Imóvel, carro novo ou viagem internacional: saiba como realizar sonhos, planejando seus investimentos

Especialistas fazem uma análise sobre as metas mais comuns dos investidores e mostram os caminhos mais fáceis para alcançar os objetivos

Neide Martingo

Mulher fotografa Torre Eiffel, símbolo de Paris

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A definição de metas financeiras pode ser uma boa ferramenta para o investidor alcançar com mais tranquilidade os mais variados sonhos de consumo, como pegar as chaves da nova casa, passear no veículo escolhido ou mergulhar nas aventuras de um país desconhecido.

Com a estratégia, o investidor tende a ter, por exemplo, mais foco na reserva feita mensalmente – respeitando o recurso poupado e até ampliando o aporte, sinalizam especialistas ouvidos pelo InfoMoney.

Para facilitar ainda mais a jornada, eles apontam os atalhos para a realização dos objetivos mais comuns do brasileiro, entre eles, a compra de um imóvel, do carro zero quilômetro ou a inesquecível viagem internacional.

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O primeiro passo, explicam, seria definir prazos diferentes para cada tipo de meta, que pode variar de dois a dez anos. O montante necessário também dependerá do objetivo do investimento – e refletirá no tamanho do aporte mensal exigido.

A renda fixa – que está reinando pelos ganhos proporcionados pela alta taxa de juros, na casa dos 13,75% ao ano – também aparece como aliada e pode dar aquela força na concretização dos desejos.

Investir por 10 anos para comprar imóvel de R$ 600 mil

Em caso de uma meta de longo prazo – como a compra de um imóvel –, o indicado é atrelar o investimento à inflação, afirma Thiago Maran, head comercial na Braúna Planejamento Financeiro.

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“Se o investidor poupar por dez anos um valor de R$ 3.045,66 por mês, o montante final bruto será de R$ 641.386,07, com rendimentos de R$ 275.907,14”, calcula o especialista, que toma como base as perspectivas para a inflação presentes no último Boletim Focus, do Banco Central. O relatório apresenta as projeções do mercado financeiro para os principais indicadores da economia nacional.

Caso haja um investimento inicial de R$ 200 mil, o aporte mensal necessário para o objetivo seria reduzido para R$ 443,14. Neste cenário, o montante bruto no final do período seria de R$ 661.204,19, com rendimentos de R$ 408.027,97. Em ambos os casos a rentabilidade estimada é de 11%, diz Maran.

Simulação – compra de imóvel (rentabilidade estimada de 11% ao ano)

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Objetivo  Tempo (anos) Tempo (meses) Investimento mensal (R$) Valor de entrada (R$) Valor final Bruto (R$) Rendimento (R$) Valor final líquido (R$)
compra do imóvel 10 120 3.045,66 641.386,07 275.907,14 600.000,00
10 120  443,14 200.000,00 661.204,19 408.027,97 600.000,00

Fonte: Thiago Maran, Head Comercial na Braúna Planejamento Financeiro

Adriana de Mello Alves, especialista em investimentos na Unicred, vai além e sugere um portfólio mais diversificado, aproveitando as oportunidades oferecidas pelo atual patamar da taxa básica de juros da economia, a Selic.

“Para aproveitar a Selic alta (13,75% ao ano), o investidor pode comprar inicialmente títulos que remuneram com taxa de juros prefixada ou indexados à inflação que, de modo geral, estão com prêmios excelentes”, recomenda.

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Considerando o histórico dos últimos dez anos, ela calcula que a média da taxa de juros livre de risco brasileira (Selic/CDI) foi de aproximadamente 1% ao mês.

“Usando esse histórico para projetar uma remuneração futura, seria necessário reservar R$ 2,6 mil por mês para acumular R$ 600 mil no período”, afirma Adriana.

Para a especialista, seria prudente incluir na projeção o pagamento do imposto de renda sobre o rendimento quando o resgate do investimento acontecer. Neste caso, deve-se avançar para uma reserva mensal de pelo menos R$ 2,8 mil, pondera.

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Preços dos imóveis

Para o investidor ser mais assertivo, o melhor a ser feito é encontrar o rendimento anual ideal e, a partir daí, montar uma estratégia de investimentos que busque alcançar a variação dos preços dos imóveis no longo prazo. É o que sugere Julianne Simões, planejadora financeira. Além disso, ela diz que é necessário fazer uma revisão da carteira a cada ano, ou quando os indicadores econômicos se alterarem.

“Vale ressaltar que, com taxas da renda fixa próximas a 14% ao ano, quanto maior o valor de aporte inicial, menos o investidor precisará tirar do bolso no futuro”, pontua Julianne, que lembra ainda das expectativas de redução da taxa Selic para o segundo semestre de 2023. “Por isso, o ideal é manter a carteira em títulos pós-fixados, com vencimentos em até 12 meses ou manter prazos maiores e com resgate imediato sem deságio”, sugere.

Ela afirma que o investidor pode encontrar taxas de CDBs (Certificados de Depósito Bancário) com prazo de 12 meses e rentabilidade em torno de 110% do CDI, que equivalem a 15,12% ao ano. A planejadora financeira dá como opção também o investimento em LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio) e LCIs (Letra de Crédito Imobiliário), que são isentos de imposto de renda.

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É preciso também entender o perfil de risco do investidor. Se o futuro proprietário do imóvel for conservador, a melhor opção é o Tesouro IPCA – título público do Tesouro Direto –, que apresenta risco baixo e proteção contra a inflação, aponta Vitor Amor Wolfgram, analista de crédito privado da Levante Investimentos.

“Neste cenário, um caminho seria o Tesouro IPCA 2035, que possui vencimento próximo do prazo em questão e deve se beneficiar da queda da curva de juros na marcação a mercado”, diz. “Desta forma, o investidor ganha em duas frentes, na taxa contratada do título e na marcação a mercado”, completa.

Se o perfil do investidor for moderado, é possível extrair um ganho superior ao Tesouro IPCA com um pouco mais de exposição ao risco. Assim, diz Wolfgram, os títulos bancários protegidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), como LCIS e LCAs, podem ser uma boa opção, com o risco, em parte, reduzido.

No caso de um perfil mais agressivo, o investidor pode equilibrar o portfólio com uma posição em Tesouro IPCA longo, preferencialmente 2045, “que deve ser o que mais vai se beneficiar da queda da curva de juros na marcação a mercado e títulos de renda fixa de risco mais elevado”, prevê o especialista.

De forma similar ao perfil moderado, a preferência é por ativos com benefício tributário. Porém, sem a cobertura do FGC, que apresenta maior risco, mas com maior retorno. “O investidor pode buscar CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRAs (Certificados de Recebíveis de Agronegócios) e debêntures incentivadas, podendo escolher os papéis que combinem com o prazo desejado, ou buscar fundos de investimentos específicos destes ativos, aproveitando uma gestão profissional para uma melhor proteção de risco”.

Já Marina Renosto, head de alocações da Blackbird, sugere a aplicação em prefixados para o investidor que quer comprar um imóvel de R$ 600 mil no fim de dez anos. “É bem melhor do que depender da variação da taxa Selic ou da variação da inflação. É possível ter uma visualização um pouco mais clara do que vai ser no período.  Não há como saber qual será a taxa de juros no futuro. Mas, de qualquer forma, o prefixado com a taxa de hoje é bem alta e interessante”, detalha.

Poupar por cinco anos para adquirir automóvel de R$ 60 mil

Se o plano de investimento tiver um objetivo mais modesto do que um imóvel, o prazo para alcançar a meta tende a cair. A compra de um automóvel, por exemplo, poderia ser feita após cinco anos de aportes, sugere Maran.

“Se o investidor poupar por cinco anos o equivalente a R$ 818,60 por mês, o montante bruto no final do período será de R$ 61.920,68, com rendimentos de R$ 12.804,56”, calcula. “Caso haja um investimento inicial de R$ 30 mil, o aporte mensal seria de R$ 209,52 e totalizaria no final do período R$ 63.075,67, com rendimentos de R$ 20.504,47”, detalha.

Em ambos os casos, explica Maran, a rentabilidade estimada é de 9,50%. “Uma boa opção pode ser um ativo pós-fixado atrelado ao CDI. Não é possível saber como a taxa de juros vai se comportar”, alerta.

Simulação – compra de automóvel (rentabilidade estimada de 9,50% ao ano)

Objetivo  Tempo (anos) Tempo (meses) Investimento mensal (R$) Valor de entrada (R$) Valor final Bruto (R$) Rentabilidade (R$) Valor final líquido (R$)
compra do automóvel 5 60 209,52 30.000,00 63.075,67 20.504,47 60.000,00
5 60 818,60 61.920,68 12.804,56 60.000,00

Fonte: Thiago Maran, Head Comercial na Braúna Planejamento Financeiro

Para este objetivo, os ativos protegidos pelo FGC são a recomendação de Wolfgram. Segundo ele, estes produtos são indicados para mitigação de risco e, ao mesmo tempo, para aproveitar um retorno superior ao Tesouro Direto.

“A opção por um portfólio com cinco CDBs é uma boa alternativa, podendo ser incluídos ainda LCIs e LCAs para aproveitar o benefício tributário”, diz. “E, se possível, buscar mesclar as rentabilidades, incluindo títulos prefixados, pós-fixados e atrelados à inflação”, complementa o especialista, citando uma outra forma de mitigar risco e buscar maiores retornos.

Ele avalia que o título prefixado deve se beneficiar de uma queda na curva de juros e o título atrelado à inflação garante uma rentabilidade real, que protege da variação dos preços, ressalta. A planejadora financeira Juliane Simões vai na mesma linha.

“O ideal é diversificar a carteira em papéis de renda fixa, prefixados e pós-fixados, com a máxima previsibilidade de rendimento, evitando papéis de longo prazo em momentos de mudanças econômicas”, reforça Julianne, lembrando que a diversificação pode ajudar bastante na compra de bens ao longo de prazos menores.

Nesse caso, afirma a especialista, não são indicados títulos atrelados à inflação – pelo risco de volatilidade no período de resgate.

Ela sugere uma LCA que renda 95% do CDI, se for considerado patrimônio nominal bruto em 60 meses. Nesse caso, aponta, o investidor deverá desembolsar R$ 730 mensais.

Subir num avião após investimento de dois anos

Planejar, ser disciplinado e, ao fim de dois anos, viajar para o país dos sonhos. Para isso acontecer, a simulação de Maran indica um investimento de 24 meses, com aportes de R$ 775,68 por mês, com valor final bruto de R$ 20.244,16 e rendimentos de 1.627,74. A rentabilidade estimada é de 9%.

“O futuro turista pode optar pelo Tesouro Selic, por exemplo, ou um CDB com liquidez diária”, reflete. “Nesse caso, os pós-fixados são indicados porque há a liberdade de retirar o montante quando o investidor quiser e, por exemplo, comprar dólar”– em caso de queda da moeda norte-americana, diz.

Simulação – viagem internacional (rentabilidade estimada de 9% ao ano)

Objetivo  Tempo (anos) Tempo (meses) Investimento mensal (R$) Valor de entrada Valor final Bruto (R$) Rentabilidade (R$) Valor final líquido (R$)
viagem internacional 02 24 775,68 20.244,16 1.627,74 20.000,00

Fonte: Thiago Maran, Head Comercial na Braúna Planejamento Financeiro

Já Wolfgram destaca o câmbio como fator primordial para quem planeja fazer uma viagem internacional. “A  melhor opção é montar um portfólio de títulos no mercado norte-americano, de modo que o investidor fique protegido de qualquer choque cambial e eventual desvalorização do real”, ressalta.

Quanto aos ativos a serem escolhidos, diz o especialista da Levante, o ideal é buscar empresas brasileiras, na quais o investidor deve ter uma maior familiaridade. De forma geral, essas companhias também oferecem um retorno superior às principais companhias norte-americanas, dado o maior risco de uma economia mais frágil.

Considerando possíveis cortes na Selic ainda neste ano, Julianne indica também uma carteira com prefixados, Tesouro Selic, CDBs e LCAs, de baixo risco de crédito; e pós-fixados “de boa qualidade”.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney