Rendimento de CDB hoje avança para até 120% do CDI; já nos prefixados, taxas máximas têm queda na quinzena

No caso de papéis indexados à inflação, taxa máxima de título com vencimento em um ano chegou a 7,55% mais a variação do IPCA

Bruna Furlani

(Rmcarvalho/Getty Images)

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As dúvidas de investidores em torno da postura que o Banco Central terá que adotar no ano que vem, a depender do texto que for aprovado na Proposta de Emenda à Constituição (PEC), voltaram a colocar sobre a mesa a possibilidade de que a autoridade monetária postergue a queda da Selic ou até retome a elevação dos juros em 2023.

O movimento poderia ter forçado os retornos máximos oferecidos por prefixados para cima, já que durante os ciclos de alta de juros, as remunerações de papéis como esse correm o risco de ficar defasadas. Mas não foi isso o que aconteceu. Na maior parte dos vencimentos, as taxas máximas entregues por papéis do tipo recuaram entre os dias 22 de novembro e 6 de dezembro.

A única exceção ficou com o retorno máximo oferecido pelos papéis prefixados com vencimento em 24 meses. Nesse caso, a taxa máxima entregue pelo produto chegou a 15,95% ao ano na última quinzena. Os dados fazem parte de levantamento feito a pedido do InfoMoney pela Quantum Finance, empresa de soluções para o mercado financeiro.

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Na prática, a rentabilidade máxima representa o maior percentual de retorno oferecido por um CDB com aquele prazo durante o período da pesquisa. Tal valor tende a ser diferente da taxa média, que representa a soma dos juros oferecidos pelos CDBs disponíveis para aquele prazo dividido pela quantidade de produtos que aparecem para aquele vencimento.

As taxas médias entregues por produtos prefixados, por sua vez, também não avançaram muito na passagem de uma pesquisa para outra. Nas últimas duas semanas, apenas os juros médios oferecidos por CDBs prefixados com vencimento entre seis e 12 meses que registraram alta, com o retorno passando de 13,94% para 13,99% ao ano e de 14,38% para 14,45% ao ano, respectivamente. Todas as taxas são brutas, ou seja, não há desconto de Imposto de Renda.

Retornos brutos de CDBs prefixados (de 22/11 a 06/12)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 PREFIXADO 13,30% 13,61% 14,07%  12 BANCO BTG PACTUAL
6 PREFIXADO 13,60% 13,99% 14,35%    26 BANCO BTG PACTUAL
12 PREFIXADO 13,80% 14,45% 15,10%     18 BANCO PAN
24 PREFIXADO 12,10% 14,74% 15,95%       10 BANCO DAYCOVAL
36+ PREFIXADO 12,90% 12,90% 12,90%        1 BANCO DAYCOVAL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

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CDBs atrelados ao CDI

Já quando o assunto são títulos com retorno indexado ao CDI (taxa de referência da renda fixa), houve aumento na maior parte das taxas médias oferecidas pelos papéis. Segundo informações da Quantum, a rentabilidade média entregue por CDBs com vencimento em seis meses, por exemplo, passou de 99,88% do CDI para 100,41% do CDI.

Enquanto isso, os juros máximos entregues pelos títulos registraram estabilidade nas últimas duas semanas na comparação com o levantamento anterior. Apenas dois vencimentos apresentaram alta nos retornos máximos: CDBs a partir de 24 meses e de 36 meses.

No primeiro caso, a remuneração máxima avançou de 118% do CDI para 120% do CDI. O CDB que oferecia tal retorno era emitido pelo Banco Master, que possui classificação de risco de crédito nacional de longo prazo BBB-, ou seja, com grau especulativo, segundo a Fitch Ratings. Portanto, com menor qualidade.

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Retornos brutos de CDBs indexados ao CDI (de 22/11 a 06/12)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 DI 98,00% 101,75% 105,00%                               20 BANCO VOLKSWAGEN
6 DI 90,00% 100,41% 105,00%                               37 BANCO ABC BRASIL
12 DI 90,00% 100,97% 110,00%                               49 BANCO MASTER
24 DI 92,00% 100,53% 120,00%                               51 BANCO MASTER
36+ DI 100,00% 103,30% 115,00%                               46 LECCA FINANCEIRA

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

CDBs atrelados à inflação

Já no caso de papéis indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), não houve um movimento único. Isso porque títulos com vencimento em 12 meses, por exemplo, voltaram a aparecer apenas neste levantamento.

Nesse caso, a taxa máxima oferecida pelos CDBs com vencimento em um ano chegou a 7,55% acrescida da inflação. Cerca de um mês atrás, a rentabilidade máxima oferecida por títulos com mesmo prazo era de 7,05% mais a inflação.

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Já no caso de papéis com vencimento em 24 meses, houve alta nos retornos máximos, que saltaram de IPCA acrescido de 5,95% ao ano para IPCA mais 6,40% ao ano.

Retornos de CDBs indexados à inflação (de 22/11 a 06/12)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
12 100% IPCA 7,55% 7,55% 7,55%                                 1 BANCO XP
24 100% IPCA 5,95% 6,13% 6,40%                                 4 BANCO ABC BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

PEC da Transição, dados de inflação e Copom são destaque

Após um período de fechamento da curva na semana anterior, ou seja, de recuo das taxas, o mercado renova preocupações com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição. Os integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal aprovaram ontem (6) parecer da proposta. O texto, sob relatoria do senador Alexandre Silveira (PSD-MG), recebeu apoio unânime dos parlamentares em votação simbólica.

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No primeiro texto, Silveira propôs “tirar completamente” o Bolsa Família do teto de gastos, criando um valor prefixado para o programa social em R$ 175 bilhões em 2023 e em 2024.

Diante das resistências de parlamentares, Silveira promoveu modificações em seu texto. Uma delas foi reduzir o espaço fiscal aberto para R$ 145 bilhões − patamar mais próximo ao projetado por analistas políticos consultados pelo InfoMoney. O valor valeria por dois anos. Montante que pode chegar a R$ 168 bilhões em situações de “excesso de arrecadação”.

Na avaliação de Tiago Sbardelotto, economista da XP, as mudanças propostas no texto apresentado por Silveira representam avanços, mas não alteram a perspectiva da casa sobre o cenário fiscal mais desafiador nos próximos anos.

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Embora o novo texto coloque um prazo de dois anos para a elevação do teto de gastos, é certo que não há possibilidade de redução de despesas com Bolsa Família a partir de 2025 (nem com outras despesas), destaca Sbardelotto. Ou seja: permanece em aberto como será financiada a expansão dos gastos nos anos seguintes, observa o economista.

“Enquanto essa equação não for solucionada, nossa expectativa é de um cenário mais turbulento, com possível manutenção de taxas de juros em patamar mais elevado por um período mais longo e de um crescimento da atividade econômica potencialmente menor”, avalia o especialista da XP.

Carlos Lopes, economista do BV, afirma que há uma expectativa de que a PEC seja desidratada, mas até lá permanecem a incerteza, a volatilidade e a pressão sobre a curva de juros.

Outro destaque na semana está na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que vai anunciar a nova taxa básica de juros nesta quarta-feira (7). Lopes pondera que a decisão em si não será o mais importante da reunião e sim o comunicado. Maior parcela dos agentes financeiros acredita que a Selic deve ser mantida em 13,75% ao ano.

Para o economista do BV, o foco estará na preocupação que a autoridade monetária tem com o quadro fiscal. Segundo ele, o BC deve dar um indicativo de que qualquer piora acentuada e confirmada na gestão fiscal, aliada a uma deterioração das contas públicas, deve implicar em uma política monetária mais dura.

“Isso não significa que terá uma alta [nos juros] no curto prazo, mas que o BC pode sinalizar que os juros podem ficar parados nesse nível por mais tempo, já que a convergência da inflação tende a ser mais lenta com a aprovação da PEC nos moldes como foi proposta”, alerta Lopes.

André Muller, estrategista-chefe da AZ Quest, vai na mesma linha e destaca que a autoridade monetária deve elencar a incerteza sobre o futuro arcabouço fiscal como o principal risco para o seu cenário, aumentando marginalmente a preocupação com o tema.

No último mês, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, tem afirmado que a política monetária caminha junto com a política fiscal e que o BC está pronto para agir caso a convergência da inflação não ocorra como previsto.

Dados de inflação também devem afetar a curva de juros nesta semana. O IPCA de novembro será apresentado na sexta-feira (9). Na Monte Bravo Investimentos, por exemplo, a expectativa é de que o índice cheio tenha avançado 0,48% no mês passado na comparação com outubro, um pouco abaixo do consenso de mercado que prevê alta de 0,54%.

Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, avalia que o índice deve ceder em relação à prévia (IPCA-15), que avançou 0,53% em novembro. Há uma expectativa de que a inflação de alimentos arrefeça, assim como deve haver alívio na parte de serviços, diz o especialista.

Por outro lado, é esperado certo efeito de alta dos combustíveis, com o aumento do álcool pressionando os preços da gasolina.

Para o fim deste ano, a expectativa do economista é que a inflação encerre em 5,8%. Já em 2023, a projeção é que o IPCA termine em 5,5%. “A grande discussão é que o acontece no ano que vem com a inflação. Não sabemos o tamanho da PEC ainda”, diz, reforçando as preocupações com a piora fiscal, que podem levar a novas revisões para cima nas estimativas para a escalada de preços.