Mario Torós, da Ibiuna: “Temos sido extremamente cautelosos em ter qualquer posição em Brasil na parte macro”

O 43º episódio do podcast "Outliers" recebe os gestores do fundo de crédito que rendeu mais que o dobro do CDI desde seu início, em 2020

Nathalia de Sá

Publicidade

Conhecida pela gestão de fundos de crédito no Brasil, a Ibiuna tem uma visão cautelosa sobre os ativos brasileiros para 2022. Mario Torós, ex-diretor do Banco Central e um dos fundadores da gestora, explicou as razões no episódio 43 do podcast Outliers, apresentado por Samuel Ponsoni, gestor de fundos da família Selection na XP, acompanhado de Carol Oliveira, coordenadora de análise de fundos da XP.

Também participaram da entrevista Vivian Lee e Eduardo Alhadeff, sócios e gestores da estratégia de crédito da Ibiuna.

Para Torós, os principais fatores observados no cenário interno atualmente são quatro: as questões fiscais; a matriz energética do país, que possui uma alta dependências das hidrelétricas, o que pode resultar em pressão nos preços de energia e maior inflação; as incertezas devido às eleições; e a nova variante do coronavírus – a Ômicron.

Newsletter

Liga de FIIs

Receba em primeira mão notícias exclusivas sobre fundos imobiliários

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

A dinâmica inflacionária foi surpreendente até para o time macro da Ibiuna, que tinha uma visão mais pessimista em comparação com o restante do mercado. Ela é o principal vetor para o aumento de juros. No entanto, segundo Torós, “o mundo não entrará em uma espiral inflacionária”. Sua preocupação está, na verdade, em torno de qual será o prazo da pressão de preços e seus impactos econômicos.

Sobre a atividade econômica, na visão da casa, já está contratada uma desaceleração para esse ano, dado o impacto do aumento da taxa básica de juros. “O Banco Central do Brasil veio também na linha dos outros bancos centrais, fazendo um ajuste muito cauteloso e parecendo que a situação era muito mais transitória do que de fato ela se mostrou que foi”, disse Torós. “Agora, ele está de fato correndo pra tentar reverter. É reversível, é possível fazer, mas o custo vai ser mais alto em termos de inflação mais alta e atividade econômica mais baixa lá na frente”.

Quando o assunto é o coronavírus, a preocupação da casa está em acompanhar se o resultado da nova onda provocará uma dinâmica deflacionária, como no início da pandemia – ou se, pelo contrário, haverá mais pressão inflacionária no mundo, como atualmente.

Continua depois da publicidade

Em relação a ativos como o câmbio, Torós entende que o real está bem desvalorizado contra o dólar. Com os juros mais altos no Brasil, o preço do real passa a ficar mais atrativo. Mesmo assim, ele vê como uma posição arriscada.

Impacto sobre os fundos de crédito

Como a visão de cenário da área macro tem afetado a performance dos fundos de crédito?

Apesar da troca de informações ser importante, a definição de cenário não impacta diretamente na escolha dos papéis ou setores que os fundos de crédito compram, segundo os gestores. Os fatores preço e fundamentos têm um peso relevante na análise – assim, mesmo que não tenham uma visão otimista para um setor, a relação de retorno versus risco prevalece, caso o preço esteja baixo ou a empresa tenha características específicas.

Continua depois da publicidade

A principal influência da visão mais pessimista da área macro para os fundos de crédito foi a redução de risco como um todo nos fundos. Eduardo Alhadeff, responsável principalmente por acompanhar os ativos de renda fixa negociados no exterior, pontua que o risco foi reduzido por terem optado pelo aumento de proteção do fundo via diminuição da duration da carteira.

Dito de outra forma, os gestores usam instrumentos que possibilitam diminuir a exposição da carteira como um todo aos reflexos do que acontece no mercado, quando as taxas de juros oscilam muito. Assim, caso haja um aumento das taxas de juros no mercado futuro – em momentos de aversão ao risco, por exemplo – as carteiras tendem a sofrer menos. Essa redução foi bastante importante para a boa performance dos fundos desde o início das estratégias, afirmou Alhadeff.

Atualmente, essa visão mais conservadora de cenário também é refletida no quanto estão tomando risco nos portfólios. “Olhando a principal métrica de risco que eu gosto de olhar, a gente chegou a estar quase 50% menor do que a gente estava no início de setembro”, disse o gestor.

Continua depois da publicidade

Hoje, o fundo principal da casa, o Ibiuna Credit, está 90% alocado em ativos de crédito, dos quais cerca de 15% são negociados fora do Brasil (bonds), 15% se enquadram na estratégia de “crédito estruturado” e 60% está em ativos mais líquidos como Letras Financeiras (LF) e Debêntures tradicionais.

O Ibiuna Credit é um fundo para o público geral, cujo objetivo de retorno é entre CDI + 2% a CDI e 2,5% ao ano. No entanto, vem entregando um resultado de CDI + 4%, bem acima do seu alvo. Outro fundo da casa é o Ibiuna Total Credit FIC FIM CP, que tem mandato para tomar mais risco em relação ao primeiro.

A área de crédito da Ibiuna

A Ibiuna Asset foi fundada em 2010 por dois ex-diretores do Banco Central – além de Torós, também Rodrigo Azevedo – que são hoje os responsáveis pelas estratégias macro da gestora (relembre a história da casa no episódio número 3 do Outliers). Também contam com um time bem experiente na área de ações, liderada por André Lion.

Continua depois da publicidade

Há um ano e meio, vislumbrando oportunidades na área de crédito, trouxeram Vivian Lee e Eduardo Alhadeff, ambos com mais de 20 anos de experiência no mercado de crédito.

A área de crédito é composta também por mais três analistas, divididos por setores. Sua filosofia de investimentos é focada na análise fundamentalista e gestão ativa, cujos dados microeconômicos das empresas são predominantes e os ativos não são comprados, necessariamente, para serem carregados até o vencimento.

Os fundos de crédito exploram basicamente três principais estratégias: títulos high grade, que são dívidas de empresas ou de bancos mais facilmente negociadas no mercado e possuem entre baixo e médio risco de crédito; títulos high yield e estruturados, compostos por CRA (certificados de recebíveis do agronegócio), FIDCs (fundos de recebíveis), entre outros papéis menos líquidos, de maior risco e com maior potencial de retorno; e bonds, que são títulos negociados no exterior.

Continua depois da publicidade

Além de Brasil, a cobertura é focada em empresas da América Latina, principalmente na Colômbia, Peru, Chile, México, Guatemala e Equador.

A entrevista completa e os episódios anteriores podem ser conferidos pelo SpotifyDeezerSpreakerApple e demais agregadores de podcasts.