Com renda fixa, investimentos dos brasileiros batem recorde de R$ 5 trilhões

CDB e LCA puxaram crescimento do volume financeiro investido; renda variável teve queda

Katherine Rivas

Puxados pelos aportes em renda fixa, os investimentos dos brasileiros alcançaram a marca de R$ 5 trilhões em 2022, maior crescimento da série histórica iniciada nos últimos dez anos. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

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O valor investido pelo segmento de varejo tradicional e varejo alta renda somou R$ 3,1 trilhões, enquanto o segmento private – que considera clientes que possuem no mínimo R$ 3 milhões investidos – alcançou R$ 1,9 trilhão.

Em relação ao número de contas dos investidores, o segmento de varejo como um todo reuniu 143,6 milhões de contas, enquanto o private tinha 153,1 mil contas e 68,3 mil grupos econômicos. O número de contas, contudo, não necessariamente reflete a quantidade de investidores, dado que um CPF pode ter mais de uma conta.

O volume financeiro aplicado por pessoas físicas teve um crescimento anual de 11,7%, com destaque para o varejo de alta renda que teve o maior salto em 2022, de 16,2% para R$ 1,42 trilhão. Observando apenas o varejo tradicional, o volume foi de R$ 1,719 trilhão, crescimento de 13,3%.

A renda fixa foi o ativo mais procurado pelos brasileiros, representando 60,3% dos investimentos. Em 2021, esta categoria representava apenas 56,8%.

Já a renda variável e os produtos híbridos (fundos multimercados, ETFs, fundos imobiliários e COE) apresentaram queda na comparação ano contra ano. A renda variável concentrava 19,5% do volume aplicado em 2021 e recuou para 17,1% em 2022. Já no caso dos produtos híbridos a variação foi de 17,8% para 16,1%.

Segundo Ademir Correa, presidente do Fórum de Distribuição da Associação, esse movimento está relacionado diretamente com o aumento da taxa de juros, que contribuiu com o salto da renda fixa. No caso da renda variável, Correa atribui o recuo a eventos como queda nas bolsas, o cenário econômico pós-pandemia e Guerra na Ucrânia.

A procura por ativos de previdência permaneceu estável no segmento private, com 3,7% do volume financeiro total.

CDB e LCA puxaram crescimento

Segundo Anbima, os CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) representaram o maior crescimento em volume investido.

O volume aplicado nos CDBs teve um salto de R$ 145,7 bilhões (25,5%), chegando a um volume de R$ 715,9 bilhões no final de 2022. Enquanto nas LCAs, o volume financeiro chegou a R$ 317,6 bilhões, salto de 76% em comparação com 2021.

Na contramão, as ações apresentaram queda do volume investido, de R$ 646,3 bilhões em 2021 para R$ 619 bilhões em 2022, recuo de 4,2%, puxado principalmente pelo segmento private, onde recuou 23,9%.

Os títulos públicos tiveram alta de 24,1%, chegando a um volume de R$ 135 bilhões. Já os CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), principal investimento dos Fiagros, fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais, apresentaram um crescimento de 38,1% em 2022, com um volume financeiro de R$ 74,2 bilhões. Segundo Correa, a evolução dos CRAs ainda é pequena se comparada com outros ativos, e ainda devem ser vistas poucas mudanças para o segmento em 2023.

Em distribuição, os ativos que mais cresceram foram os CRA, Debêntures Incentivadas, LCA, LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e LIG (Letra Imobiliária Garantida).

O boom dos isentos

Ademir Correa destaca que os produtos isentos de imposto de renda estão ganhando espaço nas carteiras dos investidores. Ativos como LCI e LCA foram os que mais cresceram nos últimos quatro anos, chegando a um volume financeiro de R$ 217,2 bilhões nos LCI e R$ 317,6 bilhões nos LCA.

Os CRI e CRA também tiveram o maior crescimento anual da série histórica.

Na LIG (Letra Imobiliária Garantida) o volume alcançou R$ 86,7 bilhões, apesar da falta de liquidez do investimento. “O investidor está começando a separar os seus investimentos de curto prazo dos de longo prazo, o que explica a procura pela LIG, com menor liquidez mas retorno maior olhando a curva no longo prazo”, avalia Correa.

Ele destaca que ainda existe uma escassez de produtos isentos no mercado, muitas vezes pela dificuldade de oferecer o papel por falta de lastro.

Fundos de investimento

Entre os fundos de investimento, os de renda fixa e imobiliários registraram alta no volume financeiro aplicado chegando a R$ 512,1 bilhões (+12,9%) e R$ 92,3 bilhões (+14,1%) respectivamente. Os fundos de ações também apresentaram um leve crescimento de 3,5%, com volume financeiro de R$ 222,4 bilhões. Correa reforça que, neste caso, a alta dos fundos de ações aconteceu por conta de um avanço na precificação dos ativos.

Na contramão, os fundos multimercados tiveram queda no volume aplicado, de 2,1% no patamar de R$ 672,2 bilhões e os ETFs (fundos de índice) também recuaram 16%, com um volume de R$ 5 bilhões.

Os fundos de renda fixa ampliaram a sua participação no quesito distribuição chegando a 33,2%. Outra categoria que ampliou a distribuição foram os fundos imobiliários, saltando de 5,5% a 6%.

Perspectivas para 2023

Segundo Ademir Correa, em 2023 os investidores brasileiros devem ter um comportamento semelhante ao visto em dezembro. Ele destaca que existe ainda a preocupação do investidor achar um porto seguro. “Quando olhamos a curva de juros, em um cenário de taxa de juros muito alta, vemos o investidor buscar um portfólio que tenha menos oscilação até que a gente tenha uma maior normalidade do mercado”, afirma.

Questionado sobre o impacto dos novos produtos como Fiagros, ETFs que pagam dividendos e Tesouro RendA+ na evolução dos investimentos em 2023, Correa apontou que produtos que trazem segurança, liquidez, capazes de acompanhar a evolução da taxa de juros e inflação, devem parecer mais atrativos para os investidores.

Número de certificações também evoluiu

Em relação aos profissionais de atendimento para o segmento de varejo, 112,6 mil tinham certificação CPA-10, CPA-20. Enquanto, 7,9 mil possuem certificação CEA.

Já olhando para o segmento private, 86% de 2,4 mil profissionais têm certificação CFP.

Correa destaca que houve uma redução de 2% nas certificações CPA-10, enquanto a certificação CPA-20 cresceu 15%. Correa reforça que a procura por CEA também aumentou nas instituições, mesmo nem sempre sendo exigida para as funções exercidas pelos profissionais. Se comparado com 2019, o número de certificações de investimentos saltou 238%.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.