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Quando os analistas avaliam o desempenho do Santander (SANB11), têm três expectativas: de que o lucro diminua no segundo trimestre, de que o payout (parcela dos ganhos distribuída como dividendos) se mantenha na casa dos 40%, e de que o dividend yield (taxa de retorno com dividendos) fique abaixo da média.
O banco vem sentindo na pele o cenário mais desafiador para o crédito, diante dos juros elevados. Por ter uma carteira mais exposta ao consumo e às pessoas físicas, a inadimplência também aumentou. Fora isso, o Santander enfrentou eventos não recorrentes, como a recuperação judicial da Americanas (AMER3) e do Grupo Petrópolis, dos quais era credor.
Dos problemas que se abateram sobre o Santander, o mais recente e relevante foi a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a incidência dos impostos PIS e Cofins nas receitas financeiras dos bancos.
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A decisão do STF se refere à cobrança dos impostos sobre receitas financeiras entre 1998 e 2014, e não apenas sobre a venda de produtos e serviços, lembra Milton Rabelo, analista da VG Research. No entendimento do tribunal, devem ser recolhidos impostos retroativos sobre os rendimentos das aplicações financeiras realizadas pelo banco ou operações de tesouraria, por exemplo.
“Para a União, devem ser recolhidos impostos também sobre a receita bruta não operacional, enquanto os bancos defendem que apenas atividades operacionais, como venda de produtos e serviços deveriam ser tributadas”, afirma Rabelo, destacando que o faturamento de 2014 para cá já sofre essa tributação, devido à edição da lei 12.973/2014.
A expectativa é de que o Santander será o banco mais afetado. Outras instituições, como o Banco do Brasil (BBAS3), Banrisul (BRSR6 ) e Caixa Econômica Federal, já haviam aderido ao Programa de Recuperação Fiscal (Refis) e não possuem nenhum valor “em aberto”, apontam em relatório os analistas da Genial Investimentos.
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Outros, como o Itaú (ITUB4), aderiram ao Refis mais tarde. A instituição fez um provisionamento de R$ 680 milhões para PIS e Cofins no primeiro trimestre deste ano e deve sofrer apenas um impacto de caixa, mas sem despesas adicionais que afetem o lucro, reforça a Genial.
No caso do Bradesco (BBDC4), a provisão tributária no primeiro trimestre foi de R$ 2,96 bilhões e o impacto será baixo, segundo a Genial. O BTG (BPAC11) está 100% provisionado, com R$ 1,19 bilhões, e o BMG (BMGB4), que tinha reservado R$ 184 mil para isso, conseguiu se livrar dos impostos após uma vitória na Justiça.
O Santander até tinha provisionado R$ 4,2 bilhões para riscos fiscais, mas reverteu os valores para reforçar o balanço do primeiro trimestre. Com a decisão do STF, precisará provisionar tudo novamente, comprometendo o seu lucro no segundo trimestre.
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Da reversão, cerca de R$ 2,2 bilhões estão diretamente relacionados à cobrança de PIS, enquanto R$ 2,3 bilhões dizem respeito à Cofins em outras empresas do conglomerado financeiro, diz Matheus Nascimento, analista da Levante Investimentos. “O valor estimado em perdas está em torno de R$ 4,5 bilhões. O consenso do mercado é que essa provisão deverá ser refeita”, afirma.
Qual é o peso no lucro?
O lucro do Santander foi de R$ 12,9 bilhões em 2022, queda de 21% em relação a 2021. Com o efeito das provisões que o Santander precisará realizar para cobrir os impostos, provavelmente no segundo trimestre, analistas projetam ganhos ainda menores em 2023.
Para a Genial, o impacto será de R$ 2,5 bilhões, uma queda de 21,3% no lucro estimado, que era de R$ 11,65 bilhões em 2023. Segundo os analistas, isso representa 2% do valor de mercado do banco.
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Rabelo, da VG, acredita que o lucro do Santander deve diminuir 20% do projetado pela casa, fechando o ano em aproximadamente R$ 9,5 bilhões. Já na Levante, Nascimento espera uma queda de 26% no resultado anual, com um lucro líquido gerencial de R$ 11,885 bilhões.
Na Suno Research, o analista José Daronco trabalha com uma projeção de lucro líquido de R$ 11,2 bilhões, com recuo de 21%. O mais otimista é Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, que calcula uma redução de 10% no resultado do Santander, chegando a R$ 12 bilhões no ano. Antes da decisão do STF, o analista projetava quase R$ 15 bilhões, devido à recuperação da carteira de crédito.
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Como ficam o payout e os dividendos?
Com um lucro anual menor, os dividendos também devem minguar. O banco já não tinha boas perspectivas para renda passiva após os resultados do primeiro trimestre, por conta da inadimplência e da carteira de crédito. Somados os efeitos da tributação, os analistas não acreditam que o Santander consiga superar um dividend yield de 6% neste ano.
De toda forma, não se espera que a instituição altere o payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos), que deve permanecer entre 40% e 50% neste ano. Embora não recomendem as ações do Santander para estratégias de dividendos, os analistas destacam que uma recuperação das distribuições pode ocorrer em 2024.
Para Erick Sala, especialista de investimentos da DV Invest, a decisão do STF sobre PIS e Cofins gera insegurança jurídica no setor bancário, passando uma ideia que decisões passadas podem ser revertidas em favor da União às pressas. Embora o valor do impacto de R$ 4,2 bilhões seja elevado, ele será pago e não afetará o banco no futuro, diz. “É algo não recorrente. O que fica é a insegurança jurídica”.
O analista espera um dividend yield de 5% a 6% em 2023, com um preço-alvo de R$ 30,80 até final do ano. Para quem ainda deseja comprar, o preço-teto é R$ 25 para SANB11, embora o analista não recomende a ação.
Na VG Research, Rabelo espera um dividend yield de 5% devido às provisões. “No médio prazo, o Santander tende a ser beneficiado pela melhora das condições macroeconômicas, principalmente a partir de 2024”, comenta.
Nas circunstâncias atuais, a recomendação da VG para SANB11 é neutra, com preço-teto de R$ 27. Para dividendos, o analista prefere o Banco do Brasil, que deve ter proventos generosos e não será afetado pela decisão do STF. “Nosso dividend yield projetado para BBAS3 é de 9,25% neste ano”, diz.
Na Suno, Daronco calcula um dividend yield de 4,8% para SANB11 neste ano, com payout de 50%. “Acredito que os próximos trimestres devem refletir um aumento da inadimplência e uma deterioração do crédito, ainda que haja uma recuperação gradual até o final do ano, refletindo a possível queda das taxas de juros em agosto”, afirma o analista.
Para Daronco, provisões como o caso de Americanas já estão acomodadas no balanço e novos impactos, se houver, serão marginais.
Na Levante, a projeção é de um dividend yield de 4,8% com payout de 50%. Nascimento tem uma recomendação neutra para SANB11, que pode mudar com a materialização do impacto da decisão do STF. “Temos dois pontos relevantes: as provisões e impactos que ainda serão incorporados nos resultados e o ciclo de crédito do banco, focando em riscos menores e com perfil mais restritivo”, justifica. Ele lembra que a carteira de crédito do banco possui alta exposição a financiamento imobiliário e ao segmento automotivo.
Entre os pares, ele prefere Banco do Brasil e Itaú, que considera mais avançados no ciclo de crédito. Para o Itaú, a expectativa é de um dividend yield de 5,6% em 2023 com ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) de 20% e para o Banco do Brasil, dividendos de 10,35% com um ROE de 20,2%.
Para Queiroz, da L4 Capital, o dividend yield de SANB11 ficará entre 4% e 5% este ano, por conta das provisões que deixam o lucro do segundo trimestre comprometido. “Santander não é um banco para dividendos em 2023, mas para 2024 pode fazer sentido, com a redução de risco no setor, menos provisões e o banco voltando a crescer”, pontua.
Queiroz acredita que no segundo semestre já seja possível capturar algumas melhorias por conta da queda dos juros, amenizado os efeitos do PIS e da Cofins. “O Santander tem feito um bom trabalho na carteira de crédito e pode capturar esses benefícios”, reforça.
Nascimento, da Levante, avalia que as recuperações judiciais de algumas empresas ainda podem afetar o Santander de alguma maneira. O banco provisionou mais R$ 720 milhões no caso Americanas no 1º trimestre e R$ 150 milhões para o Grupo Petrópolis, segundo ele, o que representa cerca de 30% da dívida do grupo. “Caso seja necessário aumentar os níveis de cobertura, que não superam 50%, as provisões sobre eventos não recorrentes podem continuar afetando o balanço do Santander”.
Para o analista, o efeito dos cortes da Selic não devem ser sentidos já no segundo trimestre, porque os níveis de inadimplência da carteira ainda estão passando por uma migração para ratings mais elevados. “Pode apresentar recuperação até o final do ano”, diz.
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