O Tesouro RendA+, mais novo título público lançado pelo Tesouro Direto, rapidamente atraiu a atenção dos investidores – e por duas razões.
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Em primeiro lugar, por ser focado em proporcionar renda para a aposentadoria. Enquanto os títulos de inflação tradicionais devolvem o valor investido de uma vez na data do vencimento, o RendA+ faz pagamentos mensais ao longo de 20 anos, em 240 parcelas.
Em segundo, pelas taxas de juros oferecidas. Nesta quinta-feira (16), a remuneração do Tesouro RendA+ variava entre 6,40% e 6,47% ao ano, mais a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de acordo com o vencimento.
É uma estratégia simples de poupança de longo prazo – será a mais eficiente?
Ações que pagam dividendos têm se difundido nos últimos anos como uma alternativa para geração de renda passiva. Elas seriam capazes de superar o Tesouro RendA+ para fins de aposentadoria?
Daniel Nigri, fundador da Dica de Hoje Research, explica que isso seria possível caso o investidor escolhesse papéis capazes de pagar um dividend yield (taxa de retorno com dividendos) acima de 6,5% ao ano no longo prazo.
Nigri faz uma analogia com o Tesouro RendA+: enquanto os juros fixos pagos pelo título equivaleriam ao dividend yield de uma ação, a remuneração variável – representada pelo IPCA no caso do título público – equivaleria à valorização das ações. Se as ações subirem mais do que a inflação nos próximos anos, o investidor conseguiria um retorno semelhante ou superior ao da renda fixa.
E afinal, existem ações capazes de cumprir esse propósito? Não são muitas, mas, sim. Um exemplo é a transmissora Taesa (TAEE11), uma das únicas empresas que ofereceu retorno com dividendos acima de 6,5% ao ano em todos os últimos seis anos e cuja ação valorizou acima da inflação.
Como retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, analistas consultados pelo InfoMoney identificam atualmente oito companhias com fundamentos sólidos com potencial para oferecer rendimentos acima do Tesouro RendA+ no longo prazo.
Confira na tabela abaixo a lista de ações com dividend yield projetado acima de 6,50% ao ano:
Empresa (ticker) | Dividend yield projetado para 2023 | Quem recomenda |
Klabin (KLBN4) | 8% a 8,5% | Dica de Hoje Research |
Taesa (TAEE11) | 10,5% a 11% | Dica de Hoje Research |
Ferbasa (FESA4) | 9% | Dica de Hoje Research |
Caixa Seguridade (CXSE3) | 10% a 10,5% | Dica de Hoje Research |
BB Seguridade (BBSE3) | 9,5% a 10% | Benndorf Research |
Banco do Brasil (BBAS3) | 12% | Benndorf Research |
Alupar (ALUP11) | 9% | Benndorf Research |
Telefônica Brasil (VIVT3) | 8% | Benndorf Research |
Renda extra na aposentadoria: ações ou título público?
Existem diferenças importantes entre os rendimentos proporcionados por ações ou pelo Tesouro RendA+ que devem ser consideradas por quem está investindo para ter uma renda extra na aposentadoria.
Luiz Barsi Neto, assessor do MMBarsi Investimentos, destaca que um dos principais benefícios do RendA+ é a correção pela inflação dos pagamentos nos 20 anos após o vencimento, o que preserva o poder de compra do investidor.
Contudo, o rendimento só será disponibilizado ao investidor após a data de conversão, quando começam os pagamentos mensais. Já no caso das ações, os dividendos são pagos desde o início do investimento, sempre que a companhia fizer uma distribuição. “Ele pode optar por reinvestir ou sacar os dividendos para complementar a renda”, diz Barsi.
O valor dos dividendos, por outro lado, depende do resultado da empresa e da sua política de distribuição de lucro, e pode variar ao longo dos anos – embora as boas pagadoras sejam conhecidas pela regularidade.
Barsi destaca que, no longo prazo, a rentabilidade das ações que pagam dividendos podem ser maior que a do Tesouro RendA+, mas elas embutem volatilidade e risco, que em certos momentos podem significar perdas.
No Tesouro RendA+, o principal risco enxergado pelo assessor é o Tesouro Nacional não cumprir com sua obrigações financeiras – uma possibilidade em geral considerada remota. Outro diz respeito ao resgate antes do vencimento, que embute taxas maiores, alíquotas superiores de Imposto de Renda e possibilidade de perda com a marcação a mercado.
Segundo o assessor, a liquidez das ações depende das condições de mercado – mas feita a venda na Bolsa, o depósito ocorre em até dois dias úteis. O RendA+, por sua vez, pode ser vendido pelo investidor depois de uma carência de 60 dias, mas se carregado até o vencimento, a taxa de custódia é zerada (para rendas mensais de até seis salários mínimos nos 20 anos seguintes).
Para Barsi, ambas são opções para diversificar a carteira e protegê-la da inflação. “São investimentos para todos os bolsos. Com R$ 30 é possível investir no RendA+, e com pouco mais de R$ 5, comprar ações”.
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As ações que podem superar o Tesouro RendA+: por que elas?
Entre as ações que especialistas acreditam ter potencial para distribuir dividendos acima dos juros do título público de aposentadoria, alguns nomes se destacam.
A Klabin, do setor de celulose e papel, por exemplo, tem apresentado resultados crescentes nos últimos anos. “O Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Klabin saiu de R$ 4,3 bilhões em dezembro de 2019 e cresceu ininterruptamente até R$ 7,9 bilhões em dezembro de 2022”, aponta Nigri.
Embora o resultado da companhia possa ser afetado pela queda no preço da celulose, Nigri vê com bons olhos o Projeto Puma 2, que opera parcialmente desde 2021 e deve ser totalmente implementado neste ano, fortalecendo o lucro da companhia. Ele calcula dividendos de R$ 0,29 a R$ 0,31 por ação em 2023, equivalente a um dividend yield de 8% a 8,5%.
Na Taesa, Nigri destaca a previsibilidade de receitas nos contratos, corrigidos pela inflação. O endividamento é um ponto de alerta, mas o analista argumenta que a empresa tem entregado projetos com menos investimento e prazo do que projetado, o que é positivo para a geração de caixa. Ele estima dividendos de R$ 3,80 a R$ 4 neste ano, equivalentes a uma taxa de 10,5% a 11%.
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A Ferbasa, produtora de ferro ligas e cromo, é outra preferência do analista. A companhia cresceu em 2022 devido ao aumento da demanda global, que elevou o preço das matérias-primas. Em 2023, o lucro deve sofrer ajustes, mas ainda pode chegar aos R$ 700 milhões, projeta. Nigri calcula dividendos de R$ 4,86 por FESA4, equivalente a um dividend yield de 9%.
A Caixa Seguridade é outra empresa com potencial, na visão de Nigri. Nos últimos três anos, distribuiu 90% do lucro em proventos. A seguradora atua na área habitacional, prestamista, residencial e de vida, além de previdência, consórcio e capitalização. O contrato de distribuição com a Caixa Econômica Federal vai até 2050. O analista calcula dividendos de R$ 0,85 por ação em 2023 (taxa de 10% a 10,5%).
Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research, por sua vez, prefere BB Seguridade. Ele aponta que a empresa vai se beneficiar dos juros elevados no Brasil e a maior penetração dos seguros no longo prazo. O payout da empresa foi de 80% nos últimos anos, em média, e tende a se manter. Ele espera um dividend yield de entre 9,5% e 10% em 2023.
No caso de Banco do Brasil, Tahara enxerga como positiva a sinalização da nova gestão de manter o payout em 40% e de ter apresentado um calendário com datas de pagamento de proventos antecipados e complementares em oito fluxos. “Isso reduz a possibilidade de o banco investir em projetos com retornos baixos que possam prejudicar o lucro e as distribuições”, avalia.
O analista, contudo, considera cedo para tirar conclusões sobre a gestão da CEO Tarciana Medeiros; sinais mais claros só estarão disponíveis no balanço do primeiro trimestre deste ano. Sua expectativa é de que o dividend yield seja de 12% neste ano.
Ainda entre as preferências de Tahara estão Alupar (ALUP11) e Telefônica Brasil (VIVT3), para as quais projeta dividend yield de 9% e 8% em 2023, respectivamente.
Assim como a Taesa, a Alupar é uma transmissora de energia, com receita e caixa resilientes, e contratos reajustados pela inflação. Tahara destaca que a companhia tem novos projetos em desenvolvimento que proporcionarão receita futura. A Alupar também está expandindo para área de geração, como forma de diversificação.
“Tenho preferência pela previsibilidade e histórico de execução da companhia”, diz. A Alupar paga dividendos trimestralmente, com payout mínimo de 50% do lucro.
Investindo na prática
Na prática, qual seria o resultado para o investidor que decidisse aplicar nas ações com potencial de dividendos superior ao do título público? E quanto ganharia investindo no Tesouro RendA+?
Uma simulação feita a pedido do InfoMoney por Niels Tahara, da Benndorf Research, indica que investir R$ 100 mil no Tesouro RendA+ 2065 – o mais longo disponível no Tesouro Direto atualmente – permitiria obter uma renda mensal bruta de cerca de R$ 25 mil durante os 20 anos de pagamentos após o vencimento.
Já aplicar os mesmos R$ 100 mil nas ações da Taesa (TAEE11), pelo mesmo prazo, sempre reinvestindo os dividendos recebidos ao longo do período de acumulação, proporcionaria uma renda mensal com proventos de cerca de R$ 67 mil a partir de 2065.
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O levantamento considerou as taxas oferecidas pelo Tesouro RendA+ 2065 na quinta-feira (16), de 6,41% ao ano, além da inflação projetada a partir do Relatório Focus, do Banco Central – de 5,80% em 2023, 4% em 2024, 3,60% em 2025 e 3,50% ao ano a partir de 2026.
No caso da Taesa, Tahara projetou uma taxa de crescimento anual equivalente à inflação projetada para o lucro líquido da empresa. O payout (percentual do lucro distribuído aos acionistas) foi estabelecido em 85%, em linha com o histórico de pagamento da companhia.
A cotação utilizada nos cálculos também foi a do fechamento de quinta (16), de R$ 35,75. O analista considerou que a ação valorizaria ano a ano, acompanhando a inflação – embora esclareça que, na prática, nem sempre isso acontece porque a renda variável pode tanto subir quanto cair. Na simulação, a valorização acumulada dos papéis seria de cerca de 350% entre 2023 e 2065.
O estudo considerou o reinvestimento dos dividendos em novas units (compostas por três ações, duas TAEE4 e uma ordinária TAEE3) da Taesa. Não foi considerada a dedução dos dividendos do preço da ação na “data-ex”.
Um detalhe importante: após o vencimento, a renda mensal do Tesouro RendA+ é composta tanto pelo investimento principal quanto pelos rendimentos acumulados. Já a distribuição de dividendos não altera o principal investido, que continua aplicado e valorizando enquanto o investidor recebe os proventos. Confira os detalhes da simulação nas tabelas abaixo:
Investindo no Tesouro RendA+ 2065:
Patrimônio | Juros acumulados no ano | |
Valor do principal investido em 2023 | R$ 100.000 | – |
Valor do investimento em 2032 | R$ 264.078 | R$ 23.810 |
Valor do investimento em 2042 | R$ 679.367 | R$ 61.254 |
Valor do investimento em 2052 | R$ 1.747.739 | R$ 157.584 |
Valor do investimento em 2062 | R$ 4.496.233 | R$ 405.401 |
Valor do investimento em 2065 (vencimento) | R$ 5.969.809 | R$ 538.265 |
Renda mensal obtida a partir de 2065 | R$ 24.874,21 (com principal mais rendimentos) | – |
Prazo da renda mensal a partir de 2065 | 20 anos (240 parcelas) | – |
Fonte: Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research. Obs: a simulação considera a taxa do Tesouro RendA+ 2065 no dia 16/03/23 (6,41% ao ano mais IPCA)
Investindo em units da Taesa (TAEE11)
Patrimônio | Dividendos recebidos no ano | Nº de units detidas em cada ano | Preço da ação em cada ano | |
Valor do principal investido em 2023 | R$ 100.000 | – | 2797 | R$ 35,75 |
Valor do investimento em 2032 | R$ 284.351 | R$ 22.036 | 5484 | R$ 51,85 |
Valor do investimento em 2042 | R$ 846.096 | R$ 65.569 | 11.569 | R$73,14 |
Valor do investimento em 2052 | R$ 2.517.583 | R$ 195.105 | 24.403 | R$ 103,17 |
Valor do investimento em 2062 | R$ 7.491.143 | R$ 580.541 | 51.475 | R$ 145,53 |
Valor do investimento em 2065 | R$ 10.390.043 | R$ 804.418 | 64.394 | R$ 161,35 |
Renda mensal obtida a partir de 2065 | R$ 67.034,90 | – | – | – |
Prazo da renda mensal a partir de 2065 | Indeterminado (enquanto as ações forem mantidas) | – | – | – |
Fonte: Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research. Obs: a simulação considera a cotação da TAEE11 no fechamento de 16/03/23 (R$ 35,75) e tem como premissa que o papel vai valorizar no longo prazo acompanhando a inflação. Foi considerado um crescimento do lucro líquido de 3,5% por ano e um payout de 85%
Mesmo em um período menor, os dividendos das units da Taesa ainda superariam a renda mensal do Tesouro RendA+. Os R$ 100 mil aplicados no Tesouro RendA+ 2045, com a taxa de IPCA mais 6,45%, entregariam no vencimento R$ 3.789,97 por 20 anos, enquanto o mesmo montante aplicado em units da Taesa teriam dividendos mensais de R$ 7.578,66.
“O resultado demonstra que quanto maior o prazo, a tendência é de que a renda obtida com ações aumente exponencialmente”, aponta Tahara.