Selic a 6% deve atrair novamente fluxo de investimentos para fundos de crédito, diz Alexandre Muller, da JGP

Sócio-gestor falou sobre as oportunidades e os riscos no mercado de crédito ao participar do 29º episódio do podcast Outliers

Ana Paula Ribeiro

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SÃO PAULO – O ciclo de alta de juros liderado pelo Banco Central (BC) fará com que os investidores voltem os olhos para as oportunidades em crédito privado, beneficiando assim o fluxo de recursos para os fundos dessa categoria, mas também penalizando parte dos ganhos. Essa é a visão de Alexandre Muller, sócio-gestor da JGP, gestora fundada por André Jakurski.

Ao participar do 29º episódio do podcast Outliers, apresentado por Samuel Ponsoni, analista de fundos da XP, Muller lembrou que, no momento dos juros mais baixos, investidores se refugiaram em ativos como ações e fundos de investimento imobiliário. Com o ciclo de aperto monetário, contudo, esse quadro se altera.

“A Selic a 6% no final do ano deve atrair novamente fluxo de investimentos para os fundos de crédito. Se esse cenário se materializar, o ‘spread‘ vai se acomodar em um patamar mais baixo”, disse.

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A Selic saiu de 2%, em março, e se encontra em 3,5%. Segundo o relatório Focus mais recente do BC, que compila projeções macroeconômicas feitas por analistas e economistas, a taxa básica deverá estar em 5,5% em dezembro e em 6,5%, ao fim de 2022.

É essa perspectiva de Selic mais elevada que tende a reduzir os chamados “spreads“. No mercado de crédito (que envolve debêntures, letras financeiras e CDBs, entre outros produtos), as empresas emissoras precisam pagar um prêmio (spread) aos investidores que vão comprar os papéis. Esse prêmio muitas vezes corresponde a um percentual acima da taxa do CDI, principal referencial das aplicações de renda fixa e que corresponde a um título de curtíssimo prazo emitido pelos bancos.

Com base no índice de debêntures Idex, calculado pela JGP e com referência em cerca de 120 papéis de 90 empresas diferentes para avaliar o comportamento dos títulos, Muller chama atenção para a mudança dos prêmios.

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Antes do início da pandemia da Covid-19, os spreads estavam em 1,2%, ou seja, os títulos pagavam CDI mais 1,2% ao ano aos investidores. Com o aumento das incertezas, esse spread chegou a 5% em abril de 2020 e, atualmente, está próximo de 2%.

Reciclagem no portfólio

O gestor, que tem cerca de R$ 3,5 bilhões sob sua responsabilidade (entre os R$ 30 bilhões totais da JGP), conta que o desafio é encontrar oportunidades que façam com que os fundos de crédito apresentem um rendimento acima dessa média do mercado.

Para isso, a opção é ter menos caixa, deixando a maior parte do patrimônio alocada em empresas chamadas de “high grade“, ou seja, aquelas com bom risco de crédito, porém menor retorno. “Optamos por fundos muito bem alocados para o investidor capturar a estratégia ao longo do tempo de forma mais incisiva.”

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Para conseguir isso, Muller afirma ser necessário ter uma boa “reciclagem de ideias”. Na prática, significa trocar os papéis que já não oferecem prêmios tão atrativos por aqueles que começam a ficar mais rentáveis.

Entre essas oportunidades, o gestor cita a CVC, que possui caixa e que deve se beneficiar da retomada da economia após a vacinação. As debêntures da agência de viagens foram emitidas a CDI mais 1%. Agora, estão pagando CDI mais 10%.

“Avaliamos o máximo de setores e empresas possíveis para entender se existe oportunidade. Às vezes, a rentabilidade é alta e justifica fazer a aposta”, afirma.

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Por outro lado, Muller vê como pouco atrativas as empresas de aviação, uma vez que, em caso de inadimplência, os “lessores” (empresas que alugam as aeronaves) têm prioridade no recebimento em relação aos credores do mercado de capitais.

E não só as grandes empresas estão no universo de cobertura da JGP. No fim do ano passado, a gestora lançou um fundo de crédito dedicado a ESG (sigla em inglês para as melhores práticas ambientais, sociais e de governança) e, recentemente, uma carteira de “special situations“, ou seja, títulos de empresas envolvidos em demandas judiciais, como recuperações judiciais.

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“ESG hoje é uma filosofia de investimento. Pode ser comparado com ‘value investment‘, ‘growth investment‘ e outras filosofias de investimento”, avalia.

Para Muller, ao considerarem todas as partes envolvidas (acionistas, credores, sociedade, governo, trabalhadores), os preceitos do ESG mudam o paradigma dos investimentos, já que não buscam apenas a maximização dos lucros.

“O ESG chega e mostra que não é só isso [retorno]. Tem o credor, o funcionário. Empresas que não olham para isso não são sustentáveis, não vão se perpetuar.”

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Entre as oportunidades da área, ele menciona os papéis da Provi, uma fintech de cursos profissionalizantes na área de tecnologia, e a Attend Ambiental, que é uma planta para tratamento de resíduos industriais.

A estratégia de fazer a maior alocação possível dos recursos do fundo não vem de agora. Muller virou sócio da JGP em 2014, quando foi convidado por Jakurski a desenvolver a área de crédito. Sua análise, contudo, começou bem antes.

O gestor iniciou a carreira como estagiário na Icatu Hartfort. Sete anos depois, em 2007, foi para o ainda UBS capital, no qual criou a área de “credit risk” para avaliar não só o mercado de dívida local, mas também externo.

A entrevista com Alexandre Muller, assim como os episódios anteriores do Outliers, pode ser conferida pelo Spotify, Deezer, Spreaker, Apple e demais agregadores de podcast.

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Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney