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SÃO PAULO – Embora o mercado brasileiro continue sujeito aos mesmos riscos de sempre – principalmente o fiscal e o político –, no grupo de oportunidades, um novo fator tem despertado atenção para quem investe em ações: “Há muitas empresas novas com boas dinâmicas de negócio, negociadas a preços interessantes”.
A opinião é de Gustavo Constantino, sócio e gestor da Távola Capital, para quem a nova safra de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) gerou várias boas oportunidades de investimento – que vêm sendo exploradas pela empresa de gestão.
O gestor participou do 30º episódio do podcast Outliers, apresentado por Samuel Ponsoni, analista de fundos da XP.
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A carteira do Távola Absoluto, fundo de ações “long biased” da asset, está com atualmente cerca de 30 papéis, dos quais cerca de dez são de empresas que chegaram a mercado na nova safra de IPOs.
O gestor diz que essa diversificação é positiva, mas que a filosofia da casa é investir apenas após um amplo processo de estudo de cada ativo, mantendo o cuidado para manter o nível de acompanhamento das companhias.
Ele considera que os IPOs têm o risco de assimetria de informações, pois o comportamento da gestão da companhia que chega à bolsa ainda não foi totalmente testado pelo mercado. Esse fator, contudo, pode ser mitigado: “Não deixamos de investir quando a oportunidade é boa, apenas ajustamos o tamanho da posição”.
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A Távola começa montando posições que representam cerca de 4% ou 5% da carteira do fundo e depois as aumenta – ou se desfaz dos papéis, quando eles atingem o preço considerado adequado. O tamanho da posição, diz Constantino, é calibrado de acordo com o entendimento que a casa tem da empresa, com a convicção sobre a tese de investimento e com a liquidez do papel.
As apostas da carteira
Ações de companhias novatas na bolsa que recentemente deram bons ganhos à carteira do Távola Absoluto foram Ambipar, Orizon, Aeris e Pague Menos. Os resultados da Ambipar vêm surpreendendo de forma “chocante”, diz o gestor. A empresa de gestão de resíduos tem cerca de 75% do mercado brasileiro e também cresce por meio de aquisições no exterior.
Orizon, que atua com resíduos ambientais e geração de biogás, também é considerada atraente pela geração de créditos de carbono. Aeris, por sua vez, já fez parte da carteira, mas a posição foi desfeita porque se entendeu que ela chegou ao preço justo. A Távola foi investidora-âncora dos três IPOs.
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A gestora ainda participou da oferta da rede de farmácias Pague Menos – na qual aumentou a posição há cerca de três meses. “A empresa está entregando bastante do ponto de vista operacional. Enxergamos muito valor nela, que negocia a cerca de um terço dos múltiplos da Droga Raia”, afirma Constantino. Outras posições do fundo são Petrobras, BR Distribuidora, Copasa e Qualicorp.
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O Távola Absoluto visa ganhos de longo prazo por meio da manutenção de posições compradas e vendidas em ações, com uma posição líquida (compras menos vendas) que pode variar de 20% a 100% da carteira – o montante oscila de acordo com os cenários antevistos e os preços dos ativos. Outro produto é o Távola Equity Hedge, cuja carteira pode ficar de 30% vendida a 30% comprada em ações, com volatilidade girando em torno de 5% a 7%.
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No momento, o gestor diz que a casa está sem “convicções fortes” e, por isso, o Távola Absoluto está com exposição líquida neutra – com cerca de 50% da carteira comprada em ações (líquido).
A visão é semelhante para o cenário externo, mas ele considera muito importante acompanhar os riscos referentes à retirada dos estímulos fiscais e monetários que vieram no rastro da pandemia: “O momento é de alerta porque as mudanças podem ser grandes se esse processo se desenrolar de forma mais rápida”, afirma.
O risco é de a inflação vir mais forte, gerando posições mais restritivas (elevação dos juros), o que altera bastante o cenário para investimentos no Brasil.
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Equilíbrio para ganhar (e para perder)
Constantino cita uma frase do investidor Howard Marks para falar um pouco sobre a estratégia de gestão da casa: “Há dois grandes riscos no mercado: perder dinheiro e perder oportunidades. Nesse desconforto, a gente busca se equilibrar. Não adianta estarmos muito alocados e o risco de perder dinheiro ser grande, e nem o inverso”.
Mesmo que às vezes os fundos fiquem descolados de seus indicadores de referência, ele diz que a casa não embarca nas teses de investimento mais em voga no mercado.
“Há pouco valor em ficar fazendo o que o mercado está fazendo. Investir é divergir do consenso. Mesmo que não seja na direção, tem que divergir na magnitude. Buscamos ver o que o mercado não está vendo”, resume.
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Para isso, é necessário analisar profundamente as teses de investimento e ter disciplina para executá-las – vendendo os papéis quando eles já chegaram ao preço considerado justo, mas sempre tendo em vista se a empresa pode ou não entregar mais ganhos operacionais. “É necessário ter disciplina. É difícil comprar quando parece que está dando errado e vender quando está dando certo.”
A manutenção dessa disciplina está relacionada à convicção e à busca por onde há mais valor no mercado, o que pode ser feito pela reflexão, pela leitura e pela discussão profunda para tomar decisões sem se deixar influenciar pelo calor do momento: “Uma das coisas mais importantes na gestão é deixar a emoção de lado, e o mercado faz o contrário: te puxa para o lado emocional. A arte é tentar racionalizar ao máximo a decisão e entender o racional e a emoção dos outros”. Com o racional correto e a cabeça no lugar, pode-se aproveitar oportunidades nos momentos de irracionalidade, considera o gestor.
A filosofia de gestão da casa é baseada na análise do valor das empresas e no ciclo econômico, evitando o viés setorial – considera-se que a empresa é preponderante em relação ao setor, embora seja necessário entender o contexto e os ciclos econômicos que podem gerar grandes inflexões.
Antes de fundar a Távola (ela surgiu com a reestruturação, iniciada em 2014, da Fides Asset), o gestor ficou nove anos no banco BBM, no qual começou a carreira, e foi ainda das equipes da Gap Asset e da SPX Capital.
Ao longo dos seus 20 anos de mercado, as piores crises que experimentou foram a de 2008 e a do ano passado, da Covid-19, com características diferentes. Na de 2008, foi possível entender suas raízes, assistir à sua formação e se preparar. Já a de 2020 foi súbita e levou a uma volatilidade sem precedentes, da ordem de sete desvios-padrões.
“Experiência é provavelmente a coisa mais importante. Ela vai ajudar em 90% das vezes para as próximas crises, mas vai ter 10% que é realmente novo. Depois de 2008, achava que já tinha vivido a pior crise, mas 2020 veio para mostrar que não: tem coisa nova para aprender”, afirma.
A entrevista com Gustavo Constantino, assim como os episódios anteriores do Outliers, pode ser conferida pelo Spotify, Deezer, Spreaker, Apple e demais agregadores de podcast.
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