinitiv esperava queda menos intensa do indicador no mês, de 0,74%.

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No exterior, o PIB dos Estados Unidos cresceu 1,1% no primeiro trimestre, abaixo das projeções. O consenso Refinitiv apontava para alta de de 2,0% no trimestre; no quarto trimestre do ano passado, o PIB americano cresceu 2,6%.

No Tesouro Direto, os juros dos títulos públicos, às 15h19, mantiveram a queda vista pela manhã. Alguns ativos, porém, ganharam força ao longo do dia. O piso dos prefixados, detido pelo Tesouro Prefixado 2026, era de 11,70% ao ano (era de 11,62% na primeira atualização de hoje), igual valor visto nesta quarta-feira (26). O Tesouro Prefixado 2033 tinha taxa de 12,24% ao ano, menor do que os 12,33% da véspera.

Entre os títulos atrelados à inflação, o Tesouro IPCA+2045 tinha retorno de 6,02%, abaixo dos 6,04% de ontem.

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (27):

Fonte: Tesouro Direto

Debate no Senado

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), voltou a criticar, nesta quinta-feira (27), o sistema tributário brasileiro e defender medidas tomadas pelo governo federal para recompor a base fiscal do Estado como forma de equilibrar as contas públicas.

“Nós fomos na raiz do problema. A maneira que escolhemos de fazer o ajuste foi abrindo a caixa preta das renúncias fiscais − o chamado gasto tributário”, afirmou.

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“Todo economista sério que conheço tem um olhar voltado para a questão da eficiência, do descalabro que se tornou o sistema tributário brasileiro: uma colcha de retalhos absolutamente ingovernável”, prosseguiu.

No plano estadual, Haddad disse que o ICMS (principal fonte de arrecadação das Unidades da Federação) se tornou “ponto de atenção gravíssimo”, em referência à guerra fiscal e a distorções promovidas a partir do tributo.

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), defendeu que juros, inflação e crescimento econômico sejam questões tratadas de forma conjunta pelo governo e pelo Banco Central. Em sessão de debate no Senado Federal, que também contou com a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e do próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, a ministra destacou que o crescimento econômico “não pode ficar no meio do caminho”.

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Mas disse não ver contradição entre as abordagens do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da autoridade monetária para a economia brasileira. “O governo faz uma relação muito forte entre crescimento e taxa de juros. O Banco Central, entre taxa de juros e inflação”, disse.

“Nosso governo está a dizer: ‘é impossível crescer, termos um crescimento sustentável, duradouro e inclusivo, com alta taxa de juros’. O Banco Central, dizendo: ‘mas [com] taxas de juros baixas, pagaremos um preço, que seria o aumento da inflação’”.

“Não há contradição nessas afirmações. Da mesma forma que não há contradição quando dizemos que, sim, o BC é responsável pela política monetária, que tem sempre decisões técnicas, mas também afirmar que tem que sempre ter foco nas políticas públicas e no crescimento do Brasil”, pontuou.

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O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), repetiu nesta quinta-feira que a taxa de juros precisa cair no Brasil e que o “motivo para não fazê-lo” não pode ser o argumento de que o Congresso não vai cumprir seu trabalho em relação às reformas estruturais. Pacheco repetiu que o Congresso Nacional vai aprovar o arcabouço fiscal e destacou que é preciso fazer a reforma tributária.

“Sabemos que a redução dos juros tem que ser gradativa. Não pode ser algo abrupto, mas precisa ser feito. O motivo para não fazê-lo não pode ser que o Congresso não vai fazer trabalho, porque temos feito”, disse ele. “Fiz apelo para o BC encontrar caminho para reduzir os juros no Brasil. Essa sessão de debate é o que precisamos fazer para chegar nesse fim. Acredito que todos que vieram aqui tem o objetivo de reduzir a queda de juros no Brasil.”

PIB dos EUA

O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu numa taxa anualizada de 1,1% no primeiro trimestre de 2023, de acordo com dados preliminares publicados nesta quinta-feira (27) pelo Departamento de Comércio do país. O resultado ficou abaixo da estimativa de analistas, uma vez que o consenso Refinitiv apontava para alta de de 2,0%.

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No quarto trimestre do ano passado, o PIB americano havia mostrado expansão anualizada de 2,6%.

O aumento do PIB refletiu crescimentos nos gastos do consumidor, exportações, gastos do governo federal, despesas dos governos estaduais e locais e investimento fixo não residencial. Esses dados foram parcialmente compensados ​​por reduções no investimento em estoque privado e no investimento fixo residencial. As importações, que são uma subtração no cálculo do PIB, também aumentaram.

O índice de preços PCE aumentou 4,2 %, em comparação com um aumento de 3,7% no trimestre anterior. Excluindo os preços de alimentos e energia, o núcleo do índice de preços do PCE aumentou 4,9%, em comparação com um aumento de 4,4% anterior.

“O relatório do PIB parecia indicar uma desaceleração da economia, mas, por trás das manchetes, a história se torna mais complicada. Na verdade, tanto a demanda quanto a inflação estavam bastante fortes, com os estoques sendo o principal fator por trás dos resultados”, diz Matt Peron, Diretor de Pesquisa na Janus Henderson. “Isso provavelmente será uma preocupação para os formuladores de políticas e os mercados, pois, embora seja apenas um ponto, mostra que ainda não estamos fora do perigo na luta contra a inflação mais baixa. Com a inflação persistente e menores ganhos, os mercados podem enfrentar alguns meses desafiadores pela frente”, conclui o especialista.

A desaceleração do crescimento do crescimento econômico dos Estados Unidos acendeu alertas sobre a proximidade de recessão no país segundo alguns analistas. Mas o diagnóstico é que o ainda aquecido consumo interno, motivado tanto pela renda mais alta como pelo emprego, ainda devem exigir a manutenção da política restritiva do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que se reúne na semana que vem para decidir sobre a taxa de juros.

Matheus Pizzani, economista da CM Capital, destaca que o PIB do trimestre inicial de 2023 divulgado hoje foi inferior tanto em relação à expectativa de mercado como ante o dado do último trimestre do ano anterior, quando a economia cresceu 2,6%.

Seguro-desemprego nos EUA

Os pedidos de seguro-desemprego esta semana caíram a 230 mil, abaixo da expectativa de 248 mil. A leitura da semana anterior ficou em 246 mil (revisada de 245 mil). A média das últimas quatro semanas ficou em 236 mil, enquanto as quatro encerradas na semana passada ficou em 240 mil (revisada de 239,75 mil).

Pacotão de novidades no Tesouro Direto

A equipe econômica do governo federal prepara um pacote de novidades no Tesouro Direto com lançamento previsto para julho. Segundo o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, os títulos públicos deverão ficar disponíveis para uso como garantias de financiamentos e caução de aluguel, por exemplo. Está prevista ainda a criação de papéis para usos específicos, como educação, no formato de cartões de presente e ainda para realização de “vaquinhas”.

“Estamos colocando muita prioridade no programa Tesouro Direto e vamos lançar um pacotão de coisas muito bacanas para popularizá-lo, criar um contexto para que cheguem à baixa renda”, disse Ceron em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney