SÃO PAULO – Passado um período para lá de turbulento nos mercados financeiros por conta da pandemia de coronavírus, os ânimos têm se acalmado nos últimos meses e levado investidores a pensarem cada vez mais sobre como será o cenário pós-epidemia e nos riscos que poderão pressionar ativos de Bolsa, câmbio e juros.
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Colocadas anteriormente no papel de principal risco projetado para 2020, as eleições presidenciais americanas estão, aos poucos, voltando ao radar de gestores. Por ora, contudo, diante de incertezas ainda presentes no ambiente macroeconômico, a alocação tem sido voltada mais para o curto prazo.
“O nível de incerteza continua bastante elevado, a despeito de o momento mais dramático ter ficado para trás”, disse Ricardo Denadai, economista-chefe e estrategista da ACE Capital, no painel “Estratégia de investimento com visão macro”, da Expert XP.
Além das incertezas relacionadas à pandemia em si, como o risco de uma segunda onda de contaminações e dúvidas sobre o lançamento de uma vacina e a velocidade de recuperação das economias, a disputa entre democratas e republicanos nos Estados Unidos poderá ter consequências para os mercados, avalia Denadai.
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Para ele, uma vitória do candidato Joe Biden sobre o atual presidente Donald Trump levaria a uma agenda mais “indigesta” para o mercado financeiro.
“É um evento super relevante, o mercado ainda não está tão atento, mas a tendência nas próximas semanas ou, no máximo, em um mês, é começar a voltar as atenções para esse tema”, afirmou o economista da ACE.
Foco no curto prazo
Luis Garcia, sócio e principal no negócio Macro da Mauá Capital, vê maior dificuldade no momento para traçar previsões para o cenário econômico e, por isso, tem voltado o foco mais para o curto prazo.
“Preferimos trabalhar com a noção de janela de tendência de curto prazo nesse momento de muita incerteza”, observou Garcia, ressaltando que, desde o fim de março, as indicações têm sido mais otimistas, o que deve permanecer por até um mês.
“Depois vamos ver como vai ser a eleição e a nova fase de estímulo fiscal no Estados Unidos”, afirmou o sócio da Mauá, também atento ao processo de reabertura das economias.
Fernando Lovisotto, CIO e responsável pelas estratégias de curto prazo da Vinci Partners, tem visão semelhante a respeito das incertezas presentes nos mercados, apesar da melhora mais recente.
E também ressaltou que, com um ambiente de juro baixo, as realocações de carteiras de fundos multimercados vão seguir em curso. Na Bolsa, a escolha individual de papéis deve se sobrepor a posições direcionais, como as feitas via índices.
Câmbio e juros
Embora as preferências em Bolsa possam se sobressair no contexto de Selic no piso histórico, Garcia, da Mauá, disse que as oportunidades no mercado de juros continuam presentes.
“Ainda temos uma série de oportunidades, a curva [de juros] está se mexendo demais, e é bom lembrar também que, daqui a um tempo, talvez no meio do ano que vem, vamos ver um ciclo de alta [da Selic]”, destacou.
Os próximos tempos também prometem seguir agitados para as operações no mercado cambial. Com um fundo multimercado completando nove meses, Denadai, da ACE Capital, disse que a gestora “virou a mão” no câmbio.
Até então com uma posição “comprada” (com aposta na valorização) em dólar e “vendida” em real, a visão de curto prazo foi invertida.
Ainda que a lógica de longo prazo de moeda brasileira depreciada não tenha mudado, em um horizonte mais curto de tempo, Denadai enxerga potencial para apreciação do real, atento ao noticiário doméstico, com a proximidade do fim do ciclo de corte de juros, e também às eleições americanas. Com isso, o dólar teria condições de cair um pouco abaixo de R$ 5,00.
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