É isento, rende mais? LCIs e LCAs caem nas graças do investidor, mas aplicação sem IR demanda atenção

Letras de crédito estão entre os investimentos que mais cresceram no 1º semestre; estoque de LCI saltou quase 70% em julho, ante mesmo mês de 2022

Leonardo Guimarães

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No primeiro semestre de 2023, quando o mercado ainda estava na expectativa pelo corte de juros, o investidor de renda fixa começou a perceber que precisaria tomar mais riscos para manter a rentabilidade alta da carteira. Os títulos bancários foram um refúgio e dois instrumentos se destacaram: as LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio).

Nas duas modalidades de investimento, a ideia é emprestar dinheiro a instituições financeiras em troca de uma remuneração, que pode ser prefixada, atrelada ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ou indexada ao CDI. A diferença básica entre os instrumentos é o destino do dinheiro: as LCI são usadas para captar recursos para financiar o setor imobiliário, enquanto o dinheiro captado via LCAs vai para o financiamento do agronegócio.

As letras de crédito imobiliário e do agronegócio têm funcionamento muito parecido com os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) por serem emitidas exclusivamente por instituições financeiras. A maior diferença para o investidor é a isenção de Imposto de Renda.

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Em junho, esses investimentos foram os que mais cresceram, segundo dados da B3. O estoque de LCAs avançou 57% na comparação com o mesmo período do ano passado, para R$ 421,4 bilhões, enquanto o avanço das LCIs foi de 67%, com estoque chegando a R$ 301 bilhões. Os dados mais recentes, de julho, mostram que os instrumentos seguiram crescendo: as LCAs alcançaram estoque de R$ 422,7 bilhões (crescimento de 48,4% ante julho de 2022) e as LCIs de R$ 313,7 bilhões (avanço de 68,8%).

Para Leonardo Siqueira, head de Investimentos do Santander Brasil, “o investidor deve continuar comprando LCIs e LCAs, porque os juros continuam elevados e a remuneração é superior à oferecida no Tesouro Direto”.

Para especialistas, a isenção de Imposto de Renda é o grande atrativo para esses títulos. “É o principal benefício, não há outro tão grande a não ser esse”, diz Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, ressaltando que “a janela de altas taxas na renda fixa está se fechando”. Nos “primos” CDBs, a alíquota de IR pode chegar a 22,5% do lucro se a aplicação durar menos de 180 dias.

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É isento, rende mais? Não necessariamente

Mesmo com o benefício tributário, ainda é preciso ficar de olho nas taxas. “Muitos investidores que saem da poupança vão para esses investimentos só porque são isentos e nem olham para as taxas”, diz o analista da Toro.

Para avaliar se uma LCI ou LCA tem taxa que vale a pena, o investidor pode aplicar o conceito de gross up. É uma fórmula para adicionar uma alíquota de imposto a investimentos isentos – e, então, conseguir comparar com alternativas tributáveis.

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A conta é simples:

Rentabilidade com gross up = rendimento líquido / (1 – Imposto de Renda)

Na comparação de uma LCI que rende 94% do CDI ao ano com vencimento em 2026 com o Tesouro Selic 2026, é preciso dividir 0,94 por 1 menos 0,15 – já que a alíquota de IR incidente no vencimento do título do Tesouro Direto, daqui a três anos, seria de 15%.

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O resultado mostra que a taxa da LCI, já líquida, equivale a um rendimento bruto de 110,5% ao ano de uma aplicação não isenta. É acima dos 100,5% oferecidos pelo Tesouro Selic. A conta é de Calil Filippelli, gestor de fundos da Ouro Preto Investimentos.

Se o gross up da LCI ou LCA analisada mostrar rentabilidade menor que a de investimentos que pagam IR – caso de uma taxa de 85% do CDI, por exemplo – o produto deixa de ser atrativo, mesmo com a isenção.

Liquidez pode ser entrave

Além da atenção às taxas, o investidor também precisa saber que as LCIs e LCAs o expõem ao risco de liquidez. Geralmente, esses títulos têm prazo de 90 dias de carência, período em que o investidor não pode solicitar resgate do valor aplicado.

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Fora isso, muitas instituições oferecem rendimentos superiores em papéis com vencimentos longos e sem possibilidade de resgate antecipado. Pode ser difícil encontrar um comprador para o papel, se o investidor realmente precisar ou quiser sair da aplicação.

Além da possibilidade de precisar do dinheiro em uma emergência, o investidor “pode perder uma oportunidade de mercado porque seu dinheiro está preso”, comenta Siqueira.

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Para o especialista do Santander, porém, a tendência é de que o mercado secundário de títulos bancários siga em expansão, o que vai ajudar investidores que querem sair dessas aplicações antes do vencimento. “Quanto mais os juros caem, mais as empresas estão dispostas a emitir. Hoje a oferta é menor que a demanda”, diz.

Os riscos das letras ainda incluem a possibilidade de quebra da instituição que emitiu o papel. “É útil que o investidor pelo menos procure algumas notícias sobre o resultado financeiro e operações da companhia emissora para ter uma ideia do que está sendo dito sobre o emissor”, aconselha Filippelli.

Em um caso extremo em que o emissor não pague sua dívida, as LCIs e LCAs são protegidas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Aportes até R$ 250 mil estão debaixo da garantia.

Mesmo com os riscos, Caetano, da Toro, diz que as LCIs e LCAs cabem em todos as carteiras, mesmo dos investidores iniciantes: “o conservador pode se expor a emissões mais curtas, enquanto o mais arrojado pode colocar papéis mais longos na carteira. São papéis versáteis, que atendem até quem está na Bolsa há muito tempo”.