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Até Warren Buffett se rendeu: bolsa do Japão sobe quase 30% no ano e é aposta para 2º semestre; por quê?

A combinação de uma reforma estrutural no mercado de ações com uma economia de juros baixos impulsionou a Bolsa para sua máxima em décadas

Monique Lima

Japão (Colton Jones/Unsplash)

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O principal índice de ações do Japão, o Nikkei 225, atingiu sua máxima de três décadas neste ano, aos 33 mil pontos. O indicador subiu 27,2% entre janeiro e junho – e os analistas internacionais veem espaço para mais crescimento no segundo semestre.

Diferentemente da maioria dos países ao redor do mundo, o Japão manteve seus juros próximos de zero em meio ao avanço inflacionário local e internacional. Do outro lado do mundo, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) começou uma das campanhas mais intensas de aumento de taxas dos últimos anos.

A combinação desses dois fatores levou a moeda nacional do Japão – o iene – a uma derrocada frente ao dólar. Em 2023, até junho, o iene perdeu 9,5% do valor, desvalorização que se soma às perdas de quase 13% do ano anterior.

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“A taxa de juros negativa do Banco do Japão em relação a outros bancos centrais internacionais é um paradoxo que cria oportunidades”, diz Fria Mar, embaixadora da corretora internacional OctaFX no México. “Esse desequilíbrio gera um interesse maior em investimentos relacionados à economia japonesa e à sua moeda nacional”.

Multinacionais japonesas tiveram ganhos bilionários no ano passado com o iene desvalorizado. A Toyota viu o seu lucro anual aumentar em 1,3 trilhão de ienes (US$ 9,1 bilhões), segundo a Bloomberg. A Sony teve mais ganhos com suas vendas, em cerca de 1,2 trilhão de ienes.

Em relatório, analistas do JP Morgan escrevem que “o Japão é o único mercado desenvolvido com expectativa de lucros corporativos maiores em 2023”. A análise tem base em três fundamentos:

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A expectativa do JP Morgan com essa conjuntura econômica é de que o Nikkei 225 termine o ano entre 35 mil pontos e 36 mil pontos, uma potencial valorização de 6% a 9%.

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De deflação para inflação

Ruy Alves, gestor de macro global da Kinea, afirma que o Japão tem uma dinâmica de política econômica muito diferente dos países ocidentais. “Desde os anos 2000, os japoneses viveram em uma economia deflacionária, com preços em queda ano a ano. Eles não se preocupam com inflação da mesma forma que os outros países, por isso essa manutenção de juros baixos”, diz Alves.

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Em maio, a inflação ao consumidor do país era de 3,2% no acumulado de 12 meses – acima da meta do Banco do Japão de 2%. O pico foi verificado em janeiro, quando o aumento de preços chegou a 4,3%.

Fonte: MIC (Ministério da Administração Interna e Comunicações)/ Japão

Entretanto, a dinâmica inflacionária em um país historicamente deflacionário é vista com bons olhos pelos bancos internacionais. Segundo o JP Morgan, essa transição “provavelmente aumentará a taxa de repasse de preços, que tem sido estruturalmente baixa para as empresas japonesas”. Este, inclusive, é um dos impulsionadores das ações em 2023.

“Se o Japão puder fazer a transição com sucesso para uma economia inflacionária, acreditamos que o desconto de avaliação aplicado às ações na última década poderia diminuir e levar os múltiplos de preço/lucro (P/L) à mediana histórica de 15x – 16x (valor justo de médio prazo)”, diz o relatório.

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A corretora OctaFX destaca que a atividade econômica no país está forte e espera um crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) ao fim de 2023. “A demanda do consumidor tem sido particularmente forte este ano. As vendas no varejo atingiram um pico anual de 7,2% em março e os gastos de capital das empresas atingiram dois dígitos no primeiro trimestre (11%).”

As projeções de inflação no Japão pela OctaFX são de 2,3%, em média, nos próximos três anos. O Bank of America espera que a economia do país permaneça sólida nos próximos dois anos e calcula PIB de 1,3% em 2023 e 1,2% em 2024.

Até o momento, o Banco do Japão manteve a sua política de juros negativos (-0,1%) e o presidente Kazuo Ueda afirmou ao parlamento em junho que pretende manter assim. Entretanto, Alves, gestor da Kinea, acredita que em algum momento o banco central irá mudar esse sistema. “Se os juros no ocidente continuarem subindo, eles ficarão mais pressionados. Se a inflação atingir o setor de serviços também será uma bandeira vermelha”, diz.

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Reformas na Bolsa

Além da conjuntura econômica, a Bolsa do Japão também fez mudanças estruturais nos últimos meses que afetaram a atratividade das empresas listadas. A principal delas é uma medida que exige que as empresas paguem dividendos aos seus acionistas ou criem programas de recompra de ações para valorizar o preço dos papéis.

O prazo para ajuste às novas regras se estende até 2026. As empresas que não se adequarem serão deslistadas da bolsa de valores.

Para o gestor da Kinea, as mudanças priorizam o retorno dos investimentos principalmente para os acionistas minoritários, o que também impacta na política de governança corporativa, o que é positivo. “Isso melhora a estrutura do mercado de capitais e a visão dos investidores”, diz.

A notícia de que a empresa de Warren Buffett, Berkshire Hathaway (BRK.B), aumentou a sua posição em empresas japonesas chamou a atenção do mercado financeiro neste primeiro semestre. Em comunicado ao mercado, a companhia afirmou que o aumento de participação seria para uma média de 8,5%, em cinco empresas japonesas: Itochu, Marubeni, Mitsubishi, Mitsui e Sumitomo.

O movimento de Buffett fez com que muitos investidores estrangeiros se aglomerassem no Japão. Dados da plataforma Trading Economics mostraram que os investimentos em ações japonesas por estrangeiros somaram US$ 68,40 bilhões entre a primeira semana de abril e metade de junho.

O próprio investidor bilionário viajou até o Japão para se reunir com executivos das companhias investidas. As empresas, que têm negócios variados, desde comércio de gás até o cultivo de salmão, tiveram aumento nos lucros no último ano fiscal devido aos altos preços das commodities e ao iene fraco.

Como investir no Japão

“Diversificação global é sempre interessante quando se pensa em alocação para o longo prazo. Especulação no Japão, para o curto prazo, não é algo que eu recomendaria. É uma bolsa que negocia enquanto você está dormindo”, diz Ruy Alves, da Kinea.

A recomendação do gestor é investir em ETFs internacionais que tenham exposição ao Japão. Um primeiro exemplo é o fundo da BlackRock iShares MSCI Japan ETF (EWJ). O ETF está disponível para investimento na Bolsa de Nova York (NYSE), com uma taxa de administração de 0,50%. No ano, o retorno acumulado é 13,78%.

Outra opção é o Vanguard FTSE Pacific ETF (VPL). O fundo tem exposição a ações da Ásia, com 60% da sua alocação no Japão. Ele está listado na NYSE e tem uma taxa de 0,08%. No ano, o retorno acumulado é de 8,52%.

Também há opções para quem prefere uma exposição direta a empresas. O Credit Suisse revisou suas principais escolhas de 2023 no Japão. O banco suíço selecionou cinco empresas com boas teses de investimento. São elas: