Crédito privado: bom demais para ignorar? Papéis isentos e do varejo estão no radar dos gestores

Retornos elevados fazem especialistas recomendarem posicionamento nesses ativos - mas janela está fechando, dizem

Leonardo Guimarães

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O momento do mercado de crédito privado no Brasil anima – e muito – os gestores de fundos de investimentos. Com taxas ainda altas – após os casos Americanas e Light – e risco controlado, especialistas deixaram claro que gostam das oportunidades do setor.

“Hoje temos títulos [debêntures] que pagam inflação mais 8% ao ano livre de Imposto de Renda, é algo fenomenal”, disse Marco Freire, sócio e CIO dos fundos líquidos na Kinea, em painel durante a Expert 2023. Para ele, não compensa deixar debêntures incentivadas de lado para investir na Bolsa. “Bolsa é para oportunidades pontuais”.

Freire fez questão de esclarecer que “crédito brasileiro não é para ter estruturalmente”, mas que o momento atual tem oportunidades boas demais para serem ignoradas. “O comum é ter spread de crédito alto com o país em crise, o que não é o caso hoje; os spreads estão altos após desancoragem com Lojas Americanas e tendência é que situação financeira das empresas melhore daqui para frente’, explica.

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A Ibiuna Investimentos destaca os títulos de varejistas, mostrando que, logo após os eventos Lojas Americanas e Light, houve uma abertura dos spreads, estabilização e um fechamento na sequência – que continua distante do mínimo histórico visto em 2019.

A queda, porém, não foi vista em todo o mercado. Vivian Lee, sócia e CIO da área de crédito da casa, afirma que títulos de dívida de varejistas seguiram com uma abertura dos spreads, diante do fechamento da janela para captação no mercado de capitais e para obter financiamento via mercado bancário.

Para exemplificar, a gestora cita o caso das debêntures do Pão de Açúcar, que estavam oferecendo retornos como o CDI acrescido de 16%, enquanto outros nomes entregavam taxas próximas de CDI mais 1,20%.

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A visão positiva para o varejo não é consensual. O InfoMoney publicou reportagem em agosto mostrando que a rentabilidade oferecida por debêntures de algumas varejistas chegou a valores próximos de CDI mais 30%, diante da visão de que o setor enfrenta uma situação mais delicada para rolagem de dívidas em meio a um cenário de juro bastante elevado.

Depois de um começo de ano turbulento para o mercado primário, Lee acredita que o cenário será mais benigno para as emissões primárias nos próximos meses e que a leva seguinte deve sair “em linha com a precificação do secundário”.

E não é só o varejo que oferece alta rentabilidade atualmente. As debêntures incentivadas, isentas de IR e que podem ser emitidas por setores como energia, saneamento básico, saúde e educação, também foram citadas pelos especialistas.

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Embora destaque que é preciso ter cuidado na hora de selecionar os ativos, o momento atual parece bastante favorável para alocações nesses ativos, segundo Leonardo Ono, gestor de renda fixa crédito privado da Legacy.

O executivo afirma que estudos feitos pela casa apontam que, historicamente, as taxas de títulos atrelados à inflação apresentam forte recuo nos anos em que o Banco Central inicia o ciclo de corte de juros. Nesse sentido, ele avalia que é possível que os investidores se deparem com retornos perto de IPCA mais 4% daqui para frente, em vez de IPCA mais 5%.

“É hora de pensar em se posicionar nesse ciclo e ter ativos de maior duration”, destaca o gestor da Legacy.

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Momento dos prefixados já passou

Para Marco Freire, o momento de comprar prefixados já passou. “Você compra prefixados quando acha que os juros vão cair mais do que o mercado precifica. Hoje, o risco-retorno não é favorável para esse tipo de investimento”, argumenta.

A expectativa do especialista para o dólar e commodities é altista, o que acende um sinal de alerta para a inflação e, consequentemente, para a Selic. “A inflação seguirá benigna até o início de 2024, mas, com dólar estabilizando e risco fiscal não resolvido, há risco de ficar acima do projetado”, diz Freire.

Olhando para o exterior, a percepção de risco acerca dos prefixados ainda pode aumentar. Isso porque os Estados Unidos ainda podem aumentar os juros antes do fim do ano, diminuindo a diferença para a taxa Selic. “Não dá para achar que os juros daqui ficarão abaixo de 9,25% com juros nos EUA a 5,5%. Nesse cenário, todo mundo pega o dinheiro daqui e vai para os Estados Unidos, fazendo dólar e inflação subir”, opina o sócio da Kinea.