Aposentadoria com dividendos ou Tesouro RendA+? 8 ações com chance de superar retorno do título público

Além da rentabilidade, características específicas - como nível de risco e preservação do investimento principal - devem ser consideradas

Katherine Rivas

O Tesouro RendA+, mais novo título público lançado pelo Tesouro Direto, rapidamente atraiu a atenção dos investidores – e por duas razões.

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Em primeiro lugar, por ser focado em proporcionar renda para a aposentadoria. Enquanto os títulos de inflação tradicionais devolvem o valor investido de uma vez na data do vencimento, o RendA+ faz pagamentos mensais ao longo de 20 anos, em 240 parcelas.

Em segundo, pelas taxas de juros oferecidas. Nesta quinta-feira (16), a remuneração do Tesouro RendA+ variava entre 6,40% e 6,47% ao ano, mais a variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de acordo com o vencimento.

É uma estratégia simples de poupança de longo prazo – será a mais eficiente?

Ações que pagam dividendos têm se difundido nos últimos anos como uma alternativa para geração de renda passiva. Elas seriam capazes de superar o Tesouro RendA+ para fins de aposentadoria?

Daniel Nigri, fundador da Dica de Hoje Research, explica que isso seria possível caso o investidor escolhesse papéis capazes de pagar um dividend yield (taxa de retorno com dividendos) acima de 6,5% ao ano no longo prazo.

Nigri faz uma analogia com o Tesouro RendA+: enquanto os juros fixos pagos pelo título equivaleriam ao dividend yield de uma ação, a remuneração variável – representada pelo IPCA no caso do título público – equivaleria à valorização das ações. Se as ações subirem mais do que a inflação nos próximos anos, o investidor conseguiria um retorno semelhante ou superior ao da renda fixa.

E afinal, existem ações capazes de cumprir esse propósito? Não são muitas, mas, sim. Um exemplo é a transmissora Taesa (TAEE11), uma das únicas empresas que ofereceu retorno com dividendos acima de 6,5% ao ano em todos os últimos seis anos e cuja ação valorizou acima da inflação.

Como retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, analistas consultados pelo InfoMoney identificam atualmente oito companhias com fundamentos sólidos com potencial para oferecer rendimentos acima do Tesouro RendA+ no longo prazo.

Confira na tabela abaixo a lista de ações com dividend yield projetado acima de 6,50% ao ano:

Empresa (ticker) Dividend yield projetado para 2023 Quem recomenda
Klabin (KLBN4) 8% a 8,5% Dica de Hoje Research
Taesa (TAEE11) 10,5% a 11% Dica de Hoje Research
Ferbasa (FESA4) 9% Dica de Hoje Research
Caixa Seguridade (CXSE3) 10% a 10,5% Dica de Hoje Research
BB Seguridade (BBSE3) 9,5% a 10% Benndorf Research
Banco do Brasil (BBAS3) 12% Benndorf Research
Alupar (ALUP11) 9% Benndorf Research
Telefônica Brasil (VIVT3) 8% Benndorf Research

Renda extra na aposentadoria: ações ou título público?

Existem diferenças importantes entre os rendimentos proporcionados por ações ou pelo Tesouro RendA+ que devem ser consideradas por quem está investindo para ter uma renda extra na aposentadoria.

Luiz Barsi Neto, assessor do MMBarsi Investimentos, destaca que um dos principais benefícios do RendA+ é a correção pela inflação dos pagamentos nos 20 anos após o vencimento, o que preserva o poder de compra do investidor.

Contudo, o rendimento só será disponibilizado ao investidor após a data de conversão, quando começam os pagamentos mensais. Já no caso das ações, os dividendos são pagos desde o início do investimento, sempre que a companhia fizer uma distribuição. “Ele pode optar por reinvestir ou sacar os dividendos para complementar a renda”, diz Barsi.

O valor dos dividendos, por outro lado, depende do resultado da empresa e da sua política de distribuição de lucro, e pode variar ao longo dos anos – embora as boas pagadoras sejam conhecidas pela regularidade.

Barsi destaca que, no longo prazo, a rentabilidade das ações que pagam dividendos podem ser maior que a do Tesouro RendA+, mas elas embutem volatilidade e risco, que em certos momentos podem significar perdas.

No Tesouro RendA+, o principal risco enxergado pelo assessor é o Tesouro Nacional não cumprir com sua obrigações financeiras – uma possibilidade em geral considerada remota. Outro diz respeito ao resgate antes do vencimento, que embute taxas maiores, alíquotas superiores de Imposto de Renda e possibilidade de perda com a marcação a mercado.

Segundo o assessor, a liquidez das ações depende das condições de mercado – mas feita a venda na Bolsa, o depósito ocorre em até dois dias úteis. O RendA+, por sua vez, pode ser vendido pelo investidor depois de uma carência de 60 dias, mas se carregado até o vencimento, a taxa de custódia é zerada (para rendas mensais de até seis salários mínimos nos 20 anos seguintes).

Para Barsi, ambas são opções para diversificar a carteira e protegê-la da inflação. “São investimentos para todos os bolsos. Com R$ 30 é possível investir no RendA+, e com pouco mais de R$ 5, comprar ações”.

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As ações que podem superar o Tesouro RendA+: por que elas?

Entre as ações que especialistas acreditam ter potencial para distribuir dividendos acima dos juros do título público de aposentadoria, alguns nomes se destacam.

A Klabin, do setor de celulose e papel, por exemplo, tem apresentado resultados crescentes nos últimos anos. “O Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Klabin saiu de R$ 4,3 bilhões em dezembro de 2019 e cresceu ininterruptamente até R$ 7,9 bilhões em dezembro de 2022”, aponta Nigri.

Embora o resultado da companhia possa ser afetado pela queda no preço da celulose, Nigri vê com bons olhos o Projeto Puma 2, que opera parcialmente desde 2021 e deve ser totalmente implementado neste ano, fortalecendo o lucro da companhia. Ele calcula dividendos de R$ 0,29 a R$ 0,31 por ação em 2023, equivalente a um dividend yield de 8% a 8,5%.

Na Taesa, Nigri destaca a previsibilidade de receitas nos contratos, corrigidos pela inflação. O endividamento é um ponto de alerta, mas o analista argumenta que a empresa tem entregado projetos com menos investimento e prazo do que projetado, o que é positivo para a geração de caixa. Ele estima dividendos de R$ 3,80 a R$ 4 neste ano, equivalentes a uma taxa de 10,5% a 11%.

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A Ferbasa, produtora de ferro ligas e cromo, é outra preferência do analista. A companhia cresceu em 2022 devido ao aumento da demanda global, que elevou o preço das matérias-primas. Em 2023, o lucro deve sofrer ajustes, mas ainda pode chegar aos R$ 700 milhões, projeta. Nigri calcula dividendos de R$ 4,86 por FESA4, equivalente a um dividend yield de 9%.

A Caixa Seguridade é outra empresa com potencial, na visão de Nigri. Nos últimos três anos, distribuiu 90% do lucro em proventos. A seguradora atua na área habitacional, prestamista, residencial e de vida, além de previdência, consórcio e capitalização. O contrato de distribuição com a Caixa Econômica Federal vai até 2050. O analista calcula dividendos de R$ 0,85 por ação em 2023 (taxa de 10% a 10,5%).

Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research, por sua vez, prefere BB Seguridade. Ele aponta que a empresa vai se beneficiar dos juros elevados no Brasil e a maior penetração dos seguros no longo prazo. O payout da empresa foi de 80% nos últimos anos, em média, e tende a se manter. Ele espera um dividend yield de entre 9,5% e 10% em 2023.

No caso de Banco do Brasil, Tahara enxerga como positiva a sinalização da nova gestão de manter o payout em 40% e de ter apresentado um calendário com datas de pagamento de proventos antecipados e complementares em oito fluxos. “Isso reduz a possibilidade de o banco investir em projetos com retornos baixos que possam prejudicar o lucro e as distribuições”, avalia.

O analista, contudo, considera cedo para tirar conclusões sobre a gestão da CEO Tarciana Medeiros; sinais mais claros só estarão disponíveis no balanço do primeiro trimestre deste ano. Sua expectativa é de que o dividend yield seja de 12% neste ano.

Ainda entre as preferências de Tahara estão Alupar (ALUP11) e Telefônica Brasil (VIVT3), para as quais projeta dividend yield de 9% e 8% em 2023, respectivamente.

Assim como a Taesa, a Alupar é uma transmissora de energia, com receita e caixa resilientes, e contratos reajustados pela inflação. Tahara destaca que a companhia tem novos projetos em desenvolvimento que proporcionarão receita futura. A Alupar também está expandindo para área de geração, como forma de diversificação.

“Tenho preferência pela previsibilidade e histórico de execução da companhia”, diz. A Alupar paga dividendos trimestralmente, com payout mínimo de 50% do lucro.

Investindo na prática

Na prática, qual seria o resultado para o investidor que decidisse aplicar nas ações com potencial de dividendos superior ao do título público? E quanto ganharia investindo no Tesouro RendA+?

Uma simulação feita a pedido do InfoMoney por Niels Tahara, da Benndorf Research, indica que investir R$ 100 mil no Tesouro RendA+ 2065 – o mais longo disponível no Tesouro Direto atualmente – permitiria obter uma renda mensal bruta de cerca de R$ 25 mil durante os 20 anos de pagamentos após o vencimento.

Já aplicar os mesmos R$ 100 mil nas ações da Taesa (TAEE11), pelo mesmo prazo, sempre reinvestindo os dividendos recebidos ao longo do período de acumulação, proporcionaria uma renda mensal com proventos de cerca de R$ 67 mil a partir de 2065.

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O levantamento considerou as taxas oferecidas pelo Tesouro RendA+ 2065 na quinta-feira (16), de 6,41% ao ano, além da inflação projetada a partir do Relatório Focus, do Banco Central – de 5,80% em 2023, 4% em 2024, 3,60% em 2025 e 3,50% ao ano a partir de 2026.

No caso da Taesa, Tahara projetou uma taxa de crescimento anual equivalente à inflação projetada para o lucro líquido da empresa. O payout (percentual do lucro distribuído aos acionistas) foi estabelecido em 85%, em linha com o histórico de pagamento da companhia.

A cotação utilizada nos cálculos também foi a do fechamento de quinta (16), de R$ 35,75. O analista considerou que a ação valorizaria ano a ano, acompanhando a inflação – embora esclareça que, na prática, nem sempre isso acontece porque a renda variável pode tanto subir quanto cair. Na simulação, a valorização acumulada dos papéis seria de cerca de 350% entre 2023 e 2065.

O estudo considerou o reinvestimento dos dividendos em novas units (compostas por três ações, duas TAEE4 e uma ordinária TAEE3) da Taesa. Não foi considerada a dedução dos dividendos do preço da ação na “data-ex”.

Um detalhe importante: após o vencimento, a renda mensal do Tesouro RendA+ é composta tanto pelo investimento principal quanto pelos rendimentos acumulados. Já a distribuição de dividendos não altera o principal investido, que continua aplicado e valorizando enquanto o investidor recebe os proventos. Confira os detalhes da simulação nas tabelas abaixo:

Investindo no Tesouro RendA+ 2065:

Patrimônio  Juros acumulados no ano
Valor do principal investido em 2023 R$ 100.000  –
Valor do investimento em 2032 R$ 264.078 R$ 23.810
Valor do investimento em 2042 R$ 679.367 R$ 61.254
Valor do investimento em 2052 R$ 1.747.739 R$ 157.584
Valor do investimento em 2062 R$ 4.496.233 R$ 405.401
Valor do investimento em 2065 (vencimento) R$ 5.969.809 R$ 538.265
Renda mensal obtida a partir de 2065 R$ 24.874,21 (com principal mais rendimentos)
Prazo da renda mensal a partir de 2065 20 anos (240 parcelas)

Fonte: Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research. Obs: a simulação considera a taxa do Tesouro RendA+ 2065 no dia 16/03/23 (6,41% ao ano mais IPCA)

Investindo em units da Taesa (TAEE11)

Patrimônio  Dividendos recebidos no ano  Nº de units detidas em cada ano Preço da ação  em cada ano
Valor do principal investido em 2023 R$ 100.000 2797 R$ 35,75
Valor do investimento em 2032 R$ 284.351 R$ 22.036 5484 R$ 51,85
Valor do investimento em 2042 R$ 846.096 R$ 65.569 11.569 R$73,14
Valor do investimento em 2052 R$ 2.517.583 R$ 195.105 24.403 R$ 103,17
Valor do investimento em 2062 R$ 7.491.143 R$ 580.541 51.475 R$ 145,53
Valor do investimento em 2065 R$ 10.390.043 R$ 804.418 64.394 R$ 161,35
Renda mensal obtida a partir de 2065 R$ 67.034,90
Prazo da renda mensal a partir de 2065 Indeterminado (enquanto as ações forem mantidas)

Fonte: Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research. Obs: a simulação considera a cotação da TAEE11 no fechamento de 16/03/23 (R$ 35,75) e tem como premissa que o papel vai valorizar no longo prazo acompanhando a inflação. Foi considerado um crescimento do lucro líquido de 3,5% por ano e um payout de 85% 

Mesmo em um período menor, os dividendos das units da Taesa ainda superariam a renda mensal do Tesouro RendA+. Os R$ 100 mil aplicados no Tesouro RendA+ 2045, com a taxa de IPCA mais 6,45%, entregariam no vencimento R$ 3.789,97 por 20 anos, enquanto o mesmo montante aplicado em units da Taesa teriam dividendos mensais de R$ 7.578,66.

“O resultado demonstra que quanto maior o prazo, a tendência é de que a renda obtida com ações aumente exponencialmente”, aponta Tahara.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.