CDB hoje: rentabilidade avança para 128% do CDI e prefixados oferecem até 14,15%

Papéis com a remuneração atrelada à inflação, por sua vez, registraram movimento misto com a alta nos juros de alguns títulos e queda em outros

Bruna Furlani

(Getty Images)

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As revisões para cima nas estimativas feitas por economistas para a Selic – a taxa básica de juros – neste ano pressionaram para que a rentabilidade oferecida por Certificados de Depósito Bancários (CDBs) também subisse nas últimas semanas.

Entre os dias 3 e 16 de janeiro, o maior retorno oferecido por títulos atrelados ao CDI (taxa de referência da renda fixa) chegou a 128% do CDI. Na quinzena anterior, entre 20 de dezembro e 2 de janeiro, a rentabilidade mais elevada bateu 105% do CDI.

O CDB com o maior retorno era oferecido pela Sinoserra Financeira, que não possui classificação de risco de crédito (rating), segundo as maiores agências. O vencimento do produto era em 36 meses.

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É isso o que mostra levantamento da Quantum Finance, empresa de soluções para o mercado financeiro, feito a pedido do InfoMoney. Todos os retornos apresentados são brutos, ou seja, ainda não houve desconto do Imposto de Renda (IR).

Ao longo dos últimos 15 dias, a alta nos retornos não ficou restrita a papéis com vencimento em 36 meses. Títulos com vencimento em 12 e 24 meses viram a rentabilidade máxima chegar a 121% do CDI e 123% do CDI, respectivamente, no período. Na quinzena anterior, as taxas máximas encontradas foram de 104,75% do CDI e de 101% do CDI, nessa ordem.

Embora seja inegável o aumento das taxas nos últimos 15 dias, é preciso ponderar que a pesquisa anterior – feita entre o fim do ano passado e o começo deste ano – contou com um número bem menor de ofertas de títulos atrelados ao CDI (dez no total), sendo que agora foram 209.

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Confira os retornos brutos oferecidos por CDBs indexados ao CDI na última quinzena: 

Retornos brutos de CDBs indexados ao CDI (de 03/01 a 16/01)

Prazo (meses) Indexador Mínimo Média Máximo Número de títulos Emissor da maior taxa
3 %DI 97,50% 101,83% 104,75%                               22 BANCO PAN
6 %DI 97,50% 98,94% 105,00%                               48 BANCO ABC BRASIL
12 %DI 90,00% 101,19% 121,00%                               40 SINOSERRA FINANCEIRA
24 %DI 98,00% 102,44% 123,00%                               50 SINOSERRA FINANCEIRA
36 %DI 100,00% 104,96% 128,00%                               49 SINOSERRA FINANCEIRA

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

O avanço nas taxas vai na esteira dos aumentos vistos nas estimativas feitas por economistas para a Selic deste ano e dos próximos anos, segundo o Relatório Focus, do Banco Central. Nesta semana, o documento trouxe que os economistas esperam que a taxa básica de juros encerre este ano em 12,50%, acima dos 11,75% previstos quatro semanas antes.

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Já para 2024, as expectativas giram em torno de uma Selic em 9,25% e de 8,25% em 2025, percentuais que estão acima dos 9,00% e 8,00% previstos um mês antes para os respectivos anos.

As revisões para cima têm como foco as últimas medidas anunciadas pela equipe econômica. Economistas e analistas do mercado financeiro consultados pelo InfoMoney receberam com um misto de esperança e decepção as medidas econômicas anunciadas na quinta-feira (13) passada  pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo cálculos da Pasta, as ações têm o potencial de entregar uma melhora de R$ 242,7 bilhões nas contas públicas em 2023.

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O conjunto de iniciativas foi dividido em quatro grandes grupos: 1) reestimativa de receitas (R$ 36,4 bilhões); 2) ações de receitas permanentes (R$ 83,28 bilhões); 3) ações de receitas extraordinárias (R$ 73 bilhões); e 4) redução de despesas (R$ 50 bilhões).

CDBs prefixados

Já no caso de títulos prefixados, algumas taxas máximas apresentaram recuo nos últimos 15 dias. É o caso dos retornos oferecidos por papéis com vencimento em três e em 24 meses, que passaram a entregar uma remuneração máxima de 13,79% e de 13,40%, contra 14,01% e 15,40% na quinzena anterior.

Não foi possível comparar os juros oferecidos por CDBs prefixados com prazo de seis e de 12 meses vistos agora com o levantamento anterior, porque não foram encontradas ofertas do tipo na última pesquisa.

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Confira os retornos brutos oferecidos por CDBs prefixados na última quinzena: 

Retornos brutos de CDBs prefixados (de 03/01 a 16/01)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 PREFIXADO 13,40% 13,53% 13,79%                               11 BANCO DAYCOVAL
6 PREFIXADO 13,30% 13,61% 14,15%                               28 BANCO PAN
12 PREFIXADO 13,30% 13,62% 14,08%                               16 BANCO BTG PACTUAL
24 PREFIXADO 13,40% 13,40% 13,40%                                 1 BANCO BTG PACTUAL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

CDBs atrelados à inflação

Papéis com a remuneração atrelada à inflação, por sua vez, registraram movimento misto nos últimos 15 dias. Títulos com vencimento em 36 meses apresentaram alta nas taxas reais, com o percentual saltando de 6,05% para 6,15%.

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Enquanto isso, papéis com prazo a partir de 24 meses viram o retorno real recuar de 6,45% para 6,25% na última quinzena.

Confira os retornos brutos oferecidos por CDBs indexados à inflação na última quinzena: 

Retornos brutos de CDBs indexados à inflação (de 03/01 a 16/01)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
24 IPCA 6,25% 6,25% 6,25%                                 1 BANCO ABC BRASIL
36 IPCA 5,35% 5,73% 6,15%                                 4 BANCO ABC BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

Fiscal no foco e piora das expectativas de inflação e Selic

Ainda que os juros reais oferecidos por alguns títulos atrelados à inflação tenham recuado nos últimos dias, as estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) têm piorado a cada semana.

De acordo com o Relatório Focus divulgado na última segunda-feira (16), agora economistas consultados pelo BC esperam que o IPCA encerre este ano em 5,39%, acima dos 5,17% vistos quatro semanas antes.

A piora também foi sentida nas projeções para a inflação em 2024, 2025 e 2026, que avançaram de 3,50%, 3,10% e 3,00%, nessa ordem, para 3,70%, 3,50% e 3,22%, respectivamente.

Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, aponta que a revisão para cima nas estimativas de inflação é reflexo da piora fiscal.

“A incerteza fiscal contamina a trajetória de inflação de curto prazo e as pessoas ficam menos convictas de que a inflação vai continuar baixa no médio prazo”, afirma o economista. Nos cálculos da casa, o IPCA deve encerrar este ano em 6,30%.

Após uma série de ruídos nas primeiras semanas do governo sobre temas que poderiam elevar o risco fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), agora tenta mostrar compromisso com a responsabilidade fiscal.

Ontem (17), durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, Haddad disse que enviará – até abril – a proposta de um novo arcabouço fiscal ao Congresso, que deverá substituir o teto de gastos.

O chefe da equipe econômica também afirmou que vai lutar pela aprovação da reforma tributária e que ela deve ser apresentada, de forma fatiada, em duas partes. A primeira, disse, deve envolver mudanças sobre o consumo e pode ser aprovada ainda no primeiro semestre. Já a segunda deve tratar sobre a renda e é esperada a aprovação no segundo semestre deste ano.

Costa vê o fatiamento da matéria como um ponto positivo. Segundo ele, isso poderia organizar melhor o debate durante a tramitação do projeto no Congresso. “Há certa resistência a mudanças e isso pode diminuir as resistências”, defende.

Outro ponto que tem ajudado a piorar as expectativas de inflação são as discussões em torno de mudanças nas metas de inflação, avalia o especialista.

O economista lembra que a maioria das cadeiras do Conselho Monetário Nacional (CMN), que é o responsável por estabelecer a meta que deverá ser seguida pelo Banco Central, é ocupada por integrantes ligados ao novo governo.

Com a dissolução do Ministério da Economia em vários ministérios no mandado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Conselho volta a ser ocupado por três integrantes: Haddad, ministro da Fazenda, Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.

Costa lembra que o debate em torno de mudanças na meta de inflação é bastante delicado. “A discussão de uma revisão da meta deve ser cuidadosa porque o efeito pode ser o inverso do desejado”, diz. “O mercado pode pensar que a inflação ficará mais alta por mais tempo”, alerta o profissional, ao dizer que isso pode fazer com que os juros fiquem mais altos por mais tempo, o que pode impactar o crescimento.

Apesar da piora nas projeções de inflação no último mês, o economista avalia que o nível de desancoragem das expectativas de inflação visto até agora não deve gerar uma reação do Banco Central.

Ainda que seja desconfortável ver os juros subindo, o especialista acredita que o BC deve manter a Selic estável em 13,75% neste ano até entender qual deve ser a política fiscal do novo governo.

Para ele, as informações que o mercado possui até agora só reforçam a ideia de que a expectativa de um corte de juros ainda neste ano deve perder força. “O BC vai seguir com uma postura mais dura e conservadora. Se a âncora fiscal for crível, ele pode voltar a discutir a possibilidade de flexibilizar a política monetária, em algum momento”, avalia o economista.