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A bomba contábil revelada pela Americanas – que pode elevar a dívida da companhia para a casa dos R$ 40 bilhões – gerou forte reprecificação nas debêntures da empresa e fez as cotas de alguns fundos desabarem nos últimos dias.
A pior perda foi registrada pelo fundo Verde AM Carry Master FI Mult Crédito Privado, que viu o retorno recuar 4,49% entre os dias 11 e 12 deste mês. Ao todo, cerca de 10% do patrimônio líquido do fundo estava alocado em debêntures das Americanas em setembro de 2022, segundo levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney, com fundos de várias classes com posição em títulos corporativos da varejista.
De acordo com a Verde, o fundo em questão é utilizado apenas para operacionalizar os investimentos em crédito privado para as estratégias da casa. Segundo a gestora, antes da queda, o investimento em debêntures da Americanas correspondia a R$ 18 milhões em toda a casa. Atualmente, há R$ 2,2 bilhões alocados em ativos na estratégias de crédito da gestora como um todo.
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Ao ser questionada pelo InfoMoney sobre a posição atual nas debêntures da varejista, a casa não quis abrir quanto detinha de alocação nos títulos neste momento.
Outro fundo que sofreu um baque foi o Itau Prev V Cred A M FI RF Cred Priv, onde as perdas chegaram a 4,1% durante o mesmo período. Não foi possível auferir quanto da carteira estava alocada em títulos da empresa.
Ambos os fundos não são exclusivos e possuem prazo de resgate mais curto, como D+01 ou D+3.
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Desde a divulgação do fato relevante em que a empresa informou o mercado sobre a existência de um rombo contábil, o valor das debêntures despencou nos últimos dias e os papéis passaram a ser marcados com um desconto de 50% em relação ao valor do dia anterior no dia 12 deste mês.
A queda nos preços deve-se à forte alta das taxas, que dispararam com o aumento do risco que os investidores passaram a considerar no papel.
Nesse sentido, a marcação a mercado, que é feita diariamente pelos fundos de investimento, penalizou negativamente as cotas dos produtos.
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Fundos DI
Além de fundos de crédito, o levantamento feito pela Economatica chama atenção para as perdas registradas entre alguns fundos DI. Na lista, o produto com o pior retorno no dia 12 deste mês foi o Western Asset DI Max RF Ref FI, que registrou perdas de 0,29%.
Como ativos de crédito corporativo são considerados papéis de maior risco na comparação com títulos emitidos pelo governo, o mais recomendado por planejadores financeiros é que o investidor não utilize esse tipo de fundo como reserva de emergência.
Nesse caso, a preferência de alocadores é que a pessoa prefira Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com liquidez diária e que ofereçam 100% do CDI, títulos como o Tesouro Selic ou fundos do tipo DI sem crédito privado na carteira, pois este aumenta o risco do produto.
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Fundo mais queridinho do País não escapou
O fundo com maior número de investidores no país, o Nu Reserva Imediata – da Nu Asset Management, gestora de fundos de investimentos do Nubank – também foi afetado.
Entre os dias 11 e 13 deste mês, o fundo apresentou perdas de 0,70%. No mesmo período, o CDI (taxa de referência da renda fixa) subiu 0,1%. Apenas no dia 13 de janeiro, o retorno ficou negativo em 0,75%, contra leve alta de 0,05% do CDI.
O fundo conta com 1,37 milhão de cotistas, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) da última quinta-feira (12).
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Em seu site, a Nu Asset descreve que o fundo possui baixo risco e pode ser, inclusive, uma opção para guardar a reserva de emergência – o que tende a ir contra a sugestão de planejadores financeiros, por ter em sua carteira também títulos de crédito privado.
O Nu Reserva Imediata é atrelado ao CDI e possui liquidez diária. Neste ano, o produto apresentou perda acumulada de -0,26%, contra avanço de 0,51% da taxa do CDI. Já em 2022, o fundo encerrou com ganhos de 13,03%, acima dos 12,37% registrados pelo CDI, em parte porque tinha na carteira títulos de crédito privados.
Na prática, o regulamento do fundo explica que o produto pode investir até 50% do patrimônio em títulos de crédito privado. Ao olhar para a lâmina do fundo, é possível verificar que 27% da alocação do produto era composta por títulos privados.
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Levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney mostra que em setembro de 2022, as debêntures das Americanas representavam cerca de 0,97% do patrimônio líquido do fundo.
A posição mais significativa do fundo em debêntures, por sua vez, estava em Qualicorp (QUAL3). Em setembro do ano passado, a alocação representava 3,20% do fundo.
As demais debêntures do fundo eram de empresas do setor de saneamento, energia e financeiro, além de tecnologia e locação de carros.
Procurada pelo InfoMoney, a Nu Asset Management afirmou que o fundo possui estratégia desenhada para “ser uma opção de baixo risco e altíssima liquidez, e que busca performance acima do CDI ao longo do tempo”.
A casa completou que, como dezenas de fundos no mercado com o mesmo perfil, o Nu Reserva Imediata também investe em ativos de crédito privado, dentro de um limite regulatório. Diante do ocorrido, a gestora informou que a pequena parcela de investimento em debêntures das Lojas Americanas foi revista pela casa.
Fundos fazem provisão e inserem ativos como devedor duvidoso
De olhos nos impactos provocados nas cotas dos fundos, a decisão favorável à varejista Americanas (AMER3) – que concedeu proteção contra o vencimento de dívidas e deu 30 dias para entrar com um pedido de recuperação judicial – exigiu que administradores de fundos de crédito adotassem uma postura mais dura com foco em proteger os produtos e os cotistas.
Em uma varredura pelo site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o InfoMoney encontrou pelo 21 fatos relevantes em que foram feitas provisões para devedores duvidosos (PDD) para ativos emitidos pelas Lojas Americanas, Americanas e B2W.
Todos os documentos detalham que a medida foi tomada após a 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro conceder medida de tutela de urgência cautelar a pedido da Americanas (AMER3) contra vencimento antecipado de dívidas.
A decisão buscou dar fôlego para a empresa enfrentar uma crise sem precedentes. No mesmo dia, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) também deu 30 dias corridos para a Americanas entrar com pedido de recuperação judicial.
Na prática, a decisão suspendeu a possibilidade de um bloqueio, sequestro ou penhora de bens da empresa. Além disso, adiou a obrigação da varejista de pagar suas dívidas, fazendo com que a companhia “ganhe tempo”.
Como ambas as decisões foram tomadas após o fechamento do mercado na última sexta-feira (13), os fundos tiveram que tomar providências.
Marc Foster, head da Western Asset, que possui fundos com investimento em debêntures da Americanas, afirma que a provisão deve ter sido feita por administradores porque houve notícias piores na margem de sexta-feira (13) para segunda-feira e os preços não tiveram tempo de “reagir”.
Com posições pequenas em debêntures da Americanas, o executivo da Western Asset afirma que não há “informação suficiente” para tomar decisões neste momento e que a casa está acompanhando tudo de perto, mas “sem se movimentar”.
Na prática, em vez de realizar a marcação a mercado diária, o administrador mexe diretamente na carteira do fundo ao colocar uma provisão de perda para o papel, que pode ser alterada se a perspectiva para o título piorar ou melhorar.
“A provisão está calcada nas notícias. Ela é utilizada quando o preço não está refletindo a melhor visão do administrador. Tem mais informações do que os preços refletem”, avalia Foster.
O especialista da Western Asset explica que a provisão representa apenas um lançamento contábil para a redução do patrimônio e que não há caixa sendo “consumido”.
De acordo com os fatos relevantes lidos pela reportagem, os administradores não detalharam qual será o tamanho da provisão, nem informaram como ela será feita.
Ao ser procurada pelo InfoMoney, a Intrag DTVM, que faz a administração de uma série de fundos que provisionaram os ativos das Americanas, disse apenas que as informações pertinentes e materiais estão no fato relevante. E que o documento informa que foi feita uma provisão em decorrência de informações divulgadas após o fechamento de mercado na sexta-feira.
Além de realizar as provisões, os administradores informaram nos fatos relevantes que o provisionamento vai impactar – em caráter excepcional – nos critérios de “conversão originalmente previstos em regulamento, com relação a movimentações (aplicações e resgates) no fundo no dia 16 de janeiro”.
Maurício Reis, analista de fundos da TAG Investimentos, explica que os fatos relevantes não detalham, mas abrem margem para a interpretação de que o administrador pode – excepcionalmente – não aceitar resgate ou aplicação nesta segunda-feira (16) até ter a provisão de devedor duvidoso (PDD) corretamente provisionada.
Para ele, a provisão é uma estratégia conservadora tomada pelos administradores e que tende a refletir melhor a realidade em momentos em que não há referência de preços para um papel.
O profissional, no entanto, não esconde que o provisionamento pode não ser tão bom para o cotista como a marcação a mercado diária. Isso porque com a marcação, se as taxas voltarem a cair, o preço do papel tende a subir e isso tende a ter um efeito positivo na cota do investidor.