Dividendos da Copel (CPLE6): com privatização à vista, vale a pena comprar para garantir proventos futuros?

Maioria dos analistas projetam payout de 50% para 2023, mas divergem nas estimativas para o dividend yield

Katherine Rivas

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Mais uma companhia elétrica estatal trilha o caminho da privatização no segundo semestre. A paranaense Copel (CPLE6) já contratou um grupo de instituições financeiras para estruturar uma potencial oferta pública de ações, que pode ser tanto primária quanto secundária.

Com ela, a participação do Paraná no capital deve recuar para até 15% – atualmente, o estado possui 32,05% da companhia, sendo 69,66% das ações ordinárias e 7,25% das preferenciais.

A privatização deve seguir os moldes da Eletrobras (ELET6), transformando a companhia em corporation, ou seja, uma empresa de capital pulverizado, sem acionista controlador.

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Embora o Paraná ainda não tenha dado o aceno final para a oferta, o mercado já trabalha com a perspectiva de que a companhia seja desestatizada até outubro. Afinal, a Copel precisa levantar recursos para renovar três concessões das usinas hidrelétricas Foz de Areia, Segredo e Salto Caxias por mais trinta anos.

O custo do bônus de concessão é de R$ 3,72 bilhões. Caso não renovado, poderia comprometer a geração de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da companhia.

Luan Alves, head de equity da VG Research, explica que a privatização é o único caminho possível para garantir as três usinas. Segundo ele, sendo uma companhia estatal, a Copel até poderia participar de nova licitação – mas a renovação automática só ocorre em caso de privatização. “A Copel poderia até perder essas usinas”, diz.

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Desta forma, Alves acredita que uma oferta secundária, em que o governo paranaense vendesse parte das ações que possui da Copel para deixar de ter o controle, ajudaria a assegurar o bônus de concessão, que deve ser pago em novembro.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, acredita que a Copel deve fazer também uma oferta primária, emitindo novas ações para fortalecer o seu caixa. “O valor do bônus de outorga é elevado, e a empresa vai precisar de caixa para rodar a operação. Atualmente, tem cerca de R$ 3 bilhões”, justifica.

Captar recursos por meio da emissão de dívida não deve ser o caminho, segundo Arbetman, porque comprometeria a alavancagem da empresa, que busca manter o endividamento em até 2,7 vezes o Ebitda.

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Como ficam os dividendos nesta equação?

A política de dividendos da Copel atualmente leva em conta o endividamento da companhia. Se for menor do que 1,5 vez o Ebitda, o payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) será de 65%, limitado ao fluxo de caixa disponível que considera investimentos.

Já se a companhia tiver uma alavancagem de entre 1,5 e 2,7 vezes o Ebitda, o payout cai para 50%. Acima de 2,7 vezes, a companhia paga apenas 25% do lucro líquido. Quando a companhia não tem lucro, não paga proventos. Até o primeiro trimestre deste ano, a alavancagem financeira da Copel estava em 2,5 vezes.

A maioria dos analistas consultados pelo InfoMoney acredita que a Copel busca se manter na faixa do meio, com alavancagem de 1,5 a 2,7 vezes, o que daria lugar a uma distribuição de dividendos de 50% do lucro nos próximos anos.

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Bernardo Viero, analista da Suno Research, destaca que o payout da Copel oscilou entre 60% e 90% nos últimos anos. Sua visão é de que embora 2023 possa ficar abaixo da média, abrir mão dos proventos em favor da privatização parece um movimento razoável.

“Esse preço para viabilizar uma privatização que proporcionará a sustentabilidade dos resultados de longo prazo é uma barganha”, pontua. Ele destaca que o investidor estaria comprando ações de uma empresa geradora de caixa, prestes a ser privatizada, pelo preço que elas tinham antes mesmo de o controlador anunciar o interesse na desestatização.

Viero estima que o dividend yield (taxa de retorno com dividendos) fique em 7,5% neste ano, abaixo dos últimos dois anos. “Até o preço-teto de R$ 7,80 entendemos que o investidor estará sendo muito bem remunerado para correr o risco da privatização e da renovação de usinas”, afirma.

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Para Arbetman, da Ativa, a companhia fará esforços para manter um payout de 50%, com distribuições estáveis. Ele espera um dividend yield de 6,7% neste ano para as ações, com preço-alvo de R$ 10.

“O investidor vai pegar uma companhia que faz um excelente trabalho há seis anos, está redonda e com a privatização pode ter maior flexibilização de processos, contratação de funcionários, terceirizar áreas e economizar custos, ficando mais eficiente”, aponta.

Alves, da VG Research, acredita na manutenção do payout em 50% até 2026. Nos próximos três anos, ele espera que o dividend yield também permaneça no patamar de 5%. “Neste momento, a ação está barata se considerarmos todas as vantagens do modelo de privatização”, afirma Alves, que espera que os papéis cheguem a custar R$ 10 no final do ano.

O analista cita que a Copel possui um portfólio diversificado e contratos previsíveis, o que oferece ao acionista uma boa margem de segurança no investimento. “Com a privatização, a empresa seria beneficiada pelos ganhos de eficiência capturados na geração, transmissão e distribuição, além de um menor custo de capital para novos investimentos”, diz.

Dividendos antecipados?

Há também os mais otimistas, como Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, que acreditam que o payout pode se manter na faixa de 65% ou até aumentar caso a Copel seja privatizada.

Conde até espera que dividendos sejam antecipados, como forma de remunerar os acionistas que vão aportar na empresa e querem ver parte dos seus investimentos de volta ao longo do tempo. “Espero dividendos de R$ 0,70 em 2023 e um dividend yield de 9,5%”, afirma.

Segundo Conde, o investidor da Copel terá mais chances de recuperar o seu dinheiro investido no curto prazo do que o investidor da Eletrobras.

Para ele, CPLE6 deve chegar à privatização no patamar de R$ 13, mas o preço está contido pela insegurança dos investidores de que a desestatização realmente irá ocorrer, após falas negativas do governo federal em relação à Eletrobras. “Isso acaba afugentando investidores, mas acredito que comprar o papel até R$ 9 seja um bom limite para o curto prazo”, pontua.

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A visão dos menos otimistas

Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest, não vê Copel como uma boa opção para estratégias de dividendos no curto prazo. Para ele, outras elétricas podem oferecer dividendos maiores.

“A Copel ainda é uma empresa interessante, mas deve reduzir seu dividend yield no curto prazo por conta das concessões a pagar”, avalia. Biz espera que as ações CPLE6 entreguem um dividend yield próximo a 3,5% com possibilidade de chegar até 5% ou 6% em 2024.

Para o longo prazo, ele acredita que a companhia tem potencial de distribuir volumes maiores após 2024. Se a privatização se concretizar, Biz enxerga os papéis valorizando até o patamar de R$ 9.

Um dos riscos do papel é uma perda grande caso a privatização – já precificada pelo mercado – não ocorra. Há, inclusive, analistas descrentes quanto à desestatização. É o caso do Daniel Nigri, analista da Dica de Hoje Research, que acha difícil o projeto ter apoio da Assembleia Legislativa do Paraná.

Mesmo se a privatização acontecer, Nigri destaca que empresas privadas têm como foco investir em projetos para aumentar o retorno do capital, o que acabaria reduzindo o valor dos dividendos.

Nigri aponta ainda a alavancagem da Copel, que deve estourar o patamar de 2,7 vezes Ebitda. “Se isso ocorrer ela passa a pagar 25% do lucro, o que daria um dividendo de entre R$ 0,25 e R$ 0,30 e um dividend yield de 4%”, diz. “O cenário mais provável é a Copel aumentar a sua dívida e os papéis voltarem para R$ 6”, defende.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.