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Enquanto agentes de mercado retiraram Petrobras das carteiras de dividendos, por conta do risco elevado de interferência política, a maioria dos analistas ainda flerta com Banco do Brasil (BBAS3), que também é considerada uma empresa sensível nesse aspecto.
A justificativa é que a governança é mais forte do que a de outras estatais, que a possível gestão de Tarciana Medeiros – indicada por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, para assumir a presidência do Banco do Brasil – ainda não deu sinais de alteração da política de dividendos e, na pior das hipóteses, os danos colaterais só seriam absorvidos pelo banco em 2024.
Mas afinal, o que esperar do Banco na nova gestão de Tarciana Medeiros? Vale a pena manter nas carteiras? Qual seria uma possível ação substituta?
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O InfoMoney consultou seis analistas e um gestor que têm ou já tiveram ações do Banco do Brasil nas carteiras. Para 2023, quatro recomendam compra. A taxa de retorno com dividendos (dividend yield) estimada para BBAS3 vai de 6,4% a 13,7%, ainda considerada atrativa.
Confira os detalhes abaixo:
Quem recomenda? | Recomendação | Dividend yield projetado para 2023 |
Ativa Investimentos | Manter | 13,7% |
VG Research | Compra | 10% |
Dica de Hoje Research | Compra | 10,8% ou R$ 3,77 por ação |
Monett | Vender | 6,4% |
Benndorf Research | Compra | 13% |
Suno Research | Compra | Entre 10% a 12% ou R$ 3,50 a R$ 4 por ação |
Fonte: Levantamento InfoMoney
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Vantagens e riscos da gestão de Tarciana Medeiros
Tarciana Medeiros será a primeira mulher no comando do Banco do Brasil em 214 anos de história. Ela trabalha na instituição financeira desde 2000 e há três anos atuava como gerente executiva.
A sua experiência como funcionária de carreira do banco foi uma grata surpresa para o mercado. “A longa e renomada experiência no banco (incluindo diversas áreas do segmento de banco de varejo e seguros) combinada com suas qualificações em tecnologia e análise de dados devem levar o banco a manter seus investimentos em inovação e tecnologia, bem como sustentar sua eficiência operacional”, destacaram os analistas da XP em relatório.
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Mas há ressalvas. Daniel Nigri, fundador e analista da Dica de Hoje Research, cita que Tarciana não passou por cargos de diretoria ou vice-presidência. Outro ponto destacado é que os nomes que ocuparão as vice-presidências de pelo menos oito áreas estratégicas ainda não foram anunciados.
À primeira vista, há incertezas, porque não houve declaração pública da nova administração ou do governo em relação a política de dividendos do banco, destaca Tiago Reis, fundador da Suno Research. “Eu não acredito que o payout [parcela do lucro líquido destinada a proventos] deve mudar dos 40%. O banco está capitalizado e não parece ter apetite de oferta quanto de demanda de crédito que exigiria reduzir os dividendos”, avalia.
Por outro lado, o que preocupa os analistas é a mudança nas áreas estratégicas. Haddad já sinalizou que a indicada está “absolutamente alinhada com o plano de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sabe dos desafios que estão colocados em relação ao sistema de crédito no Brasil”, o que pode incluir um projeto de renegociação de dívidas para famílias de baixa renda endividadas.
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O Banco do Brasil se beneficiou nos últimos anos por ter uma postura muito forte no agronegócio. Respondendo por 30% da carteira de crédito ampliada, ou R$ 300 bilhões, o segmento é um dos mais defensivos da economia. Mas também há espaço para pessoas físicas, governo e pequenas e médias empresas.
Nigri destaca que 2022 foi um bom ano para a carteira de agro. O segmento cresceu graças à alta no preço das commodities, e o BB foi dos dos que entregaram boa parte dos recursos de financiamento do Plano Safra. “Temos a indústria de Fiagros [fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais] que chegou a R$ 7 bilhões e os CRA [certificados de recebíveis de agronegócio] que ainda estão engatinhando. Mas o Banco do Brasil ainda deve continuar sendo muito importante para o setor”.
O problema pode aparecer em outras linhas de crédito. Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, explica que uma redução de taxas para clientes pessoa física, que apresentam uma inadimplência maior, poderia mexer qualitativamente no balanço da companhia.
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Essa seria uma forma de o governo ampliar a capacidade de consumo da população, explica Fernando Camargo Luiz, gestor da Trópico Investimentos. Segundo ele, no começo de 2012, o “governo declarou guerra aos bancos privados que não baixaram os juros e utilizou os bancos estatais para fornecer empréstimos a juros baixos”.
Arbetman também chama atenção para o crédito para grandes empresas e o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no segmento. “Com um BNDES mais ativo, é possível que exista uma competição no crédito para grandes empresas, um certo canibalismo”, diz. Com menos rentabilidade para o banco, os dividendos seriam afetados.
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Como o Banco o Brasil remunera seus acionistas?
Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research, explica que o Banco do Brasil estabelece no estatuto um dividendo mínimo obrigatório de 25% do lucro líquido em cada exercício. Contudo, nos últimos anos o payout ficou entre 30% e 40%.
A frequência de pagamento de dividendos do BB é trimestral. Mas o banco remunerou os investidores pelo menos oito vezes em 2022, com um total de R$ 3,59 por ação. “Não entendemos que o governo realizará mudanças na política de dividendos, uma vez que ele também recebe parte desta distribuição”, destaca Tahara.
O Governo Federal tem participação de 50% nas ações ordinárias do Banco do Brasil. Nigri calcula que o BB apresentou um lucro de R$ 27 bilhões nos últimos 12 meses, dos quais R$ 12 bilhões foram destinados a dividendos, e pelo menos R$ 6 bilhões foram para os cofres do governo. “Eles vão precisar desse dinheiro para continuar com as políticas sociais e expansionistas em 2023”, destaca. Já em um segundo momento, Nigri destaca que será necessário avaliar a carteira de crédito do banco e inadimplência.
Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, tem uma visão pessimista. “Não dá para afirmar que os dividendos vão cair em 2023, mas essa é a tendência”, comenta. Para ele, a nova perspectiva do banco é maximizar o retorno à sociedade, e não a geração de resultados.
Milton Rabelo, analista do setor financeiro da VG Research, acredita que o payout diminuirá em algum momento, diante da insatisfação do governo com o volume de proventos das estatais, mas destaca que os efeitos disso não são automáticos e deverão ser sentidos apenas a partir de 2024.
Governança à prova de balas?
Os analistas destacam, que diante de outras estatais, a governança corporativa do Banco do Brasil é mais sólida. Reis, da Suno, lembra que ela já foi testada até em governos petistas. “O Banco do Brasil foi bastante competitivo no governo Lula, operando em níveis de rentabilidade próximos aos de Itaú e Bradesco”, diz. “Já no governo Dilma, perdeu competitividade, mas não chegou a ter prejuízos como Petrobras e Eletrobras”.
Segundo Nigri, o artigo 5º do estatuto do Banco do Brasil menciona que a União pode utilizar o banco para financiamentos e execução de programas oficiais em favor do governo. No entanto, a remuneração do banco nunca pode ser inferior aos custos dos serviços prestados. “Isso deixa claro que o Banco do Brasil pode ser usado para programas do governo, mas o estatuto veda que o banco perca dinheiro com isso”, aponta, destacando que isso ameniza o risco do investimento.
Uma eventual redução payout para 25% do lucro não seria ilegal, embora o mercado não goste da ideia. Mas o Banco não pode ter prejuízos, mesmo que os empréstimos sejam realizados a custo de captação. “Tudo isso já está no preço das ações e mostra porque o Banco do Brasil sempre negociou a um preço sobre valor patrimonial abaixo de pares privados como Santander, Bradesco e Itaú”, destaca.
Rabelo reforça que a governança é relativamente blindada contra intervenções políticas, por possuir um planejamento estratégico de longo prazo seguido independentemente da presidência do banco. O analista destaca também que 50% do Conselho de Administração é formado por conselheiros independentes, que participam dos comitês de assessoramento. “Boa parte das decisões são tomadas de maneira colegiada e não apenas pelo presidente da instituição”.
O que esperar dos dividendos?
Quatro analistas consultados recomendam a compra de BBAS3 em estratégias de dividendos. É caso de Rabelo, da VG, que espera um dividend yield de 10% em 2023. “Apesar das sinalizações negativas do governo, continuamos a indicar compra. Porém, estamos observando cautelosamente como se dará a relação entre Lula III e as estatais”, diz.
Outro que recomenda compra é Tahara, da Benndorf, que projeta um dividend yield de 13%, com preço-alvo de R$ 59. “O banco negocia próximo das mínimas, em termos de preço sobre valor patrimonial (P/VP), mesmo com resultados históricos. Entendemos que o risco de governança é menor se comparado aos anos de 2014 e 2015”, aponta.
Reis, da Suno, também recomenda a compra de BBAS3 e acredita que o banco deve pagar entre R$ 3,50 a R$ 4 de dividendos por ação neste ano, um dividend yield de entre 10% e 12%. “Isso estaria entre os maiores dividendos da história do banco”.
Nigri, do Dica de Hoje, espera, em um cenário base, dividendos de R$ 3,77 por ação e um dividend yield de 10,8% para 2023, diante de um lucro de R$ 27 bilhões. Já no pior cenário, de queda do lucro para R$ 18,5 bilhões, os dividendos seriam de R$ 2,58 por ação ou 7,47% de dividend yield.
A Ativa é mais cautelosa e prefere manter a ação, para quem já tinha os papéis em carteira. Arbetman projeta um dividend yield de 13,7%, mas não recomenda a compra para quem não é acionista.
Quem decidiu ficar fora é a Monett. Paletta acredita que o banco deve entregar dividendos de 6,4% em 2023, mas recomenda venda. Ele aconselha aos investidores a troca pelo Itaú (ITUB4), com dividend yield projetado de 7%. “O Itaú apresentou uma taxa de retorno sobre patrimônio líquido [ROE] de 20%, bem acima da Selic e melhor que o Banco do Brasil ao longo do tempo”, diz.
Camargo da Trópico também acredita que é melhor vender Banco do Brasil, embora seu fundo focado em dividendos tenha uma posição pequena no ativo, reduzida após as eleições. “Taesa, Alupar, TIM e Vibra são companhias que preferimos”, diz.
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