Eventos após reversão de política monetária “frouxa” trazem sensação de “déjà vu” da crise de 2008, diz SPX

Em carta, gestora diz que se autoridades não conseguirem “suavizar sequência de eventos”, “correções de exageros” podem resultar em crise como a do subprime

Mariana Segala

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Em carta aos cotistas dos seus fundos, a gestora SPX afirmou que as “correções de exageros” vistas nos mercados nas últimas semanas são um reflexo da reversão do ambiente de política monetária “frouxa” da última década e meia – com juros baixos e liquidez abundante ao redor do mundo. Disse também que se as autoridades competentes não conseguirem “suavizar a sequência de eventos”, tais correções podem “resultar numa crise como a ocorrida em 2008”.

Assinado por Tiago Fernandes, sócio e head de moedas da SPX, o documento destaca que eventos como os ocorridos em março – com a quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e a mudança brusca nas expectativas de juros nos Estados Unidos – devem se tornar mais frequentes, “passando uma sensação de déjà vu em relação a um pouco do que vimos ocorrer em 2008″. A crise financeira de 15 anos atrás se originou no segmento de hipotecas subprime americanas, mas acabou sacodindo mercados e economias em todo o mundo.

“Em 2008, tínhamos problemas que, do ponto de vista de uma alocação ineficiente de capital, se assemelham aos problemas atuais. E, na época, o processo de correção foi gradual e contestado por muitos participantes renomados do mercado, até o momento da incontestável quebra”, descreve Fernandes.

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O executivo lembra que o banco Bear Stearns quebrou em março daquele ano nos Estados Unidos, em uma crise rapidamente contida. “Os mercados voltaram depressa à animação. Participantes do mercado, muitas vezes com vieses otimistas, leram que o problema era pontual e tinha sido resolvido, em vez de pararem para entender o real problema das principais economias”, diz.

Seis meses depois, foi a vez de outro banco, o Lehman Brothers, ir à bancarrota – evento que assumiu o papel de estopim da crise. Fernandes destaca que, na época, executivos do banco admitiram ter errado por não esperar uma queda abrupta nos preços dos imóveis. “Estavam errados por uma eventualidade completamente improvável? Ou realizaram uma má gestão de riscos em seus investimentos?”, questiona o sócio da SPX.

O caso atual, do SVB, também envolve um problema de gestão de risco, segundo Fernandes. Ele ressalta que os gestores do banco alongaram demais os investimentos em uma aparente aposta nas taxas de juros, buscando lucro “em detrimento de um risco adequado”. Os depósitos do banco americano saltaram de US$ 50 bilhões para US$ em um intervalo de poucos anos e sua carteira de ativos, na visão do executivo, foi alocada de maneira inadequada em busca de maior rentabilidade.

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“Certamente, como numa aposta do CEO do Lehman Brothers de que os preços de casas não fossem cair, esses gestores do SVB também não apostavam que as taxas de juros fossem subir tanto, a ponto de descasar seus balanços e gerar o que geraram”, diz na carta da SPX.

Aumentos de balanço não se limitaram ao SVB e têm como origem, em grande parte, o que Fernandes chama de “maior experimento monetário da história econômica”, envolvendo “agressivos cortes de juros e intensas compras de ativos” pelos principais bancos centrais do mundo – um processo que teria incentivado investimentos com relação risco-retorno “questionável”.

O executivo destaca que, assim como em 2008, circulam avaliações de que o caso do SVB não é algo sistêmico. “Espera-se que estejam certos, mas o risco de estarem errados é evidente, dado o atual problema estrutural existente nas principais economias”, diz.

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Na sua visão, o que vem ocorrendo nos mercados reflete o processo corretivo em curso. Em março, em questão de dias, a curva de juros americanos deixou de precificar mais de 1 ponto percentual de aumentos nos próximos meses e passou a indicar cortes de mesma magnitude. Ações de bancos das principais bolsas globais caíram dois dígitos, as maiores quedas históricas de papéis do tipo fora de períodos de recessão. Movimentos assim intensos, segundo Fernandes, foram vistos nas últimas crises globais.

Os abalos causados pelos eventos recentes nos mercados pesou sobre a performance do SPX Nimitz, fundo multimercado que é um dos carros-chefes da casa comandada pelo reconhecido gestor Rogério Xavier. A carteira teve perdas de -0,68% em março, contra uma taxa do CDI (referência de rentabilidade para fundos do tipo) de 1,17% no mesmo período. Segundo a carta, as aplicações em moedas e crédito tiveram desempenho negativo, anulando a performance positiva da carteira de ações do fundo.

Atualmente, o fundo possui posições compradas em dólar (apostando na valorização da moeda). No mercado de ações, a carteira mantém “alocações relativas em Estados Unidos e direcionais em Brasil refletindo uma visão negativa com o cenário macro e posições relativas em China e Europa”. A gestora também iniciou posições em metais industriais.

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A SPX reduziu o portfólio de papéis de renda fixa investment grade (de menor risco de crédito) e high yield (de maior risco e potencial de retorno), mantendo a exposição a títulos de curta duração. “No mercado de crédito emergente, continuamos reduzindo as posições para ficarmos menos expostos à volatilidade do mercado de juros global”, diz a carta.

Mariana Segala

Editora de Investimentos do InfoMoney