Bitcoin sobe 86% no melhor semestre em 4 anos, mas cripto chinesa valoriza 10 vezes mais no período

Parte do bom desempenho do BTC se deve a movimentos recentes de gigantes do mercado financeiro, como a BlackRock

Lucas Gabriel Marins

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O Bitcoin (BTC) teve o melhor desempenho semestral dos últimos quatros anos, apesar dos aumentos de juros do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) e da batalha regulatória da SEC – equivalente americana da Comissão de Valores Mobiliários – contra as duas principais exchanges de criptomoedas do setor, a Coinbase e a Binance.

O maior criptoativo do mercado valorizou 86% nos últimos seis meses, pulando de US$ 16.547 no último dia de 2022 para US$ 30.816 nesta sexta-feira (30). No mesmo período, o Ethereum (ETH), segundo maior token por capitalização, valorizou 57%, segundo o CoinMarketCap.

Parte do bom desempenho da criptomoeda, segundo José Gabriel Bernardes, sócio da Fuse Capital, se deve a movimentos recentes de gigantes financeiros no setor, como a BlackRock, que entrou com pedido de ETF (fundo de índice) spot de Bitcoin, e a EDX Markets, nova exchange apoiada por Citadel, Fidelity e Charles Schwab.

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“São players institucionais maduros e conhecidos, que sabem como o mercado de capitais funciona, que vão operar com infraestrutura possivelmente descentralizada, mas usando regras do mercado tradicional. Isso é muito relevante”, disse ele.

Além da BlackRock, outras dezenas de gestoras tentam lançar ETFs spot de Bitcoin. A SEC nunca aprovou um produto semelhante, com receio de uma possível manipulação do mercado. Isso pode mudar, no entanto, porque algumas empresas começaram a usar dispositivos que visam prevenir tal prática.

Outro ponto que serviu como catalisador para a alta do Bitcoin, segundo Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset, é a briga da SEC contra as altcoins (termo para identificar ativos digitais diferentes do BTC).

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Nos processos movidos contra a Binance e Coinbase neste mês, bem como em reuniões no início do ano, o regulador disse que algumas criptos – como Ether, Cardano (ADA) e Polygon (MATIC) – deveriam ser consideradas valores mobiliários.

“O Bitcoin se destaca como a única exceção livre desse risco regulatório, o que tem catalisado um crescente interesse por parte dos investidores institucionais e o aumento da sua capitalização de mercado”, falou Ludolf.

Uma questão técnica

Um catalisador técnico também vem empurrando a criptomoeda, segundo Rony Szuster, analista cripto da área de research da exchange Mercado Bitcoin. É o halving, um ajuste na blockchain do BTC que corta pela metade a oferta de criptomoedas.

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O próximo halving está programado para ocorrer em abril de 2024 e irá reduzir a emissão dos atuais 6,25 unidades de BTC pagas aos mineradores mais eficientes (trabalhadores virtuais que confirmam transações) para 3,125 BTC.

“Um ano ou um ano e meio após o halving nós costumamos ter uma Bitcoin season [período de alta de preços da criptomoeda], e isso pode estar aumentando a expectativa do mercado e ajudando na valorização do ativo”, disse ele.

Confira o desempenho das principais criptomoedas no semestre:

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Criptomoeda Preço Variação
Bitcoin (BTC) US$ 30.816 +86%
Ethereum (ETH) US$ 1.892 +57%
BNB Chain (BNB) US$ 240 -2%
XRP (XRP) US$ 0,4807 +42%
Cardano (ADA) US$ 0,2957 +19%

Maiores altas do semestre

Algumas criptomoedas tiveram desempenho muito superior ao Bitcoin. A liderança ficou com o CFX, token nativo da blockchain chinesa Conflux, uma plataforma lançada em 2018 direcionada para aplicativos descentralizados (Dapps, na sigla em inglês). No últimos seis meses, o CFX, hoje negociado a US$ 0,21, deu um salto de 856%.

Parte da alta da moeda digital se deve à boa relação do projeto cripto com o governo do país. No início deste ano, a Conflux foi procurada pelas autoridades da nação asiática para construir chips de celular baseados em blockchain.

“Como uma das únicas criptomoedas reguladas na China, a CFX vem conquistando espaço junto a instituições com foco no mercado asiático. As blockchains de primeira camada (nativas), como a Conflux, também possuem valuation alto devido à possibilidade de construção de vários protocolos em cima delas, aliado a preços inicialmente baixos, e isso culminou na significativa valorização do token em 2023″, disse Ludolf, QR Asset.

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A segunda criptomoeda que mais valorizou no semestre foi a Injective (INJ), projetada especificamente para protocolos de finanças descentralizadas (DeFi). De janeiro a junho deste ano, o INJ pulou de US$ 1,27 para US$ 7,99 – valorização de 529%.

“A faísca que deu início a alta da INJ no semestre foi o lançamento do seu fundo de ecossistema que teve investimento de US$ 150 milhões para impulsionar projetos DeFi e protocolos que visam promover uma maior infraestrutura de interoperabilidade na rede, que utiliza da tecnologia Cosmos SDK [espécie de kit de desenvolvimento de código aberto que permite a criação de blockchains]”, disse Szuster, do Mercado Bitcoin.

Outro acontecimento que deu continuidade à alta, segundo Szuster, foi a integração da Injective com a Wormhole (uma solução que funciona como ponte de conexão) e o lançamento de sua testnet (rede de testes) que integra aplicativos do ecossistema da Solana (SOL) no ecossistema da Cosmos (ATOM), o que permite uma maior interoperabilidade entre os dois protocolos.

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A medalha de bronze ficou com o Render Token (RNDR), criptomoeda encarada como “Nvidia descentralizada”, que foi criada para conectar usuários que têm poder computacional ocioso a pessoas ou empresas que desejam executar trabalhos de renderização (transformar vídeos, fotos e outros materiais em produtos digitais). A alta no semestre foi de 410%.

“A (rede) Render permite a renderização em tempo real de imagens criadas por inteligência artificial, através de uma estrutura descentralizada de GPUs. Este recurso inovador impulsionou um extraordinário crescimento nos indicadores de tração do projeto e despertou o interesse de investidores ávidos por participar desta onda de IA”, falou Ludolf, da QR Asset

As criptomoedas com as maiores altas do semestre:

Criptomoeda Preço Variação
Conflux (CFX) US$ 0,2111 +856%
Injective (INJ) US$ 7,99 +529%
Render Token (RNDR) US$ 2,06 +410%
Stacks (STX) US$ 0,7041 +230%
Bitcoin Cash (BCH) US$ 307,38 +215%

Maiores quedas do semestre

Algumas criptomoedas fecharam o semestre no vermelho. A lanterna ficou com a PancakeSwap (CAKE), uma exchange descentralizada (DEX) construída na blockchain da Binance. Entre janeiro e junho, o CAKE perdeu 51% de seu valor.

De acordo com Bernardes, da Fuse Capital, a queda do projeto tem relação com a situação da Binance mundo afora. A corretora virou alvo do regulador dos EUA por violar a lei de valores mobiliários e também responde a processos em outros países, como no Brasil.

“Obviamente a Binance continua super forte, mas a gente vê que a exchange está cada vez mais perdendo fôlego e moral nos EUA, Austrália, Brasil e outros locais. Vai ter um olhar regulatório sobre a Binance em todas as regiões que ela opera”, disse.

Na sequência aparece o Huobi Token (HT), o criptoativo nativo da exchange Huobi Global. No primeiro semestre deste ano, o HT desvalorizou 47%. Ludolf, da QR Asset, acredita que a queda está relacionada com a falência da exchange FTX, que gerou desconfiança dos investidores em relação a corretoras centralizadas.

“O evento (colapso da FTX) provocou retiradas massivas de exchanges como a Huobi por causa do temos que a crise se repetisse em um efeito dominó. Esse episódio resultou em quedas significativas do token e levou a corretora a demitir 20% de seus funcionários.”

Por fim, o terceiro ativo digital com pior desempenho no período foi a ApeCoin (APE), criptomoeda ligada à famosa coleção de tokens não fungíveis (NFTs) Bored Ape Yacht Club (BAYC). A queda foi de 42%.

“O principal motivo da queda de APE no semestre acaba sendo um reflexo da desvalorização dos NFTs do ecossistema da Yuga Labs (empresa), no caso os projetos Bored Ape Yatch Club e Mutant Ape Yatch Club, que vêm perdendo valor devido a um despejo de alguns grandes colecionadores em busca de liquidez.”

As criptomoedas com as maiores baixas do semestre:

Criptomoeda Preço Variação
Pancakeswap (CAKE) US$ 1,55 -51%
Huobi Token (STX) US$ 2,71 -47%
ApeCoin (APE) US$ 2,31 -42%
Terra Classic (LUNC) US$ 0,000087 -41%
Toncoin (TON) US$ 1,35 -40%

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney