Leda Braga: Toda estratégia de investimento pode ser convertida em algoritmo, se for um processo sólido e bem definido

Fundadora e CEO da Systematica Investments defendeu, em painel da Expert XP, papel dos analistas fundamentalistas na gestão

Beatriz Cutait

Leda Braga (Divulgação/Leo Albertino)

SÃO PAULO – Ao conduzir praticamente uma aula sobre o universo dos fundos quantitativos, a brasileira Leda Braga, fundadora e CEO da Systematica Investments, defendeu nesta sexta-feira, durante painel da Expert XP, que o método pelo qual as decisões são tomadas por meio de algoritmos e modelos estatísticos pode se reproduzir em qualquer tipo de estratégia.

Newsletter

Liga de FIIs

Receba em primeira mão notícias exclusivas sobre fundos imobiliários

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“Em princípio, toda estratégia de investimento, se é um processo sólido e bem definido, pode ser convertida em um algoritmo”, afirmou Leda, defendendo que se trata apenas de uma abordagem diferente dos investimentos.

E exemplificou a visão com as entrevistas dadas por grandes investidores como Warren Buffett, que descreve seu processo de investimento, detalhando as métricas das companhias em que está interessado e os momentos de compra e venda, além da construção de seu portfólio.

A diferença prática entre a estratégia tradicional de investimento, “manual”, e a de fundos quantitativos reside na diversificação do portfólio.

“No lado quanti, a gente tende a ter mais posições. E é compreensível. O ser humano, em média, mantém na cabeça, seis, oito temas de investimento. A máquina, o computador, pode monitorar quantas você quiser”, explicou, indicando que seus fundos operam normalmente de 100 a 300 instrumentos.

Por isso, no modelo seguido pela gestora, há mais posições, portanto, há maior diversificação, e um nível não tão alto de convicção. “Em outras palavras, estamos mais preparados para o efeito da média no portfólio.”

E essa diferença técnica faz com que fundos quantis sejam mais robustos, diz, mais à prova de problemas e idiossincrasias.

Quando os mercados entram em turbulências, essa abordagem conta com processos a seguir e, portanto, as estratégias quantis tendem a ter uma performance positiva em momentos de estresse nos ativos financeiros.

Máquina x Homem

Ao comentar sobre métodos mais automatizados de gestão, Leda disse que a disciplina de machine learning está modificando a indústria, em parte por conta do grande interesse no processamento de dados, mas que não vê uma evolução para investimentos automatizados, em uma espécie de “Neflix” da gestão.

“O machine learning criou um interesse e um desenvolvimento incrível em torno do processamento de dados. Isso é ótimo, e a gente usa o tempo inteiro. Agora vamos chegar ao ponto do autonomous investment? Eu acho que não. E por quê? Porque a quantidade de dados disponíveis para sintetizar um algoritmo baseado nos dados, sem você dar uma direção manual ao algoritmo, não é comparável a outros problemas, onde machine learning tem um nível de independência enorme”, afirmou a gestora.

Assista a alguns trechos da entrevista:

Desta forma, ainda que o futuro esteja sendo afetado pelo uso automatizado da gestão, Leda defende uma associação entre pessoas e máquinas, com o uso de métodos para dar suporte aos dados, e ressalta a importância dos profissionais de investimento.

“Uma vez que você especifica um sistema, o computador, o algoritmo, é imbatível, mas a sensação de todo, de perspectiva, é privilégio do ser humano.”

Para a gestora, o analista fundamentalista tem um papel muito importante a cumprir, não apenas com a visão do todo, mas também ao sugerir aos pesquisadores quantitativos em que direção desenvolver os algoritmos e explorar os dados.

ESG

Assunto no centro dos debates mais recentes do mercado financeiro, a filosofia ESG, que busca melhores práticas ambientais, sociais e de governança das empresas, também foi discutida no painel com a CEO da Systematica Investments, que destacou que o tema já foi absorvido no seu trabalho.

“Não tenho uma reunião com clientes hoje dia em que o tópico ESG não apareça”, afirmou Leda. “Toda a comunidade de investimento internacional entende e aceita que fazer lucro não é suficiente. Você tem que fazer lucro de maneira sustentável.”

E a gestora ainda destacou que é possível implementar os critérios ESG nos próprios fundos quantis.

Leia também:
Crítico da alcunha de ‘cisne negro’ para o coronavírus, Taleb diz que empresas com receitas estáveis podem esconder maior risco em crises

Por fim, com relação ao Brasil, embora tenha afirmado não ser especialista em mercados emergentes, Leda disse que a queda da taxa de juros vai motivar as pessoas a entenderem que investimento é uma responsabilidade. “Se você tem capital, tem que investir bem.”

E terminou sua apresentação afirmando que, se o mercado de investimento decolar no Brasil, sua gestora poderá desenvolver fundos específicos para o país.

Com cerca de US$ 10 bilhões sob gestão, a Systematica tem escritórios em Nova Jersey e Nova York (EUA), Genebra (Suíça), Londres (Inglaterra) e em Singapura.

Formada em engenharia pela PUC-RJ e com doutorado na mesma especialidade pelo Imperial College, Leda atuou por cerca de 18 anos no JPMorgan e, em 2001, se uniu a colegas do banco que fundaram a gestora BlueCrest.

A executiva, que foi presidente da gestora, permaneceu na instituição por 14 anos e, em 2015, decidiu lançar a Systematica, que representou a divisão quantitativa da BlueCrest.

Inscreva-se na EXPERT 2020 e acompanhe o maior evento de investimentos – Online e gratuito

Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.