O que esperar da PEC da Transição e do regime fiscal? Para gestoras como Verde e SPX, mudança não será suave

Visão otimista e construtiva para o Brasil que as casas tinham antes das eleições deu lugar a uma postura mais cautelosa, mostra levantamento da XP

Bruna Furlani

(Getty Images)

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O tamanho e o formato da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, aliado à falta de sinalização tanto sobre o nome do novo ministro da Fazenda quanto de um arcabouço fiscal que agrade o mercado, tem gerado forte preocupação entre gestores de fundos nos últimos dias.

Na avaliação de oito casas renomadas – Verde Asset, SPX Capital, Kinea Investimentos, Legacy Capital, Truxt Investimentos, RPS Capital, XP Asset e Vinci Partners – as indicações dadas pelo governo eleito mostram que não haverá uma transição de regime fiscal “suave”, o que deve provocar um efeito relevante sobre os prêmios de risco nos mercados de juros, câmbio e Bolsa. Os gestores foram ouvidos em levantamento feito pela equipe da XP entre os dias 11 e 14.

Relatório divulgado pela equipe de Rodrigo Sgavioli, Clara Sodré e Nathália de Sá, da XP, destacou que a visão otimista e construtiva para o Brasil que as gestoras detinham antes das eleições deu lugar a uma postura mais cautelosa com os últimos acontecimentos, sem modificações “extremas” nos portfólios.

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Segundo os especialistas da XP, os gestores entrevistados não acreditam em uma redução considerável no tamanho do waiver (licença para gastar) de R$ 198 bilhões proposto na PEC da Transição – para algo em torno de R$ 90 bilhões, por exemplo. Para eles, as despesas fora do teto de gastos incluídas na minuta da PEC deverão passar por uma revalidação anual com o Congresso, e não ser aprovadas para o período de quatro anos.

De olho nos perigos do aumento do risco fiscal, a maior parte das gestoras ressaltou que está com posição pequena em moedas, mas acredita no fortalecimento do dólar contra o real, assim como na apreciação da moeda americana frente a divisas de outros países emergentes e nações desenvolvidas.

Na avaliação de um deles, a atual taxa de câmbio não reflete ainda a possibilidade de um próximo governo mais “arisco com os gastos e contas públicas de forma geral”. Segundo a casa, que não teve o nome divulgado, o rombo fiscal proposto na PEC da Transição pode levar o dólar para R$ 5,60. Por volta das 15h40 desta sexta-feira (18), a moeda americana era cotada a R$ 5,368.

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A alta do dólar frente o real pode também refletir na inflação. Durante a conversa com alguns especialistas, a equipe da XP reforçou que Marcos Freire, gestor de multimercados da Kinea, por exemplo, alertou que um dólar muito mais alto no Brasil poderia puxar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) novamente para cima. O que seria diferente da situação atual do Brasil, em que a inflação está em queda no curto prazo e as economias brasileira e mundial estão em desaceleração.

De olho na alta da inflação e dos juros, a maior parte das gestoras está com posições em títulos públicos atrelados à inflação (NTN-Bs), especialmente nos vencimentos mais curtos e intermediários. Segundo os gestores, a justificativa é que o aumento de gastos com a PEC deve gerar maior inflação, o que deve levar a maiores taxas de juros e menor crescimento.

Algumas das casas ouvidas comentaram que até podem alongar os vencimentos dos títulos públicos atrelados à inflação, mas estão avaliando o comportamento da inflação implícita (medida a partir da diferença entre as taxas de juros nominal e real) antes de tomar qualquer tipo de decisão, segundo os especialistas da XP.

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A piora fiscal também fez com que boa parte dos gestores passasse a acreditar que a discussão a respeito de um possível corte na Selic no ano que vem ficará em compasso de espera, ou será deixada de lado. “Dando lugar a alguma probabilidade para o cenário de uma alta adicional da taxa básica de juros em 2023”, afirmam os analistas da XP.

Nas alocações locais, os especialistas da corretora afirmam que a tendência das casas é passar a se posicionar mais em juros nos próximos meses. Segundo a equipe da XP, muitos gestores aproveitaram o momento atual para ficar aplicados (posição que se beneficia da queda dos juros) ou aumentar a alocação aplicada em juros prefixados brasileiros.

Os três relataram ainda que os executivos que ainda não montaram essa posição aplicada em prefixados, ou que apenas mantiveram a alocação, estão receosos quanto à manutenção do discurso por parte do próximo presidente e da equipe de transição, o que poderia fazer a curva de juros subir ainda mais.

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Já com relação à Bolsa, a maior parte dos gestores alegou que está com posições pequenas, principalmente no caso das direcionais, alocações que apostam na alta ou na baixa das ações, por causa dos aumento dos riscos.

“Os gestores entendem que, do ponto de vista de valuation [preço], a Bolsa está barata, mas dado o nível de incerteza, eles optaram por não montar posições grandes e direcionais nesse momento, com exceção de alguns que estão vendidos [apostando na queda dos preços] em renda variável via índice”, destacaram os especialistas da XP.

As casas também estão mais seletivas quanto aos setores investidos. Com a percepção de que os juros podem subir ainda mais, os gestores se mostram receosos com posições em varejo e bancos, que são mais expostos ao aumento do custo do crédito para a pessoa física.

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Há maior temor também com relação a algumas estatais, caso da Petrobras (PETR3;PETR4), por causa de possíveis intervenções do novo governo.

Apesar disso, as casas acreditam que ações de petróleo tendem a ser afetadas positivamente pela reabertura gradual da China ao longo de 2023 com a flexibilização da política de Covid-19 zero, o que tende a pressionar os preços ao redor do mundo.

Por outro lado, na visão dos gestores, ações de infraestrutura, transição e segurança energética e saneamento tendem a se beneficiar com o próximo governo.